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Crítica - Filmes: Era Uma Vez em Hollywood




Bons e Velhos Tempos que não voltam...



Por Alexandre César 


Tarantino e a sua agridoce fábula de História Alternativa


-- ATENÇÃO. CONTÉM SPOILLERS!!! --



Uma fábula de história alternativa, num universo 
similar ao nosso, mas paralelo....


Era uma vez um nerd aficionado em cinema apaixonado por filmes trash, blaxploiation, western spagheti, kung-fu e muita nouvelle vague entre outras vertentes as mais conflitantes possíveis que, aproveitando o emprego de balconista na Video Archives, locadora de vídeo na Manhattan Beach dos anos 1980 procurou ver tudo o que podia por as mãos do catálogo da loja, sendo capaz de em pouquíssimo tempo indicar aos clientes os filmes que por ventura estivessem procurando. Paralelo a isso, ia escrevendo na sua velha máquina de escrever roteiros, reciclando, reinventando e cruzando as referências do que via no vídeo da locadora e nas telas dos cineclubes e grindhouses* que frequentava na periferia da cidade. Casualmente, de tanto conversar sobre filmes, ficou amigo de um colega da locadora, que viria a se tornar importante produtor, e colaborador. Ao longo dos anos tentou a carreira de ator e estudou teatro na  James Best Theatre Company e depois na Allen Garfield's Actors' Shelter , mas continuou escrevendo até, conseguir vender dois roteiros e chamou logo a atenção dos profissionais do meio e graças a indicação da esposa de um ator consagrado, que o conhecia e, a seus roteiros, ajudou-o a levantar fundos, para se aventurar num filme de baixo orçamento que lhe rendeu fama, reconhecimento e um lugar único na história do cinema. O colega da locadora era o futuro produtor e roteirista Roger Avery, os roteiros vendidos eram os de Amor à Queima-Roupa (1993) de Tony Scott e Assassinos Por Natureza (1994) de Oliver Stone, o ator, era Harvey Keitel, o filme era Cães de Aluguel (1992), e o nerd promissor era Quentin Tarantino.


Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) já foi um astro, mas agora só faz participações 
especiais em seriados, geralmente como o vilão, que o herói acaba matando...


Agora, com uma carreira promissora, tendo vários prêmios conquistados em inúmeros festivais, sendo disputado por vários astros, aliado a um bom retorno de bilheteria, o que lhe permite vôos ousados, sempre reinventando o imaginário pop de acordo com a sua visão única, agora ele nos entrega a sua elegia, ao cinema dos tempos de sua infância e juventude, o fim da Era de Ouro do cinema norte-americano, no final da década de 1960, quando o sistema de grandes estúdios declinou, dando o lugar aos conglomerados corporativos, o auge da contracultura, do flower power, e da Guerra do Vietnã, quando os EUA, para sua surpresa e angústia, perceberam que eram humanos, e falíveis...


Ao longo do filme, sempre cruzamos com algum cinema passando algum
 filme emblemático do período, seja de qual gênero...


Era Uma Vez...em Hollywood (2019) é a nova empreitada de Tarantino, com a sua marca ao mesmo tempo irônica, satírica, poética e qualquer-coisa, tão pessoal como só ele costuma saber fazer, carregando toneladas de referências a filmes, músicas e artistas que lhe são caros. Eu percebi muita coisa, mas foi só um fração do volume total! Acreditem é uma avalanche, embora o pescar ou não todas as citações e easter-eggs não prejudica a fruição do filme como um todo, mas que enriquece, enriquece...

Clif Booth (Brad Pitt), o dublê e amigo de Dalton, encara qualquer 
estrela, como Bruce Lee (Mike Moh)...

O filme acompanha a dupla dinâmica Rick Dalton (Leonardo DiCaprio, ótimo) ator decadente, que agora faz participações em seriados, e Cliff Booth (Brad Pitt numa atuação precisa e na medida) dublê de Dalton (e melhor amigo) que dirige seu o carro após um acidente que o traumatizou.  

