Páginas

Crítica - Filmes: Um Funeral em Família




Descanse em Paz, Ufa!

por 

Ronald Lima (3 Velhos Nerds)

________________________________________________

Tyler Perry  se despede de seu icônico personagem

 


Imagine a Dona Hermínia do ator Paulo Gustavo da peça teatral e dos filmes Minha Mãe é Uma Peça (2013 e 2016) entrando de sola em uma novela de horário nobre dessas bem dramáticas e roteiro pra lá de previsível? Incorrigível em seu modo exagerado, atrevida e desbocada, é a personagem Madea criada e retratada pelo ator, diretor e roteirista Tyler Perry em Diário de uma Louca (2005). Perry retoma nesse novo filme a histriônica personagem de Madea - Reunião de Família (2006), Madea Vai Para a Cadeia (2009), Madea's Big Happy Family (2011), As Testemunhas de Madea (2012), O Natal de Madea (2013), O Halloween de Madea (2016) e Boo 2! O Halloween de Madea (2017). Mas como algo para ser bom precisa ter um início, um meio e, um fim, a comédia Um Funeral em Família (2019) marca o adeus de Tyler a sua icônica Madea, despedindo-se desse alter ego, com um dos piores filmes da coletânea (não que algum seja realmente bom...) mas ele consegue ser o pior deles. Aqui, este ícone popular continua fiel às características que o deixaram conhecido: Caracterização estereotipada dos pobres, a vulgaridade, a sexualidade aflorada, o linguajar chulo, a paixão pela comida, a tendência às brigas barulhentas. A fina flor da humanidade. E este é o adeus de Tyler a sua icônica Madea. Será mesmo? Não pareceu.



Tia Barm (Cassi  Davis), Madea (Perry, no alto) 
e tia Hattie (Patrice Lovelly).


Este tipo de comédia que os críticos costumam detestar, mas o sucesso de público é considerável, talvez, por se tratar de uma comédia tão barata, de moldes teatrais, movida a diálogos em espaços fechados, mesclando dois núcleos distintos: Um similar a um elenco de novela das 21:00 hs, onde a família de comercial de margarina esconde segredos e traições. O outro, é como um Zorra Total da terceira idade, protagonizado por Tyler Perry em três papéis distintos como os irmãos, Joe, Heatworth e Madea, o personagem central. 


Anthony, o falecido (Derek Morgan) que morreu feliz, 
usando "um estimulante"...

 O riso está concentrado no trio principal de idosas tias Barm (Cassi Davis) e Hattie (Patrice Lovely) e Madea, que é o coração do filme, conectando o arroz com feijão à farofada dos personagens cheios de um humor politicamente incorreto. Norbit (2007) de Brian Robbins e Vovó Zona (2000) de Raja Gosnell são referências óbvias a este filme. O primeiro porque Eddie Murphy se reveza no papel dos protagonistas do filme. O segundo, devido a semelhança com a icônica personagem interpretada por Martin Lawrence.


Família largada e disfuncional...

No filme, o que era para ser uma alegre reunião da família, que se reúne para comemorar o aniversário de casamento do tio Anthony (Derek Morgan) e Vianne (Jen Harper), desanda quando o tio Anthony morre, levando a família da comemoração à lamúria em questão de horas. A causa da tragédia demora a aparecer, envolvendo a trama em uma rede de fofocas e desconfiança, se transformando em um pesadelo para Madea e seus companheiros (que achavam que iam para uma reunião de família como outra qualquer) precisam planejar um funeral no meio da viagem à Georgia, que ameaça revelar sórdidos segredos de família.


Madea (Tyler Perry) sendo o que ela sabe ser melhor, 
ou apenas o que ela sabe ser : Ela.

A estrutura geral do filme se resume a isso: Uma série de esquetes costuradas, cada uma em torno de uma única ideia, durando uns dez minutos pelo menos (o que para um filme é uma eternidade...), com um único motor humorístico: a obscenidade PG-13 (permitida para menores de idade), onde se insinua sexo o tempo inteiro sem jamais passar ao ato, encarregando os personagens idosos dessa ameaça de erotismo, e os jovens vivem um melodrama sobre esposas traídas e irmãos pecadores.




