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Crítica: Star Wars: A Ascensão Skywalker




E cai o pano para uma geração...


por Alexandre César 


Filme aposta no seguro e acerta na emoção em cheio

 

E finalmente nos despedimos dos Skywalkers...

 

Desde 1977, quando um diretor nerd magrelo e barbudo fez um certo filme saído do liquidificador, mesclando de westerns a filmes de guerra e aventura de capa-e-espada temperado a Flash Gordon e filmes de horror, o cinema como fonte de entretenimento (bem como o seu modo de produção) ficou de quatro e passou a reverenciar uma certa galáxia “muito, muito distante” , ficando indelevelmente atrelado a este universo ficcional, passando em muitos casos de pai para neto...

Rey (Daisy Riley) alcança a sua plenitude como Jedi e como mulher...

 Star Wars (na época Guerra nas Estrelas) foi o filme certo, feito do modo certo e, lançado no momento certo. Tivesse sido sido lançado um ano antes ou depois, possivelmente sobreviveria no imaginário cinematográfico como uma, entre tantas excentricidades que fizeram sucesso, se pagaram e deram lucro e tempos depois ficaram no ostracismo. George Lucas, após longas batalhas com os estúdios em busca de financiamento e liberdade criativa conseguiu a proeza de fazer um produto que dialogava com uma geração ávida por divertimento escapista de qualidade e, acertou o alvo de uma forma única, conseguindo a proeza de reservar para si a “parte do leão” dos royalties, fazendo a sua independência financeira e criativa, e como todo rebelde que chegou ao poder, se viu na posição de tornar-se aquilo que ele combatia, tal qual Anakin Skywalker, que de filho de escravos, tornou-se o maior Jedi de todos e, virou o temido Darth Vader, de certa forma a encarnação do meio corporativo e, do mundo adulto do trabalho...

Kylo Rem (Adam Driver): De vilão mimizento a anti-herói de respeito...

 Passados 42 anos, 10 filmes (2 trilogias completas, 2 filmes de uma nova trilogia e 2 derivados oficiais) fora séries animadas e live action (O Mandaloriano), quadrinhos, livros videogames e toda e qualquer forma de produto licenciado, Star Wars como toda criança, que cresce e aparece teve de se desligar de seu genitor e ao mudar-se de casa (a Disney) e descobrir como dialogar com o público, que se por um lado sempre quis aquilo a que estava acostumado desde os primórdios, por outro procurava algo diferente pois agora a franquia era “coisa de velho”, lutando para cativar a plateia que viu os primeiros filmes e os filhos, sobrinhos e netos destes, fora o público “não-iniciado”que só vai ao cinema e quer diversão rápida, sem apegar-se a nada ou comprar penduricalhos.

General Leia Organa (Carrie Fisher): Emocionante despedida da personagem e da atriz, que de mocinha destemida passou a ser uma madrinha querida por meio mundo...

Agora J.J. Abrams, no timão da franquia desde Star Wars: O Despertar da Força (2015) que criou uma nova geração de personagens e até soube dialogar com o lado nostálgico da audiência mas pecou por ficar engessado na zona de conforto “rebeldes-contra-um-mal-destruidor- de- planetas-se-une-a-uma-nova-esperança-jedi”dividiu opiniões e pedia mudanças. Em Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) Rian Johnson ousou acrescentando elementos críticos e fez um filme com mais personalidade embora desigual, mas irritou o lado mais conservador do fandon, agora capaz de fazer muito barulho (via internet) prejudicando a performance do filme e deixando claro que era necessário concluir o arco da família Skywalker e deixá-los em paz, pois omo bem mostra o universo expandido dos quadrinhos, livros e games, a galáxia muito, muito distante é bem maior do que apenas um único núcleo familar e,sejamos sinceros, os Skywalkers não são os Corleone, então vida que segue...


Chewbacca (Joonas Suotamo), Poe Dameron (Oscar Isaac), Rey e atrás Fin (John Boyega). Grupo coeso.

Retomando a direção e, evitando ao máximo ligações com a trama do filme anterior, J.J. Abrams nos entrega Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019) e com grande eficiência dá para a galera o que ela quer, e narrando num ritmo acelerado (pois se ele pisar no freio, o espectador começará a questionar o que vê em cena e a lógica de certas coisas...) aliado à edição de Maryann Brandon (Super 8) e Stefan Grube (Rua Cloverfield, 10) fazendo um dos filmes visualmente mais bonitos da franquia e fazendo uma grande despedida que levará as lágrimas pelo seu tom emocional em vários momentos, apesar da premissa super forçada que alavanca este final.


BB8 arruma um amigo droid, no melhor estilo WALL-E...