Sharn Tate (Margot Robbie) a "Uber Musa" cuja presença luminosa reflete 
uma visão colorida e otimista do cinema e do mundo...

A dupla reflete o quanto as relações de amizade são simbióticas e complementares, pois Dalton, que nos anos 50 foi uma estrela, na última década foi vendo a sua carreira declinar (ele é Inspirado em atores como Tab Hunter, Edd Byrnes e até, Burt Reynolds) tendo como seu fiel escudeiro o amigo dublê, que é  “bonito demais para ser dublê”, e talentoso o suficiente para encarar lendas sem se intimidar, com um passado a lá Robert Wagner (que teria sido o responsável pela morte de sua mulher Natalie Wood, mas nunca foi provado), e que em agradecimento à guarida do amigo, sempre lhe levanta o astral. Booth é inspirado em Tom Laughlin, o Billy Jack (1971) outra figura deixada de lado pelo show bussines.

Roubada: Booth cruza o caminho com a bela Pussycat (Margaret Qualley) 
que faz parte da "Família" de Charles Mason...

A casa luxuosa de Dalton fica ao lado da de um casal icônico: Roman Polanski (Rafal Zawierucha) diretor de O Bebê de Rosemary (1966) e Sharon Tate (Margot Robbie, luminosa como a diva que está se tornando) atriz em ascensão, revelada em O Vale das Bonecas (1967) de Mark Robson e A Dança dos Vampiros  (1968) de Polanski, quando se casaram.  


Booth, é bonito e talentoso demais para ser dublê, mas está queimado no meio por 
ter "matado a sua mulher", similar ao caso de Robert Wagner, que teria 
matado Natalie Wood. Talvez Christopher Walken saiba a verdade...
No nosso mundo, ela e os amigos Jay Sebring (Emile Hirsch de Na Natureza Selvagem e Speed Racer) esteticista e cabeleireiro, e o casal Voytek Frykowski (Costa Ronin) Abigail Folger (Samantha Robinson de The Love Witch) foram mortos (ela grávida) pelos membros do culto de Charles Mason (Damon Herriman, que fez Mason na série Caçador de Mentes) que causou uma onda de terror na época, e servindo para reforçar o preconceito da sociedade americana contra os hippies e seu modo de vida (coisa que permeia o filme ao longo de suas duas horas e quarenta e um minutos de duração), e cujo medo de invasão domiciliar serviu de inspiração para Aniversário Macabro (1972) de Wes Craven.

O produtor Marvin Schwarz (Al Pacino) aconselha Dalton a deixar os pilotos de séries
 e tentar a sorte na Itália, reinventando-se, antes que a sua carreira imploda...
Ao longo do filme acompanhamos o cotidiano de Booth levando Dalton aos estúdios, onde faz participações especiais em seriados como F.B.I., Combate, entre vários outros, até que num encontro com o produtor Marvin Schwarz (Al Pacino, divertido) lhe aconselha que ao invés de ir decaindo de participação especial em participação especial (“em qual próxima série você vai apanhar do astro principal” 
pergunta ele - Batman!? SOC! PUNCH! ZUMP!!!” ) sugere a Dalton reinventar-se, indo à Itália trabalhar com o “segundo melhor diretor de western spagheti” Sergio Corbutti, coisa que mais tarde Dalton fará tal qual no nosso universo, um certo ator televisivo chamado Clint Eastwood fêz com Sergio Leone, o melhor diretor de western spagheti!!!