Tyler (&) Perry bricando de Eddie Murphy...

Pela configuração limitada do espaço e do tempo, lamenta-se o desperdício de atores talentosos como no momento que Vianne (Jen Harper) faz um discurso inspirado sobre o sofrimento das mulheres no século XX e as oportunidades para as mulheres do século XXI – embaladas pelos movimentos feministas e empoderadores (um dos poucos pontos interessantes da trama), sendo aqui possível sentir a solidão da matriarca. Mulher, negra, com três filhos e pouquíssimas oportunidades, fez o que pode para dar o melhor para sua família (mesmo que isso significasse seu sofrimento, sua insatisfação com a vida e sua depressão) mas, em meio às infinitas piadas de pênis... enquanto outros como Rome Flynn tentando extrair dramaticidade ou Patrice Lovely tentando ser engraçado se equivalem em suas vãs tentativas. Os atores são dirigidos como se pertencessem a filmes diferentes: Os personagens Sylvia (Ciera Payton) e Gia (Aeriel Miranda) atuam com toda a seriedade do mundo, enquanto Carol (Kaneshia KJ Smith) e todos os personagens de Tyler Perry se esbaldam no humor físico e escatológico. A unica coisa realmente risível nesse filme, é a sua coincidência, que todos estão no mesmo hotel na mesma hora, se encontrando no mesmo acontecimento… A mistura resulta num prato indigesto, elaborado sem muito cuidado na elaboração, nem na execução.A iluminação lembra um spot publicitário, a direção de arte se faz meramente funcional. Neste universo de perucas e barrigas de enchimento, tudo é acessório, tudo é artifício. Quando os personagens saem nas ruas, não existe ruído, não há outras pessoas ao redor. O mundo é um grande estúdio.




Vianne (Jen Harper) e A.J.(Courtney Burrel) o 
discurso empoderado de uma mãe.

Para nós brasileiros, o filme pode ser consumido como um produto genérico, podendo até se estabelecer um paralelo com humoristas brasileiros igualmente conhecidos pela representação carinhosa/grosseira das classes populares, entre gritos e piadas maliciosas. Perry, mostra que Madea, apesar de seu tom burlesco exagerado, não tinha fôlego para mais um filme, e nisto pode-se questionar também até quando sobreviverá o humor do travestimento, a graça de ver um homem vestindo roupas femininas, apalpando os seios postiços, com maquiagens exageradas de modo a revelar ao público sua farsa (afinal, o prazer se encontra na própria percepção do falso) e até quando as figuras tipicamente marginalizadas serão alvo de chacota (ou seja: Quando vamos parar de rir delas para começar a rir com elas)?


A "beleza" está nos olhos???
O filme talvez tenha recebido o destaque pela presença do elenco inteiramente negro, no momento em que se demanda, com razão, maior representatividade étnica na arte, mas chegando à sua segunda década, o século XXI, ainda prefere ridicularizar grupos tradicionalmente rechaçados ao invés de atacar as figuras de poder, ficando o tal “protagonismo negro” neste caso, contraproducente por reforçar estereótipos ao invés de subvertê-los, e dito isto, 
Um Funeral em Família consegue ser mais confuso do que os fizeres rápidos da personagem titular. Considerando o quão bem o personagem lhe serviu, Perry não retribui o favor neste episódio sem graça, cheio de um melodrama, desnecessário e sem nenhuma desenvoltura do elenco, virando uma grande novela mexicana de 1h 49min.


Adeus Madea, e já vai...


 

 

Resenha - Séries: Os Mistérios do Detetive Murdoch






Forçado? Sim. Inviável? Não!!!

por 

Alexandre César

_____________________________________________


Série canadense surpreende pela abordagem criativa


A equipe fixa da série

A quantidade de séries feitas na época da TV aberta já era grande, tendo nos últimos anos com o surgimento das redes à cabo (e depois o streaming...) atingido um volume impossível de podermos assistir a tudo e, termos uma vida. Por isso muitas vezes esbarramos com uma daquelas séries que ficam escondidas na programação da TV a cabo por não ser uma produção muito conhecida do grande público, algumas vezes inclusive há muito descontinuadas, mas que se revelam pequenos grandes tesouros.