O roteiro de Abrams e Chris Terrio (Liga da Justiça), autores da história, em parceria com a colaboração de Derek Connolly e Colin Trevorrow redefine conceitos como ”Fanservice”, “MacGuffin”** ou “Jogar para a galera” entre tantos outros termos, tal é o volume avassalador de situações e conclusões pensadas para provocar uma resposta emocional daqueles que vem acompanhando e passando a saga de geração para geração...
Logo nos grandes letreiros iniciais se fala que “Uma voz há muito esquecida foi ouvida numa transmissão por toda a galáxia revelando a volta do supostamente falecido Imperador Palpatine, trazendo medo e terror a todos...” este recurso me lembrou logo das antigas radionovelas tipo da velha Rádio Nacional ou da Rádio Tupi em que eram comuns malabarismos improvisativos feitos de forma mirabolante, para alavancar audiência e então, honrando as suas raízes de narrativa oral e folhetinesca, Star Wars tal qual “O Direito de Nascer”* ressuscitou a sua “Mamãe Dolores”...


"- Não fico sexy de preto? Num estilo 'Dark Side', não???"

E assim Kylo Rem (Adam Driver tirando leite de pedra, criando um bom personagem que segue a trajetória de seu avô) faz um pacto com o “Imperador Walking Dead” (Ian McDiarmid, fazendo bem o mais-do-mesmo) que em troca do comando de uma frota colossal de Star Destroyers que estava guardadinha dentro do templo, esperando quem a comandasse (e detalhe, cada nave com um canhão com a potência da Estrela da Morte!!!) em troca apenas da vida de Rey (Daisy Ridley), que segue o seu treinamento Jedi, agora sob a supervisão da General Leia Organa (Carrie Fisher em emocionante despedida da personagem, e da vida...) que como foi revelao no filme anterior, tinha um treinamento na Força (afinal ,se era gêmea de Luke, devia ter uma contagem próxima de Midichlorians em suas células...) e ela tem que encontrar a fonte desse mal e confrontá-lo, além de descobrir a verdade sobre as suas origens e a partir daí teremos uma jornada de descoberta que definirá para sempre sua relação com o universo e aqueles à sua volta... Puxa!


Ben-vindos a "Star Wars Beats"!!! Aproveitem a rave...


Ressurgem rostos familiares, sejam como fantasmas da Força ou participações rápidas, para fechar de vez este núcleo, seja nos personagens, seja na iconografia visual de cenários figurinos, naves e planetas. Da velha geração matamos as saudades não só de Leia, como de Han Solo (Harrison Ford), Luke Skywalker (Mark Hamil, “dando uma” de Yoda), Lando Calrssian (Billy Dee Williams, que aparece de forma pontual e em momentos chave, como num game) e até vemos figurantes clássicos como Wedge Antilles (Denis Lawson) e Nien Nunb (Mike Quinn) que eram colegas de Luke na Aliança Rebelde, além dos tradicionais C3PO (Anthony Daniels) e divertido, mas com um tom mais solene),R2D2, fofo como sempre na sua dobradinha com BB8, que arruma mais um parceiro droid, Chewbacca (Joonas Suotamo, que desde  Star Wars: Os Últimos Jedi
substitui Peter Mayhew, que faleceu este ano) continua basicamente o mesmo apesar da forte explosão emocional que tem na segunda metade do filme; e a velha geração interage bem com a galera da vez, que cresce e aparece apesar de tudo.


Palpatine (Ian McDiarmid) retorna, sendo a "- Pessoa Jurídica do Mal"...


Finn (John Boyega) está mais centrado, mas inexplicavelmente seu romance com Rose Tico (Kelly Marie Tran) parece ter sido apagado, pois ele e Poe Dameron (Oscar Isaac mais à vontade no papel) que se mostra mais descolado, remetendo à malandragem de Han Solo; e assim eles passam a ter com Rey uma dinâmica similar a de Luke-Leia -Han no filme de 1977 e no final das contas “todo mundo se balança entre um e outro” e “ninguém fica com ninguém”, talvez numa tentatva dos roteiristas de emular o comportamento InCel*** (representativo de uma parcela substancial e barulhenta do fandon de Star Wars e do público nerd...).



Jannah (Naomi Ackie) a ex-stormtrooper que se junta ao grupo e mostra serviço...

Do lado da Primeira Ordem, o patético General Hux (Domhnall Gleeson) completa o seu arco,dando uma de Agente Callos (da animação Star Wars: Rebels) sendo superado pelo General Pryde (Richard E. Grant de Poderia me Perdoar? ) que surge neste filme, tendo o perfil do típico oficial cruel do Império da trilogia clássica. Curiosamente temos um oficial de alta patente negro e uma comandante de Star Destroyer na Primeira Ordem, coisa nunca vista no Império. Inclusão até no mal... Na procura pelo artefato que levará o grupo à base do inimigo veremos novos mundos, inclusive com direito a uma festival alegre e colorido valorizado pela bela fotografia de Dan Mindel (John Carter: Entre Dois MundosAlém da Escuridão: Star Trek) que não perde nada para uma lolapaluza da vida (só faltavam os balões dos patrocinadores e os Djs...) onde se descobre uma Adaga Sith que se revela um MacGuffin no melhor estilo Indiana Jones, chegando a ser de doer a forma como ela revela a localização do artefato.


Em Endor (o planeta principal) encontra-se as ruínas da segunda Estrela da Morte. A capacidade de destruição planetária se banalisou e perdeu o seu impacto...