Os cinemas "grindhouse", de filmes pornô e de formatos diferentes de projeção tal qual 
o "Cinerama" e o "3ª Dimensão" ilustram a paisagem da Los Angeles sessentista, 
com seus outdoors em neons
Paralelo à isto Booth faz contato com a bela Pussycat (Margaret Qualley de The Leftovers) e lhe dá carona para um rancho que no passado serviu de locação para inúmeros westerns clássicos, pertencente a George Spahn (Bruce Dern) um conhecido, e constata que o rancho à a base de uma comunidade estranha ( a "Família” de Charles Mason), saindo logo da “roubada” sem saber do risco que corria... além de Pussycat, como integrantes do culto temos Gypsy/ Catherine Share (Lena Dunham), Flower Child (Maya Hawke de Stranger Things) e Squeaky Fromme (Dakota Fanning) que mais tarde tentaria matar o presidente Gerald Ford em 1975 (condenada a prisão perpétua, foi solta em 2009) e outros membros reponsáveis pelo massacre que ficaria conhecido como Helter Skelter (título de uma canção dos Beatles). São eles Tex (Austin Butler), Susan Atkins (Mikey Madison) e Patricia Krenwinkel/ Katie (Madisen Beaty) que ao final cruzam os caminhos de Booth e Dalton seis meses depois, na fatídica noite com resultados inusitados...

Charles Mason (Damon Herriman) a presença do mal que paira 
sobre a ensolarada paisagem californiana...


A avalanche de personagens que vão cruzando os caminhos da dupla de protagonistas, vai revelando o dilema de Dalton de ainda se manter no mapa das estrelas incluem ao filmar uma participação no piloto do seriado Lancer, e relaciona-se com James Stacy (Timothy Oliphant de Justified), Wayne Maunder (o falecido Luke Perry de Riverdalle) e Trudi (Julia Butters) a atriz-mirim, inspirada em Jodie Foster, dirigido por Sam Wanamaker** (Nicholas Hammond o Homem-Aranha da TV dos anos 70), diretor de  Simbad Contra o Olho do Tigre (1977) entre outros, que o escalou como vilão por saber que ele “é mais do que apenas mais um cowboy!”  

Numa festa na Mansão Playboy Sharon interage com o "Quem - é - Quem"
 da indústria cinematográfica do período...

Booth pelo seu lado amarga as lembranças de seu passado, que o marcaram profissionalmente como quando Randy (Kurt Russel) coordenador de dublês, o demitiu após a sua luta com Bruce Lee (Mike Moh) o astro de O Besouro Verde

 e treinador de Tate em  A Arma Secreta Contra Mat Helm, filme que é referendado diretamente quando a própria Tate vai assistir o filme num grande momento metalinguístico, pois tanto ela quanto Dalton, cada um do seu jeito reflete a questão do como um ator se vê e como quer ser visto e, como o vêem de fato as pessoas de fora. 


Habilidade: Dalton, ao longo de sua carreira, se revela um bom 
usuário do lança-chamas...


Sharon Tate aqui aqui é a encarnação do sonho, de uma visão de mundo mais colorida, viva e até mesmo inocente, como na cena da Festa na Mansão Playboy onde entre outros ícones cruza com Michelle Phillips (Rebecca Rittenhouse), vocalista do grupo The Mamas & The Papas
 e o astro Steve McQueen (Damian Lewis de Homeland) que reflete sobre o seu modelo de masculinidade, que já começava a ceder espaço para um modelo menos viril, agressivo para um mais cooperativo. Temos ainda pontas de Michael Madsen (de Cães de Aluguel), James Remar, Brenda Vaccaro entre outros. Ufa!!!

No set de "Lancer", sentado, de camisa branca, temos Sam Wanamaker (Nicholas Hammond)
 dirigindo entre outros, James Stacy (Timothy Oliphant, de camisa vermelha)
 e Wayne Maunder (Luke Perry, de chapéu e bengala em sua última atuação)...)
Ao final, quando Dalton e Booth retornam da Itália, tendo o astro casado com a a italiana Francesca Capucci (Lorenza Izzo) fica-de patente a mudança dos personagens em seus rumos e, nos seus visuais, reflexo da moda nos trajes e penteados e ao cruzarem com os membros da “Família Mason” Tarantino se permite voltar a ser o Tarantino hiperbólico que conhecemos mais popularmente com sua estética ousada, plena de violência e humor, fazendo uma ruptura curiosa.
A seleção musical inclui hits da época como Straight Shooter hit de 1966 do grupo The Mamas & The Papas, Brother Love’s Girl, You'll Be a Woman Soon de Neil Diamond entre muitas outras, de músicas cantadas a temas de seriados, desenhos animados, e vinhetas de rádio, aumentando a imersão na atmosfera desse período, e como Tarantino a interpreta.