William Murdoch (Yannick Bisson) 
o detetive conservador de mente aberta
 

Os Mistérios do Detetive Murdoch (Murdoch Mysteries) é uma dessas séries que ninguém (ou quase ninguém) ouve falar, vinda daquele frio e distante país chamado Canadá. Descobri absolutamente por acaso, no canal + Globosat , sendo baseada na serie literária de Maureen Jennings, William Murdoch é um detetive de polícia que investiga crimes usando lógica, inteligência e ciência avançada, como um mix de MacGyver e CSI na Toronto Vitoriana de 1895, tendo sido produzidos por Christina Jennings, três telefilmes em 2004 estrelados por Peter Outerbridge.



Dra Julia Ogden (Helene Joy) a parceira
 de aventuras forenses

Em 2008, o canal regional City TV decidiu produzir uma série, com adaptação de Cal Coons e Alexandra Zarowny, estrelada por Yannick Bisson, tendo sido produzida até o seu quinto ano (quando o canal passou por uma mudança de diretoria, dois homens da divisão de Esportes ficaram com o controle e não estavam interessados em drama, independente da audiência dos programas, querendo o espaço na grade de programação para exibir mais reality shows americanos), quando foi resgatada de cancelamento pelo canal CBC, que passou a veiculá-la a partir da sua sexta temporada.


Thomas Brackenreid (Thomas Craig) o chefe inicialmente
 cético quanto à metodologia de Murdoch.

A história acompanha o detetive William Murdoch (Bisson), católico praticante com uma visão romantizada sobre a vida, que busca por um relacionamento ideal, conforme os costumes de sua época e as regras ditadas por sua religião (como um homem do seu tempo, Murdoch sofre perseguição religiosa por ser um católico em uma cidade protestante, conflito este que durou décadas....) Já no trabalho, ele é uma pessoa racional, que adota um olhar científico, utilizando seu poder de dedução e os recursos técnicos da época, alguns inovadores (a história trabalha com o início da tecnologia forense) para solucionar crimes e descobrir a verdade. Detalhista, ele não descansa enquanto não encontrar uma resposta para cada evidência encontrada. Mas, embora apaixonado por seu trabalho, sua filosofia de vida constantemente o leva a entrar em choque com a sua realidade, suscitando o deboche dos colegas na polícia e o ceticismo do chefe, o Inspetor Thomas Brackenreid (Thomas Craig), mas é normalmente Murdoch que acaba resolvendo os casos.



O oficial George Crabtree (Jonny Harris)
 o "sidekick" de Murdoch

De forma simillar a muitas outras séries baseadas em livros que não têm uma quantidade tão grande de histórias, a produtora Shaftesbury Films basicamente adquiriu os direitos sobre os personagens e contratou uma equipe de roteiristas para desenvolver a série, tornando mias leves os personagens e Murdoch, mais inclinado às questões científicas que nos livros, colaborando a autora com os roteiristas, tendo escrito um dos roteiros, “Staircase to Heaven” da 5ª temporada.



"-Elementar meu caro Murdoch!" - Sir Arthur Conan Doyle
 (Geraint Wyn Davies) é um dos ilustres personagens 
históricos que surgem ao largo da série.


Apresentando episódios fechados (de 50 minutos) e com temas sociais que atualmente são uma constante nas produções televisivas atuais, como homossexualismo, aborto, preconceito racial, feminismo, abuso sexual, terrorismo, entre outros. O fator de interesse é que apesar de ser uma época bastante específica, a série mostra bem a dinâmica da vida das pessoas naquela época, quando começavam os movimentos sufragistas, visando o reconhecimento dos direitos das mulheres, as primeiras organizações de movimentos operários e se esboçavam os movimentos de grupos raciais.


Invenções são o que não faltam...