Ocorrem separações do grupo ocasionadas pelos embates de Rey e Kylo Ren cujo tom atração-repulsão chega a ser a alegoria das idas e vindas de um casal. Nestas separações e reencontros do grupo abrem-se espaços para surgirem novos personagens como Zorii Bliss (Keri Russell de Felicity) mercenária e ex-peguete de Dameron, cuja bela silhueta é valorizada pelos figurinos de Michael Kaplan (Blade Runner e Star Trek).


Lando Calrisian (Billy Dee Williams): O "Lionel Ritchie do Espaço" continua cheio de "groove"...


Bliss tem um parceiro, Babu Frik (voz de Shirley Henderson, a Murta que Geme de Harry Potter), um alienígena miudinho e engraçado que reprograma C3PO para decifrar as inscrições da faca e ainda temos Jannah (Naomi Ackie) tal qual Finn uma ex-stormtrooper que ajuda o grupo na batalha final, fora as ocasionais aparições de personagens secundários (terciários) que surgiram ao longo desta nova trilogia mas não foram marcantes como Max Kanata (Lupita Nyong´o), o piloto Snap Wexley (Greg Grunberg), a Tenente Conix (Billie Lourd), o técnico Beaumont (Dominic Monaghan da trilogia O Senhor dos Anéis) e a Comandante D´acy (Amanda Lawrence). Estas aparições são sublinhadas pela música de John Williams,que aparece numa ponta como Oma Tres (?) e ressaltam a carga emocional que o encerramento da trilogia carrega. Não tenham vergonha de chorar amigos, pois quando as lágrimas secarem é possível que a raiva venha à tona...



O mal e sua face burocrática: o patético Gen. Hux (Domhnall Gleeson) cede espaço para o "Old School" Gen. Pryde (Richard E. Grant) o típico "militar prussiano" imperial..."

Quanto à parte visual o filme honra todo o legado da franquia que desde as origens soube fazer o barato parecer caro e continuou tendo um ousado desenho de produção, neste, assinado por Rick Carter (Oscars por Avatar e por Lincoln) e de Kevin Jenkins e uma riquíssima direção de arte, aqui assinada por Jim Barr (Doutor Estranho),Claire Fleming ( Jogador N°1), Lydia Fry (Rogue One: Uma História Star Wars), Liam Georgensen, Patrck Harris e Helena Holmes (Rambo: Até o Fim) que aliada à decoração de sets de Rosemary Brandenburg (Kingsman: O Círculo Dourado) resgataram ambientes clássicos dos vários mundo visitados pela franquia e ainda conseguiram inovar com o Templo Sith, cuja ambientação sinistra remete games de horror e em alguns momentos aos clássicos da Universal.


Rey e Palpatine se enfrentam num combate revelador para a jovem Jedi...


 Amalgamar conceitos visuais distintos em algo original sempre foi a marca de Star Wars, fora a inovação tecnológica que a franquia trouxe ao longo de seus 42 anos aqui honrados pelos efeitos visuais da Industrial Light & Magic (ILM) e das empresas Base FX, Exceptional Minds, Hybride Technogies, Reel Eye Company, Stereo D e The Third Floor que garantem a qualidade do espetáculo com mundos de paisagens arrebatadoras, alienígenas bizarros e frotas de naves colossais em tamanho e variedade, resgatando nostalgicamente além da Millennium Falcon, toda a frota da Aliança Rebelde, com especial destaque para a Tantine IV, a nave em que Leia foge de Darth Vader no início do filme de 1977 e, no final de Rogue One: Uma História Star Wars. E ainda temos como cameos a Ghost de Star Wars: Rebels e até entre as centenas que aparecem num cantinho de cena por alguns segundos vemos a Razor Crest de O Mandaloriano. Se piscar, perdeu...


Bela silhueta: A mercenária Zorii Bliss (Keri Russell) enriquece o elenco...


Ao final, O Bem vence o Mal e temos uma grande festividade (com direito até a um beijo lésbico na figuração...) e Rey define o seu próprio rumo de forma pungente e, em que pesem suas falhas, Star Wars: A Ascensão Skywalker fecha de forma bonita o núcleo dos Skywalkers, apesar de terem sido muuito melhor explorados no Universo Expandido (e como!!!) e esperemos que agora a Disney volte a sua atenção para as outras possibilidades que a “a galáxia muito, muito distante” oferece e aí sim poder deixar a sua marca de forma mais sólida e eficiente, criando filmes, animações e séries que possam cativar o público por terem luz própria...


A Millennium Falcon e centenas de outras naves da franquia, entre elas a Ghost de Rebels, no alto à direita...


*: Novela melodramática de 1948 (como todas) do autor cubano Felix Caignet (1892-1976) encenada várias vezes no radio teatro e transposta com muito sucesso para a TV pela extinta TV Tupi São Paulo e TV Rio às 21h30, entre 7 de dezembro de 1964 e 13 de agosto de 1965, tendo 160 capítulos sendo adaptada por Thalma de Oliveira e Teixeira Filho, com direção de lima Duarte, José Parisi e Henrique Martins, sendo o primeiro grande clássico da teledramaturgia brasileira.