A filha de Bruce Lee protestou pela forma que ele foi retratado nas telas
 como algém marrento e arrogante...
Quanto à reconstituição de época, o filme é impecável, o desenho de produção de Barbara Ling, a direção de arte John Dexter e Jann K. Engel e a decoração de cenários de Nancy Haigh recriam a Los Angeles da virada da década de 1960 para 70 de maneira sóbria e impactante ao mesmo tempo, em que cada filme em cartaz, remete a algum gênero ou referência Pop do imaginário tarantinesco, bem como aos próprios formatos de tela e projeção experimentados ao longo da história do cinema, bem como a massiva presença da televisão, presente nos seriados anunciados nos ônibus, bancos de ponto, revistas nas mesas, posters, etc...Tal trabalho se completa junto com os figurinos de Arianne Phillips, fora o trabalho da equipe de maquiagem, cabelos e acessórios criam um mosaico fiel e fabulesco dessa Hollywood da visão do diretor, cuja montagem de Fred Raskin, recria em muitas cenas o ritmo da edição dos filmes e seriados da época, cristalizada pela fotografia em 35 mm de Robert Richardson que resgata a granulação fotográfica do período, fora a inserção de Di Caprio em filmes clássicos como Fugindo do Inferno (1956) de John Sturges , cujo papel ele teria conseguido (havia vencido a concorrência dos “3 Georges” *** ) se McQueen não voltasse atrás na decisão ou, dos western spagheti de Sergio Corbutti e similares. O cheiro de Oscar é forte...

Festa estranha com gente esquisita: Booth não imagina do
 que os "Hippies" de Mason são capazes.

Tal qual em Bastardos Inglórios (2009) que reescreve a Segunda Guerra Mundial,Era Uma Vez...em Hollywood

  é no fundo uma fábula do gênero história alternativa, enfatizando o universo tarantinesco, pois se no filme citado Hitler e seus asseclas foi logo detonado (e deduzimos que o conflito tenha terminado antes de deixar um saldo de mais de 60 milhões de mortos...) aqui percebemos ao final que ele quer nos deixar, de forma difusa, com a esperança de que nesta realidade, a nossa doce Sharon, agora grávida e seus amigos, não cruzaram no caminho de Charles Mason e sua  
 “família”...

Recriação e o original: Acima, a cena com Dalton, abaixo
 as cenas do episódio em que Tarantino se baseia...


Sonhar é preciso, estejamos ou não chapados!

Os dois amigos curtem ver as participações de Dalton
 nos seriados, e como ele morre ou apanha neles...

*: Cinemas decadentes que passavam filmes em programa duplo, tipo um filme de kung-fu com um western spagheti ou com um filme épico, de terror, de blacksploiation ou qualquer tipo de filme de baixo orçamento.

Ao final, Dalton se insere no universo de 
anti-heróis do "Western Spagheti"...
**: Wanamaker, paralelo a sua carreira no cinema, teatro e TV ainda chefiou por quase vinte anos um projeto de levantamento de fundos para a reconstrução do Globe Theatre em Londres, onde William Shakespeare apresentou as suas peças originalmente.  


Melhor seria se ele trabalhasse com Sergio Leone...

 *** : George Maharis (1928) mais conhecido pelo seriado Rota 66, e cuja carreira desandou ao revelar-se gay. Trabalhou em filmes, séries e shows, estando hoje aposentado.
George Chakiris (1934) mais conhecido por Amor Sublime Amor (1961) de Robert Wise (Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante) tendo participado de vários filmes e séries, além de se apresentar em cassinos, até tornar-se designer de jóias em 2002. 
George Peppard (1928 - 1994) mais conhecido por filmes como Bonequinha de Luxo (1961), Os Insaciáveis (1964), Crepúsculo das Águias (1966), Herança Nuclear (1977) e Mercenários das Galáxias (1984) e na TV pelos seriados Banaceck e Esquadrão Classe A, como o Comandante John “Hannibal” Smith.