Murdoch é auxiliado pela Dra Julia Ogden (Helene Joy), a legista (e protagonista feminina) bela e divertida que faz piadas inapropriadas e escuta música alta de gramofone enquanto realiza necrópsias, muitas vezes vemos a história focar em sua vida. Desde legista no necrotério municipal, para psicanalista, sufragista (e outras coisas...), sendo a representação de uma mulher moderna, com ideias bem atuais, não deixando de ter personalidade e pensamentos próprios e, embora esteja conectada a Murdoch (algo como Mulder e Scully de Arquivo X, mas bem mais maduro...), em nenhum momento isso é o que a define. Na vida real é possível que uma mulher realmente tenha trabalhado como legista, pois existem registros de 1883 da primeira mulher a se formar em medicina no Canadá, então pode-se dizer que é forçado mas não que é inviável, pois a vida imita a arte, e muitas vezes a supera...

 
A Dra. Emily Grace (Georgina Reily) a amiga sufragista
 e lésbica de Julia Ogden



Outro personagem carismático e muitas vezes alívio cômico da série é o oficial George Crabtree (Jonny Harris) que além de nos tirar boas risadas, sempre se mostra um bom aprendiz de Murdoch, contribuindo muito para a solução dos crimes, sendo um perfeito sidekick.
 
Crabtree e os outros policiais ajudam Murdoch 
a testar os seus engenhos...

Um dos recursos de Murdoch para solucionar seus mistérios é usar invenções (Não nos esqueçamos que a sua época é na virada do século 19 para o século 20, quando a tecnologia ainda é bem subdesenvolvida...). E é por isso que Murdoch está sempre inventando alguma coisa para facilitar suas investigações! Seja um detector de mentiras ou uma lanterna de luz ultravioleta para detectar sangue, ele está sempre inventando, e mais do que isso, um dos charmes da série é ver como tais objetos seriam se fossem inventados naquela época, mas embora as invenções facilitem as investigações, elas não dependem exclusivamente delas, havendo muito trabalho de campo e reviravoltas para deixar a história interessante, fugindo de obviedades, sustentando um episódio de 50 minutos.


Julia Ogden e William Murdoch: Como 
Mulder e Scully mas sem medo de relacionar-se

A série passa a idéia de Toronto como uma cidade cosmopolita, aparecendo no primeiro episódio, ninguém menos do que Nikola Tesla (Dmitry Chepovetsky) e ao longo da série outros personagens como Sir Arthur Conan Doyle (Geraint Wyn Davies), Thomas Edison (David Storch), H.G.Wells (Peter Mikhail) Alexander Grahan Bell (John Tench), Harry Houdini (Joe Dinicol), Mark Twain (William Shatner) entre outros, visitam a (na realidade, provinciana) cidade, havendo na série referências a cientistas e suas pesquisas, indo de Mendel e os primórdios da genética até a Percival Lowell e seus canais marcianos, que foram citados no episódio dos marcianos nos círculos das plantações, num irônico anacronismo já que tais círculos surgiram no final da década de 1970, culpa de Doug Bower e Dave Chorley, dois ingleses bêbados com muito tempo livre. Sério. Mas os anacronismos da série ajudam a contar uma boa história, como quando Murdoch e Tesla inventam o rádio, mas Tesla depois resolve se dedicar a outros projetos, ou quando ele descobre um perigoso programa espacial e a ação de um serial killer que cria estátuas com os corpos de suas vítimas.


Rebecca James (Mouna Traoré) a luta da
 mulher negra pela emancipação.

A série, que tinha em média 15 episódios por temporada, era filmada em Toronto, com locações em Cambridge, Hamilton, Flamborough, Dundas, Rockwood e Brantford, levando em média cerca de 12 a 14 horas por dia ao longo de cinco meses por temporada, costumava ser filmada no verão, o que para o elenco (usando, as roupas de época) costumava ser muito quente!



Crabtree e Emily Grace: Romance que termina em amizade.

A trilha sonora de Robert Carli, aliada a uma boa fotografia, direção de arte e figurinos inserem bem os personagens e as situações vividas no contexto histórico retratado, fazendo contrastes sutis com o momento atual.


Apesar das invenções, o que pesa mesmo é o trabalho investigativo.

São 12 temporadas, até agora, com mais de 180 episódios, disponíveis no GlobosatPlay (não precisando ser assinante pra assistir)


Sempre "elegante"...