**: Na ficção, MacGuffin é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa. A especificidade de um MacGuffin, normalmente, é sem importância para a trama geral.




***: Diminutivo da expressão “Involuntary Celibates” (“Celibatários Involuntários”) grupos de homens entre os 20 e 40 anos que por serem incapazes de se relacionar sexual e amorosamente culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso, difundindo na internet a misoginia e até provocando atentados armados.





Rey:"- Primeiro um alongamento e depois, um exercício aeróbico rápido de baixo impacto..."


Crítica - Filmes: Frozen II


E nasce uma heroína!

 

por Alexandre César


Elsa e Anna mostram o seu valor... 



No início, o pai de Elsa e Anna lhes conta uma 
história que terá ligação com a trama principal...


Continuações são produtos complicados, que se são inevitáveis em casos de filmes de sucesso, muitas das vezes quando a obra original já era auto-contida a questão da "forçação de barra" acaba quebrando o encanto da mesma (Vide Highlander e Highlander 2) e neste caso a melhor solução é assumir-se como uma complementação sem a pretensão de querer superar o original e assim, encontrar a sua própria voz.


Elsa, tenta aparentar normalidade para Anna e 
seu amigos, sem muito sucesso...


De todos os personagens recentes da Disney relacionados ao universo de princesas, Elsa e Jasmine sejam as mais impactantes por mostrar independência a vários ícones antes tão caros ao próprio ”Modo de ser Disney”. Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) mostrou que a princesa / rainha Elsa não precisava de mais nada do que si mesma para ser feliz, sem a necessidade de atrelar a sua vida a namoros e muito menos casamento para seguir com a sua própria vida. É claro que viver sozinha não é lá tão legal assim, e o amor devotado de sua irmã mais nova Anna consegue comover a reclusa e poderosa princesa levando-a compartilhar a sua vida com aqueles que lhe são caros.



Olaf, o boneco de neve vivo: Existencialismo e 
colocações ecológicas...
Seis anos depois do eventos do primeiro filme, e o inverno está chegando (argh!!! desculpe a piada...) no Reino de Arendelle que prospera alegremente. As irmãs Elsa (Taryn Spilman) e Anna (Gabi Porto) agora são jovens mulheres enfrentando as mudanças do amadurecimento. A agora rainha Elsa, procura descobrir a origem e natureza de seus poderes, e sua irmã Anna está vivenciando com seu amado Kristoff (Raphael Rosatto) a necessidade de dar um passo adiante em seu relacionamento, e Olaf (Fábio Porchat) o boneco de neve, e Sven, a rena... são Olaf, o boneco de neve e Sven, a rena ora! Apesar de o boneco de neve vivenciar uma divertidíssima fase existencialista, questionando o sentido de tudo e a rena estar mais feliz com o seu papel nas coisas. Mas, a única que realmente continua se questionando é Elsa, que agora ouve uma voz, similar a um canto de sereia, que a chama para ir além do que conhece.


As lembranças da infância das irmãs, junto à 
mãe é um dos pilares de sua união...


Dirigido por Chris Buck (Tarzan, Tá Dando Onda) e Jennifer Lee (roteirista de Frozen: Uma Aventura Congelante, Uma Dobra no Tempo, Zootopia) Frozen II (2019) expande o reino de Arendelle com elegância, humor e bastante emoção numa nova aventura que irá agradar bastante os fãs e o público que não conhece Elsa, Anna, Olaf e cia. que embarcam numa nova jornada nas profundezas da floresta, cruzando com uma tribo chamada Northuldra, que divide uma terra amaldiçoada com soldados de Arendelle – presos dentro da floresta encantada por uma densa e inescapável neblina. Ao descobrir que ambos os grupos entraram em conflito por mais de três décadas, Elsa jura libertá-los desse cárcere e, ajudar seu próprio povo e descobrir a verdade sobre o mistério que insiste em assombrar sua família, e seu reino.


Vovô Pabbie aconselha as irmãs a embarcarem
 numa jornada de auto-conhecimento...

O roteiro de Jennifer Lee, Chris Buck (que assinam a história), Marc Smith (Frozen: Febre Congelante) e dos músicos Kristen Anderson-Lopez & Robert Lopez acerta ao mostrar a sinceridade da união das irmãs e reformulando os convencionalismos do panteão Disney ao revisitar o clássico A Rainha do Gelo de Hans Christian Andersen (influência mais do que óbvia, com elementos obscuros, infiltrados nas mazelas dos conflitos e dos medos humanos de forma simples e descomunal) fugindo de pedantismos melodramáticos, sendo fluida a maneira como os arcos dos personagens principais se espalham numa variedade infinita de gêneros, convergindo para um ponto em comum.