"- Por enquanto é só pessoal!!! Estejam conosco semana que 
vem na mesma hora e no mesmo canal..."


Crítica - Filmes: Annabelle 3: De Volta Para Casa




O meio, mensagem e a boneca...



por Alexandre César




E finalmente o universo de James Wan ganha uma boa sequência





"-Espero que ninguém pense em abrir o armário só porque colocamos uma placa pedindo..."



Como já comentamos anteriormente, em outra crítica, certas franquias são a perfeita materialização da frase do Filósofo canadense Marshall McLuhan: “o meio é a mensagem”. Portanto o público virá, independente de n fatores questionáveis, não importando se o filme é bom, se os atores estão empenhados ou apenas pagando o aluguel, se o roteiro tem afinal algum sentido ou outra dessas “coisas de crítico”. E caso os produtores sejam sábios, dosarão “o mais do mesmo” que o público-alvo quer com injeções de inteligência e valor autoral para garantir a sua constante reinvenção. Transformers, Resident Evil, X-Men (que agora voltou para a Marvel), Jurassic Park/ World e Missão Impossível se encontram neste patamar, posição que James Wan conquistou com seu Toque de Midas ao transformar a franquia Invocação do Mal em uma das mais bem sucedidas sagas de terror atuais, revitalizando o gênero terror como um nicho lucrativo, mas seus vários derivados não ajudaram a aliviar a impressão de que embora todos tenham tido sucesso financeiro, nenhum realmente conquistou o público do mesmo jeito que os filmes originais de Wan. Filmes como A Freira (2018)  e  A Maldição da Chorona (2019) de desgastaram ainda mais a fórmula. É por isso que  Annabelle 3: De Volta para Casa ao chegar sem expectativas para atender, surpreende ao aliar o “mais do mesmo” com valor narrativo.



Lorraine Warren (Vera Farmiga) e a "boneca do mal"...



Dirigido e escrito por Gary Auberman, roteirista de diversos capítulos do universo Invocação do Mal e IT: A Coisa (Capítulos Um e Dois), o novo filme surge como uma versão light de um típico filme da franquia, e se contextualiza na cronologia, após o primeiro longa e de Annabelle (2014), mas antes do segundo Invocação (2016) com menos sangue e mais humor mesclando uma história de terror teen esbanjando uma seleção variada de fantasmas e monstros e, que bebe das fontes de John Hughes (1950-2009) ao situar o sentir-se deslocado no mundo, e o amadurecimento, entre outras questões que permeiam a vida adolescente.


Ed Warren  (Patrick  Wilson) o pesquisador e motorista distraído...


Como um agradável refresco aos fãs calejados, vemos novamente a dupla de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) que descobrem que o mal de Annabelle é liberado por motivos que, se aparentemente estapafúrdios de início, são suficientemente justificados logo em seguida ao anteriormente estabelecido, subvertendo parte das expectativas por trazer alguma profundidade emocional à ocasião, sendo que a direção usa a simplicidade narrativa para cuidadosamente desenvolver a tensão, que se distancia daquilo que torna os derivados tão cansativos, como o excesso de sustos baratos entrecortados por piadinhas fora de hora, achando que assim ficará “esperto & descolado”...


O "Museu Warren de Objetos Amaldiçoados"...