Para aqueles cansados de seriados procedurais com técnicos “descolados” criando GUIs em Visual Basic para localizar IPs, Os Mistérios do Detetive Murdoch é uma mudança de ares e paradigmas, numa narrativa leve sem ser comédia, sem panfletagem e não caindo no estereótipo steampunk, com um herói muito calmo mas intenso, inteligente sem ser condescendente, conservador mas com uma mente aberta para o futuro, simpático sem ser fraco, e, que não gosta de carros, pois acha que no futuro vão poluir as cidades, e prefere andar de bicicleta (como não gostar desse cara?) sendo uma ótima opção para a entressafra das séries mais populares, tendo conteúdo até melhor do que um bom número delas.



 
 

 

 

Crítica - Séries: Love, Death & Robots 1ª Temporada



O perigo da tela azul

por

Alexandre César

_____________________________________________



Antologia animada da Netflix surpreende 


"A Vantagem de Sonnie"


Uma vez na época da faculdade ouvi que a expressão “Vinho, Mulheres e Guerra” seria a versão medieval de “Sexo, Drogas & Rock´n Roll”. Coisa que me ficou na memória por um bom tempo. Agora, neste tempos distópicos de internet, onde tudo ou é on-line ou por streaming, surge agora na Netflix a série cujo título é a materialização deste conceito em versão sci-fi: Love, Death & Robots (2019), série que se compõe de uma antologia de curtas metragens nos variados estilos de animação e abordagem de temas de fantasia, horror e ficção-científica, às vezes na proposta lembrando um pouco Black Mirror, outra série de formato antológico também da grade de plataforma, mas enquanto esta tem uma assumida influência do clássico de Rod Serling Além da Imaginação, tendo uma pegada mais colorida e abrangente, indo graças à sua variedade de estilos visuais e narrativos do visual gamer num CGI 3D, fotorealista e se levando à sério, até ao tradicional 2D, indo do realista ao mais cartunesco possível, remetendo às clássicas revistas em quadrinhos Metal Hurlant , a sua versão americana, a Heavy Metal, e as revistas da Warren Publishing Company, que moldaram toda uma geração de artistas e profissionais das artes visuais e áudio-visuais.


 
"Proteção contra Alienígenas"
 
    
Criada por David Fincher (Seven, Clube da Luta) e Tim Miller (diretor do primeiro Deadpool e do vindouro Terminator: Dark Fate), nesta 1ª Temporada temos vários formatos de episódios, de metragem variada, percorrendo vários conceitos que, se muitos deles já foram abordados anteriormente em inúmeros filmes, séries, contos, etc... aqui ganham em concisão e eficiência por justamente estarem numa narrativa de curta-metragem, não havendo espaço para encheção de linguiça e firulas narrativas desnecessárias. 15 anos após o lançamento de Animatrix (The Animatrix), lançada no agora longínquo ano 2003 em cima do tremendo sucesso da trilogia sci-fi Matrix, uma antologia de animação não era tão aguardada assim, onde percebe-se a grande liberdade que foi dada a cada equipe e estúdio responsável por episódio, tendo cada um deles cerca de 5 a 15 minutos de duração, criados por diferentes cineastas ao redor do mundo, incluindo animadores da Hungria, França, Canadá e Coreia do Sul, entre outros, em 18 histórias que na sua maioria, não aconselháveis para menores de 18 anos...


"Era do Gelo"
 

Destaco os episódios “Proteção contra Alienígenas” de Frank Balson, do Blur Studio, baseado numa história de Steven Lewis que nos mostra fazendeiros defendendo suas terras de pragas; “Para Além da Fenda de Áquila” de Leon Bérelle, Dominique Boidin, Rémi Kozyra e Maxime Luère do Unit Image, baseado numa história de Alastair Reynolds, onde a tripulação de uma nave fora de curso procura descobrir o seu paradeiro; “Dia de Pescaria” de Damian Nenow, do Platige Image Studio, baseado numa história de Joe Lansdale, onde após a quebra de seu carro no deserto, dois vendedores têm uma “viagem” surreal; “13, Número da Sorte” de Jerome Chen, do Sony Pictures Imageworks, baseado numa história de Marko Kloos, que num conto de guerra relata a relação entre uma piloto e a sua nave; “Ponto Cego” de Vitaliy Sushhko (baseado numa história de sua autoria), produzido por Elena Volk,onde temos um bando de ciborgues realizando um roubo num cenário tipo Mad Max; “Era do Gelo” de Tim Miller, baseado numa história de Michael Swanwick, temos Topher Grace e Mary Elisabeth Winstead lidando com uma situação doméstica surreal.