A ambientação é um espetáculo à parte, atestando
 o avanço tecnológico do estúdio...
O longa inicia mostrando Elsa e Anna ainda crianças, ouvindo uma história do pai sobre quando ele ainda era príncipe de Arendelle. Ele conta às meninas a história de uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajudará Elsa a compreender a origem de seus poderes, pois ela demonstra um poder construto compararável ao do Lanterna Verde (e sem anel, basta ela querer!!!) Mas... Como ela realmente adquiriu isso?


A salamandra (elemental do fogo). Um 
dos futuros bonequinhos de sucesso...


 A história vai aprofundando as perguntas que ficaram sem respostas no primeiro filme e, sem medo de mergulhar de cabeça em lendas, magias e laços partidos, trazendo flashbacks e se propondo a solucionar questões que, antes, haviam sido estabelecidas simplesmente como fatos concretos, banais e rotineiros, mas seguindo um caminho de amadurecimento, tanto da produção (que é belíssima, atestando os avanços tecnológicos da animação aliados à uma impecável direção de arte que emula em mais de uma vez imagens de clássicos do estúdio) quanto de suas personagens, pois Anna, tem que encarar a sua excessiva preocupação com a irmã mais velha, e mesmo tentando deixá-la livre, seu temor por sua segurança faz com que a rainha nem sempre faça o que gostaria de fazer, mostrando como aqueles que nos amam podem acabar nos segurando sem querer; Olaff na sua trilha de questionamento ao mencionar sempre que “- A água têm memória!!!” remete a preocupações contemporâneas quanto à biodiversidade; Kristoff luta com suas inseguranças quanto ao pedir a mão de Anna em casamento, tendo um hilário número musical (com as renas) que emula clipes de rock romântico clássicos dos anos 80/90 assumindo ao final um papel que embora não seja de protagonismo, mostrando uma masculinidade cordial construtiva e colaborativa. Ele não diz “- Eu faço!!!”
 mas sim  “- Do que você precisa?” e colabora para Anna salvar o dia.


As brumas sempre escondem mistérios...

E temos Elsa, que viveu até agora o conflito entre ficar em Arendelle ou usufruir 100% de seus poderes, pois no primeiro filme, ela canta que jamais voltaria para o reino, mas, ela cede em prol da felicidade de todos (como acontece em vários núcleos familiares...) sedo atraída por espíritos da natureza que, de alguma maneira, explicam a origem de seus poderes, de natureza elemental.


Kristoff e Sven tem, além dos momentos cômicos,
 o seu momento heróico, e o aproveitam bem...


 Ao Atingir a plenitude de seus poderes e mudar o seu visual (afinal a Disney precisa vendar para as garotinhas alguns milhões de trajes novos da personagem...) Elza cria uma “roupa de super-heroína” que não destoaria nada na Marvel ou na DC (afinal,no fundo ela é uma Rainha Branca com os poderes do Homem de Gelo) e outro mérito do roteiro é enfatizar a necessidade de se assumir os erros passados, principalmente para que se possam corrigir as injustiças cometidas e fazer o que é certo, ao invés de manter mentiras cômodas, bonitas e convenientes mas que “ferram” a todos, como negar o aquecimento global...


Um antigo segredo repercute no presente de

 Arendelle e força a encarar os erros do passado...

A montagem de Jeff Draheim (Moana: Um Mar de Aventuras, Operação Big Hero ) dá dinamismo ao desenrolar da história, dando um bom ritmo que não cansa, mesmo nos momentos mais reflexivos e alternando o peso da narrativa nos momentos de ação e de humor, seja com as tiradas de Olaf ou as idas e vindas de Kristoff com Anna.
A música de Christophe Beck (Homem-Formiga e a VespaFrozen: Uma Aventura Congelante) é eficiente, sendo o tema “Into the Unknown” que embala os questionamentos de Elsa e talvez ela não faça tanto sucesso quanto “Let It Go“, mas, se no primeiro filme ela amadurece na frente do público ao criar seu castelo de gelo, aqui ela se liberta de tudo o que a atrapalhava, tornando-se uma mulher completa, que finalmente encontrou seu lugar no mundo e uma forma de conciliar sua felicidade com a convivência em família e sem precisar se atrelar a um homem para isso! Motivo mais do que provável para os fundamentalistas “denegrirem” a personagem ( “afinal mulher que não faz questão de se atrelar em um homem é sapatão!” diria uma certa líder política...). Ela passou por um dobrado para chegar até a sua plenitude, mas ao final valeu a pena sofrer por um momento tão bonito ao final, e se até agora ela não encontrou ninguém, não é motivo para chorar pois ser feliz é estar de bem com si mesmo, esteja só ou acompanhada, e isto Elsa está!


Poder é bom, mas às vezes não é suficiente...



Ao final, embora não precisasse ter sido feito pois o filme original era auto-contido, Frozen II sabe se assumir como sequência sem pretensões de superar o original mas sabendo complementá-lo sabiamente, além de oficializar que a Disney tem agora duas super-heroínas (o universo de Os Incríveis não conta, pois é muito mais da Pixar): No live-action a Malévola, e na animação, Elsa, que não faz feio comparada com qualquer Vingador ou X-Men...

Agora, para poder haver alguma continuação, terão de desencavar um VILÃO (ou VILÃ ) mesmo, para fazer frente à destemida Rainha do Gelo...