O período cronológico relatado apresenta pouco material para explorar, trazendo uma ocorrência em que Judy (Mckenna Grace), filha do casal Warren, é atormentada por assombrações em casa e precisa combater os espíritos trazidos pela presença da boneca sem a ajuda dos pais (afinal, dentro da lógica de uma história de terror, “é a coisa mais natural do mundo ter dentro de casa um mini-museu cheio de objetos amaldiçoados, bastando apenas ao se ausentarem avisar à sua filha adolescente ou aos seus amigos para não entrarem lá...” Mais lógico impossível! Ou não?!) 
"A Annabelle está???"
A garota conta apenas com sua babá Mary Ellen (Madison Iseman) enfrentam os espíritos influenciados pela boneca, outros pequenos arcos são resgatados e incorporados, como o do crush Bob (Mchael Cimino), alívio cômico da vez e a amiga Daniela (Katie Sarife), responsável por iniciar todo o caos ao tentar invocar a alma de seu pai na sala de artefato dos demonologistas, soltando as tantas ameaças que escapam do porão dos Warren, o que dá ao filme uma certa semelhança a filmes como Goosebumps ou Scooby-Doo 2: Monstros à Solta só que para um público mais crescido. Curiosamente Mary Ellen e Daniela parecem tanto fisicamente quanto em personalidade com genéricos de Beth e Verônica de Riverdalle, série teen do momento...
Judy Warren (Mckenna Grace, de crucifixo) e a loura baby-sitterMary Ellen (Madison Iseman) e a morena intrometida Daniela (Katie Sarife).
O conhecimento de Dauberman do gênero fica evidente não no controle do silêncio, especialmente para construir a atmosfera do medo sem necessariamente apoiar-se no susto, compensando a previsibilidade da fórmula da série e deixa o espectador em estado de alerta.
"Tô de olho em você!!!"
Pode inicialmente parecer algo irrelevante, mas isso cria um clima beeemmais pesado do que qualquer um de seus antecessores. O gosto pelo terror puro é mantido por quase toda a experiência, como também nos momentos de susto: a idéia de Annabelle ser um “conduíte para espíritos malignos”manifesta-se através das assombrações “brincando”com elementos do cenários, como uma luminária infantil projetando sombras contorcidas nas paredes, ou na cena em que Daniela assiste a seus próprios movimentos numa antiga televisão, que exibe um possível futuro imediato sangrento para a garota.
O Barqueiro, e seu visual legal.
Como o roteiro também introduz de forma sóbria diversas entidades e, para evitar que elas se anulem umas às outras, elas quase nunca contracenam entre si para não deixar de ser inconsistentes quanto à idealização e sua realização em tela. No quesito estético, as melhores delas são facilmente o Barqueiro, um ceifador com moedas sobre os olhos, e a própria Annabelle, cujo demônio interior se manifesta de maneira fascinante, em uma tensa cena com um abajur com filtros coloridos que, quando alternados, gradualmente revelam sua verdadeira forma. Isto mostra que Annabelle 3 poderia se desenrolar da mesma forma com quaisquer outras criaturas incluídas na mistura pelo roteirista, reforçando a ideia de que qualquer cois possa surgir, e o divertimento...
Quando tudo fica difícil, uma oração ajuda...
Ao final fica claro que Annabelle 3 é tranquilamente o melhor derivado de Invocação do Mal, servindo como boa coletânea de sustos e assombrações por colocar algo importantíssimo para qualquer filme de monstro: regras. O Barqueiro, por exemplo, some quando iluminado por uma lanterna, como a Diana de Quando as Luzes se Apagam, mas depois já não é afetado por outra fonte de luz, mas mesmo com ritmo e muita criatividade nos ataques sombrios, o filme não se livra do peso de ser uma adição tardia à franquia, apesar de percebermos facilmente a mesma estrutura formulaica que fez A Freira e A Chorona serem continuações preguiçosas e burocráticas, o que nos leva a ter dúvidas quanto de fôlego ainda há na franquia. 
"O que as sombras revelam..."
Felizmente Dauberman provou ser tão competente enquanto diretor quanto roteirista, dando ao público - que aguentou quatro expansões mornas - um presente pela paciência na forma de uma boneca com sede de almas. Quem sabe a saída não seria uma série de antologia, focada nos artefatos estocados na sala de relíquias dos Warren? Seria um prato cheio, e a nossa tõ conhecida Annabelle poderia servir como algum tipo de mestre de cerimônias como em Tales from the Crypt...
Poderia ser o início de uma série. "Contos da Annabelle"...



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