“Para Além da Fenda de Áquila”


Destacam-se como os melhores desta temporada:



 “Os Três Robôs” de Victor Maldonado e Alfredo Torres, do Blow Studio, baseado numa história de John Scalzi, mostrando a divertida excursão de três amigos cibernéticos ao planeta Terra, lar de uma extinta civilização: A humana. Uma pequena obra-prima do humor satírico;



“Boa caçada” de Oliver Thomas, do Red Dog Culture House baseado numa história de Ken Liu, onde vemos a improvável amizade do filho de um caçador de espíritos com uma criatura mágica numa Hong Kong steampunk, numa pequena obra-prima digna de Katsuhiro Otomo ou Myazaki;



“Ajudinha” de Jon Yeo, da Axis Studios baseado numa história de Claudine Griggis, onde uma técnica de manutenção de satélites tem um dilema vital. Ficção - Científica espacial claustrofóbica, lógica e concisa;



 
“Zima Blue” de Robert Valley, do Passion Animation Studios, baseado numa história de Alastair Reynolds, onde num estilo gráfico descolado um famoso artista plástico conta à uma repórter sobre as suas origens e o objetivo de seu trabalho e, refletindo questões como a busca do sentido da vida, o “eterno retorno” e o valor da arte;



“A Guerra Secreta” de István Zorkóczy da Digic Pictures, baseado numa história de David W. Amendola, onde um valoroso pelotão do Exército Vermelho combate o avanço das trevas nas florestas siberianas durante a Segunda Guerra Mundial. Se você curte games de guerra, irá adorar.




"Dia de Pescaria"


E é isso. Falar mais de Love, Death & Robots é cair no diletantismo. Assistam e concordem ou discordem desse que vos tecla, pois haverá justificativas para qualquer ponto de vista uma vez que a antologia prima pelo ecletismo. Seja você humorista, fã de ficção - científica, ou gamer de Call of Duty haverá o que o satisfaça. Sirvam-se...






E que venha a 2ª Temporada!








Crítica - Filmes: O Manicômio




Dez mil “likes” ou a sua alma!

por Alexandre César

_____________________________________________

 

"Big Brother" do além

 

Os intrépidos Youtubbers, vlogers,( o que sejam!!!) 
Finn (Timmi Trinks), Marnie (Sonja Gerhardt),
 Betty (Nillan Farooq), Vanessa (Farina Flebbe), 
Theo (Tim Oliver Schultz) e Charly (Emilio Sakraya) 
e ao fundo a instituição amaldiçoada...



Um santuário remoto e sombrio perto de Berlim revela uma história cheia de horror e crimes contra a humanidade. Um grupo de Youtubers acessa ilegalmente o sinistro bloco de cirurgia do local, para um desafio de 24 horas com a intenção de que o desafio viralize nas redes. Equipados com visão noturna e câmeras térmicas, os adolescentes viciados em adrenalina perseguem os rumores de atividade paranormal no prédio em decomposição, apenas para aprender cedo demais que não estão sozinhos ... e não são bem-vindos. Mas já é tarde demais para deixar o local com vida”  



Betty, a patricinha, dá dicas de moda e de tudo
 relacionado ao "ser fashionista"...

Se nos deixarmos levar pela sinopse de O Manicômio (2018) terror alemão dirigido por Michael David Pate (Gefallt mir de 2014) pensaremos estar diante de algo similar à Desafio do Além (1963) de Robert Wise ou A Casa da Noite Eterna (1974) de John Hough, marcos do cinema de horror, onde uma boa história aliada à uma boa direção e valores de produção nos transportava para um mundo onde o “Além” é uma possibilidade tão palpável quanto letal. Coisa que não é o caso da película em questão. 




A equipe monta todo um conjunto de câmeras noturnas, 
infravermelhas, etc...