" -Vai encarar palerma? "

Críticas - Séries: The Boys




Collants, raios, sangue & porrada

 

por Alexandre César


Série da Amazon demole o conceito dos "Supers" 

 


Semelhanças icônicas: "Os Sete": A novata Luz Estrela (Erin Moriarty), Profundo (Chace Crawford) Translúcido (Alex Hassell), Rainha Maeve, (Dominique McElligott), Black Noir (Nathan Mitchell), Tren-Bala (Jessie T. Usher) e o poderoso Capitão-Pátria (Antony Starr) o líder. Lembra alguma coisa???

 

Watchmen de Allan Moore & Dave Gibbons, Marshal Law de Pat Mills & Kevin O´Neil, O Procurado de Mark Millar & J. G. Jones... cada qual ao seu jeito partiram de uma ideia comum: “Imagine um Universo onde super-heróis (e super-vilões...) existem de verdade...” daí vindo formas distintas de contextualizar quais seriam as consequências do convívio de seres poderosos com os meros seres humanos, ora pela alegoria e a crítica social, ora pela descarada paródia iconoclasta ou a mais apelativa e sanguinolenta sucessão de cenas que destilam a baixaria nerd (misoginia, homofobia, racismo, etc...) no final das contas a conclusão acaba sempre sendo, de uma forma ou de outra, a mesma: “Se grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, como diria o bom e velho tio Bem Parker do Homem-Aranha, a falta de um senso moral faz com que o poder corrompa, e aqui, de forma exponencial...


O alucinado Billy Butcher / Bruto (Karl Urban) convoca

 o reprimido Hughie Campbell (Jack Quaid) para a sua
 "vendeta" contra os super-pderosos...


Baseada nos quadrinhos de Garth Ennis (Preacher, O Justiceiro) e Darick Robertson (Transmetropolitan) The Boys é a nova aposta da Amazon Prime Video que já nos rendeu obras como O Homem do Castelo Alto, American Gods, Good Omens, sendo ela, uma das principais rivais da gigante do streaming Netflix, cujo volume e catálogo de produções é muito maior, mas de qualidade bem variável...


Aparências nada mais: Rainha Maeve (Dominique McElligott)

 & Homelander/ Capitão-Pátria (Antony Starr) são 
"os Deuses que caminham entre os reles mortais"...


Os produtores Seth Rogen e Evan Goldberg aprenderam durante a série Preacher, que adaptar Garth Ennis não é uma tarefa fácil. Mesmo assim, o desejo de explorar o catálogo do autor foi maior, e unidos a Eric Kripke, o criador de Supernatural, precisaram tomar algumas liberdades narrativas, mudando muito em tom e ritmo para comportar uma fração da história original, mas mantendo a coerência interna. E olhe, valeu a pena.


O grupo disfuncional se compõe de Billy, o Francês (Tomer Capon 
abaixado), Milk Mother/leitinho (Laz Alonso, atrás) e Hughie,
 que de "Zé-Mané" logo evolui como agente de campo.


Neste universo ficcional, os heróis são controlados por uma corporação, a Vought International, que cuida do merchandising, filmes, séries de TV, brinquedos e toda a sorte de colecionáveis, ainda microgerenciando cada super equipe e carreiras individuais via redes sociais, de olho em quem é popular, quem está nos trending topics, qual a demografia de likes de cada um. Afinal, os heróis são produtos corporativos, sendo interessante a cena de uma reunião de acionistas que não deixa de lembrar as cenas que rolam nos palcos da San Diego Comic-Con anunciando a nova fase do Universo Cinematográfico Marvel...


Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue) apresenta aos acionistas da 
Vought, The Deep/ Profundo (Chace Crawford) e a novata Starlight
/ Luz-Estrela (Erin Moriarty), a idealista Annie January que 
descobre, que "ajoelhou tem de rezar"...

Tendo os quadrinhos sido publicados pela Dynamite Entertainment entre 2006 e 2008, a trama acompanha Hughie Campbell (Jack Quaid), um jovem que perde Robin (Jess Salgueiro) sua namorada em um brutal acidente envolvendo A-Train/ Trem-Bala na versão dublada (Jessie T. Usher) o herói velocista do grupo Os Sete (o equivalente à Liga da Justiça desse universo). Após perceber que existe todo um sistema pensado para inocentar os superpoderosos, com um exército de advogados, relações públicas e toda sorte de obstáculos corporativos, Hughie entende que sua única esperança de encontrar justiça é com a ajuda de um misterioso estranho chamado de Billy Butcher/ Billy Bruto (Karl Urban da cine série Star Trek, surtado e deliciosamente caricato), que lhe aborda oferecendo uma chance de vingança.


Profundo alterna uma masculinidade tóxica, fruto de uma 
personalidade perturbada por ser "o cara que fala com os peixes"
 do grupo e não conseguir superar suas próprias amarras...