 Se o avanço do YouTube e outras plataformas de vídeo no nosso dia a dia parece ser uma boa idéia para um bom filme de terror no estilo found footage, afinal, vivemos com câmeras e celulares na mão quase o todo o tempo, porque não recriar o que funcionou em A Bruxa de Blair (1999) de Daniel Myrick Eduardo Sánchez, que ao criar o clima de falso documentário, quebrou paradigmas narrativos e criou novos, mais afinados com a percepção das gerações atuais? O raciocínio faz sentido, mas a execução... 



Logo à medida que anoitece, as coisas vão ficando 
estranhas, na trama e na execução do filme...

A trama acompanha a dupla de Youtubers Charly (Emilio Sakraya) e Finn (Timmi Trinks), débeis mentais (como uma boa parcela deste nicho...) Betty (Nilam Farooq) a patricinha metida, Vanessa (Farina Flebbe) a que não sabemos qual é a sua, e finalmente Marnie (Sonja Gerhardt), a mocinha virginal que se propõe a encarar os seus medos. Todos se propoem passar uma noite numa casa mal-assombrada, para aumentar os Likes de seus respectivos canais na web, e alavancar a sua audiência, garantindo um bom retorno financeiro. Ajudados por Theo (Tim Oliver Schultz), o certinho do grupo, vão para as sombrias ruínas da estância de saúde Grabowsee, onde eram tratados casos de tuberculose pulmonar. Localizada a cerca de 30 km de Berlim, na cidade de Oranienburg, onde os Youtubers de maior sucesso na Alemanha, entram ilegalmente para enfrentar um desafio de 24 horas, que obviamente dará muito errado, tanto na trama como no filme como um todo. 


Não podiam faltar cenas de visão noturna, para enfatizar
 o clima de "falso documentário"...

O roteiro de Pate, em parceria com Ecki Ziedrich (Singles de 2016) tenta tal qual em A Bruxa de Blair explorar as novas tecnologias dentro do gênero, mas não chega perto em termos de qualidade, mergulhando no piegas acreditando que estar sendo revolucionário. 



E a contagem de corpos se inicia!!!

A produção é muito boa, com a fotografia e a direção de arte criando uma ótima ambientação da clínica em ruínas, onde os doentes de tuberculose eram sacrificados durante o período nazista, mas além disso, os personagens, por serem tão estereotipados, não criam identidade com o público facilmente em função dessa bidimensionalidade. Se qualquer deles morrer, o telespectador não será afetado por isso, afinal, não há um elo afetivo. 



-" Hei gata, você é fútil, eu sou idiota, que tal formarmos um casal???"

Fora o fato do roteiro se achar mais inteligente do que realmente é, fazendo reflexões” sobre o que consumimos na internet, ou uma crítica descarada aos criadores de conteúdos que só visam o like dos fãs, com diálogos como  “…são pessoas como você que tornam os jovens idiotas”; uma boa sacada, mas feita de forma tão superficial, que embora o grupo de protagonistas, tenham uma química razoável entre si, no máximo arrancam do espectador algumas risadas pelo jeito qualquer-coisa” dessas críticas aos vloggeiros da atualidade. 


"- Pessoal, a boa notícia é que estamos presos às portas da morte,
 a má notícia é que ainda temos uma hora de filme!"

No final temos ainda uma “reviravolta” (sim temos uma!!!) que se propõe a mostrar o quanto a história é original, jogando quase tudo da história do filme no lixo para mostrar que fomos enganados e mudando tudo nos dez minutos finais, para nos dez segundos finais (isso aí!!!) nos brindar com um gancho para uma possível e indigesta continuação. Tudo isto fica potencializado pela dublagem da versão em português da cópia a que assistimos (não que a dublagem estivesse ruim, mas é que o falso da história acaba realçando o artificialismo do recurso...) 

 
"-Ei mermão, me compartilhe!!!


E uma última observação, que quase ninguém reparou: Porque o título em português “O Manicômio” se a instituição amaldiçoada é uma clínica que tratava de tuberculosos e não de doentes mentais???
 
"- Este sim é um grande empreendimento!"

 

← Anterior Proxima → Página inicial

Postagens mais visitadas

Pesquisar este blog