O grupo principal, a jóia da coroa da Vought International são Os Sete que compoem-se de Homelander/ Capitão-Pátria (Antony Starr de Banshee, ótimo como um psicopata hedonista) o ”Superman”do grupo, Black Noir (Nathan Mitchell) o “Batman”, Rainha Maeve (Dominique McElligott de House of Cards) a “Mulher-Maravilha”, A-Train/ Tren-Bala, o ”Flash”, The Deep/ Profundo (Chace Crawford), o “Aquaman”,Translúcido (Alex Hassell), um “Homem-Invisível” (no original, este personagem não existia, mas sim,um alienígena parodiando do “Caçador de Marte”) e Starlight/ Luz-Estrela (Erin Moriarty) a novata do grupo, que substitui Facho de Luz, um membro que se “retirou” do grupo, tendo um visual que remete à Mary Marvel, sendo ela a jovem inocente Annie January, jovem de formação cristã criada pela mãe Donna (Ann Cusack) que sonhava ter uma filha heroína/ celebridade, levando-a desde criança à concursos de heroísmo e afins. Ela então, descobre amargamente que seus ídolos não passam de seres amorais, egoístas, que por trás dos sorrisos em público não se importam ao cumprir as suas missões, com o dano colateral de inocentes que estejam nas proximidades. Ela logo de cara descobre que para permanecer no grupo tem que fazer o “teste do sofá”com um dos supers e descobre toda a sorte aberrações sexuais, abuso, hipocrisia e masculinidade tóxica que emanam dos membros da comunidade heroica.


O sorriso luminoso das "selfies" esconde um profundo 
desprezo pela humanidade...

Para lidar com esses super-heróis corruptos que usam seu status para se promoverem ainda mais, colocando em risco a própria população, uma equipe do FBI foi preparada no passado para cuidar desses casos. Conhecidos como "os meninos" (daí o título The Boys), esses agentes tinham a missão de vigiar o trabalho dessas personalidades, assim como controlar o surgimento de novos heróis. Billy chefiava essa seção que posteriormente foi desativada devido às pressões da Vought, tendo desejo de vingança contra o Homelander/ Capitão Pátria, que teria se envolvido e estuprado Becca (Shantel VanSanten), a sua esposa, com consequências desastrosas.


Hughie e Annie se conhecem e começam um relacionamento
 que a ajudará a manter-se firme em seus valores.

O grupo reunido por Billy para retomar as atividades é composto por Francês (Tomer Capon), o cara das traquitanas, armas e explosivos, Milk Mother /Leitinho (Laz Alonso) um “pau-para-toda-obra” que tenta retomar a sua vida conjugal, longe de Billy e seu desejo de vingança (mas acaba voltando ao grupo pois como diz Billy:  “- Nós somos como as F@# das Spice Girls: Juntos somos Os Caras , separados somos uns M3R%@S!!!” ) tendo a adesão da Fêmea (Karen Fukuhara) uma vítima de experiências ilegais com o “Composto V” uma droga que (tal qual a talidomida ´nos anos de 1960 foi ministrada a mulheres grávidas gerando deformidades nos fetos) transforma humanos em supers, e que está sendo pirateado por terroristas. Billy tenta convencer a sua antiga chefe a Agente Susan Raynor (Jennifer Esposito) a dar suporte ao grupo,mas só consegue um apoio parcial sem garantias pelas implicações políticas.


Sangue e tripas não faltam em momentos-chave...

O principal diferencial da série nesta era dos super-heróis no audiovisual é um enorme desprezo por eles e pela cultura ao seu redor sendo aqui, ao contrário dos gloriosos representantes da humanidade, os superpoderosos são seres secretamente desprezíveis, fabricados por grandes corporações que querem vender bonecos, filmes, quadrinhos e videogames - com olhos para conquistar mais e mais poder, dinheiro e influência, tendo esta sátira ácida e cínica, muito a dizer não só sobre o nosso culto aos heróis, mas também dos políticos, empresários e celebridades que se mantêm em seus pedestais enquanto deixam as controvérsias embaixo do tapete (estes,os poderosos do mundo real...), aqui representada por Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue, inspiradíssima), a calculista executiva da Vought que controla com voz suave e mão de ferro tudo e todos à sua volta, com uma atitude sedutora de mãe ora amorosa, ora incestuosa para com o Homelander/ Capitão Pátria (ele mesmo um poço de dualidade perversa) sendo uma figura que poderia estar em qualquer ramo de atuação, o que revela o quão assustador pode ser o meio corporativo....


Rainha Maeve: "Empoderada" presa na gaiola corporativa
 que a sufoca e a impede de ser ela mesma...

O rico universo da série ainda inclui personagens do lado humano como o pai de Hughie (Simon Pegg de Star Trek e Missão: Impossível - Efeito Fallout) como easter egguma vez que originalmente ator serviu de modelo para o personagem da HQ; Cherie (Jordana Lajoine) amante do Francês e amiga nos momentos difíceis; e o Dr. Jonah Vogelbaum (John Doman de Gothan) responsável por boa parte dos supers (que considera o Capitão Pátria “o seu maior fracasso...”) e do lado super, Popclaw/ Lâmina (Brittany Allen) heroína Sex Symbol decadente, e amante de Trem-Bala, Mesmer (Haley Joel Osment de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal) herói mentalista de segundo escalão procurando uma chance de voltar ao estrelato, e Ezekiel (Shaun Benson), o herói gospel neopentecostal, pregador da “cura gay” mas na realidade homossexual enrustido e hipócrita.


Profundo e Capitão-Pátria: O líder paternalista que comanda
 com sorrisos amigáveis e mão-de-ferro os membros da equipe,
 e "ai" de quem o questiona...

Um dos elementos chave é o alto nível do elenco, que raramente deixando a desejar nas atuações. o Billy Butcher/ Blly Bruto de Karl Urban abraça a intensidade caricata das HQs acertando no espírito doentio da história de Ennis, Erin Moriarty convence na complexidade de Starlight/ Luz-Estrela, uma garota que acaba batendo de frente com a cruel realidade, como quando a corporação a obriga a trocar o seu uniforme mais recatado por um modelito que remete aos das heroínas da Image Comics, que eram o supra-sumo da objetificação feminina (parabéns às figurinistas Laura Jean Shannon, autora dos super-trajes, e Joyce Schure) contrastando com a Rainha Maeve, que embora seja a “empoderada” tal a nossa Princesa Amazona, na realidade se mostra como mais uma mulher oprimida numa gaiola de ouro, tiranizada pelo líder da equipe. Dominique McElligott surpreende como uma heroína cujo olhar triste revela a angústia de ter “ser” o que não se é de fato. Coisa similar a muitas Pop Stars símbolos do“empoderamento feminino” mas cujos modelitos das roupas da sua grife são fruto de costureiras exploradas em regime de precarização semiescrava. Antony Starr com seu Homelander/ Capitão-Pátria impressiona nas mudanças de ânimo instantâneas de seu personagem, seja num tom de voz ou um olhar, fielmente retratando sua essência, cujo sorriso luminoso, esconde o desprezo por toda a humanidade, lembrando certos líderes políticos populistas que no momento atual pululam pelo mundo.


Annie/ Luz-Estrela acaba se revelando mais complexa do 
que o seu visual de "loirinha de familia" aparenta...

No cômputo geral The Boys é uma série de gente ruim se livrando de gente ainda pior, ninguém se salva na história, pegando a essência distorcida do humor negro de Ennis e contextualizando-a numa ótima estrutura narrativa, a série se preocupa em avançar sua trama e evoluir seus personagens, ao invés de manter o espectador fisgado pelo absurdo. Assim, arcos como o crescimento de Hughie (que mesmo sendo um covarde reclamão, acaba tendo que sujar as mãos) ou a relação do Francês com a Fêmea ganham mais espaço, diluindo e remodelando eventos chocantes dos quadrinhos para casar com essa versão mais humana da trama. Mas isso não quer dizer que seja uma série leve, pois há há bastante violência, tanto visual quanto temática, mostrando goree abuso sexual desde seu início, mas ainda assim esses elementos são mostrados de forma controlada, raramente soando gratuitos - embora claramente inseridos para causar impacto. O Desenho de Produção de David Blass acerta aoa recriar esse mundo colorido high tech mas fincando um pé na realidade,não devendo nada a muita série ou filme calcado nos universos Marvel ou DC, da mesma forma que os bons efeitos visuais, além das citações metalinguísticas a Matrix entre outros elementos pop, como a seleção musical na trilha de Christopher Lennertz que inclui Hits de Spice Girls, The Runaways, Simon & Garfunkel, e vários outros.


Relação ambígua: Madelyn e Capitão-Pátria ora parecem
 mãe e filho, ora amantes, numa alternância incrível...

Embora seja recheada de momentos violentos, sangrentos, palavrões, tudo é para fazer uma crítica sobre o mundo atual onde vivemos, ambientado no universo dos quadrinhos, com os mesmo tipo de personagens e de trama, fizeram algo bem raro: a história é... diferente, tendo sequência insólitas, ora hilárias como a que Milk Mother/ Leitinho e Billy, encurralados, usam um bebê que solta lasers como arma; outras chocantes como um resgate de um avião tomado por terroristas que termina tragicamente. De quebra, ela mostra a formação dos Boys além de muitos detalhes do lado dos Supers que não é mostrado nos quadrinhos, sendo a revelação do último episódio uma grande surpresa, criando um gancho explosivo para a segunda temporada, onde descobriremos o que Billy fará com a descoberta, e como isso implicará em sua vingança contra o Homelander/ Capitão Pátria e, como o super-herói sem empatia e escrúpulos (e sem identidade secreta) irá lidar com essa situação, além também dos eventuais desenvolvimentos de personagens enigmáticos como Black Noir (até agora, o “Boba Feet” do grupo), ou Stan Edgar (Giancarlo Esposito de Maze Runner: A Cura Mortal) o todo poderoso da Vought que promete ser mais do que aparenta... as apostas estão feitas!  

"-Capricha bem na aquarela Alex Ross, se tu sabe o que é bom para você..."

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