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Crítica - Filmes: Borrasca




“Ainda bem que eu piloto helicóptero....” 
 
por Ronald Lima (3 Velhos Nerds) 
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Adaptação da peça peca por não saber equilibrar naturalismo e "teatralidade"
 
 
Cartaz em estilo capa de HQ de André Kitagawa
Em A Tempestade*, a peça de teatro de Willian Shakespare, temos uma história de isolamento, dor e reconciliação. São também características do filme brasileiro Borrasca. O que poderia superar a traição senão a morte e o amor? Decisões precisam ser tomadas para se seguir com a vida, mesmo que a vida não tenha nada de bom a oferecer.
 
Por meio do relato de dois amigos vamos conhecendo a vida de um terceiro amigo ausente. Os dois amigos presentes são: o escritor misantropo Gabriel, interpretado pelo dramaturgo Mário Bortolotto (autor da peça que deu origem ao filme), e o tímido Diego - o ator Francisco Edo Mendes. Borrasca tem a direção de Francisco Garcia, um dos fundadores da produtora Kinosfera Filmes. O filme ganhou dois prêmios de melhor ator à Mário Bartolotto: um no Festival português de Santa Maria da Feira e o outro no Cine PE - Festival Audiovisual realizado todo ano em Recife, Pernambuco. 
 
O amigo ausente chama-se Enzo. Ele é o pretexto para essa extensa sucessão de reminiscências sobre a vida, a amizade, o amor e o sexo. Afinal, “as mulheres não conseguiam resistir ao Enzo...” . Ele parecia ser “O Cara” , o que não devia ser difícil em comparação a estas duas figuras que conversam tal e qual carpideiras remoendo as memórias e uma inveja não assumida. Deduzimos pelo diálogo que Enzo, errasse ou acertasse, correu os seus riscos e viveu. Viver não é para os fracos, nem para aqueles que decidem pautar as suas vidas pelas comparações com as vidas alheias...
 
Gabriel (Mário Bortolotto): o tom certo entre o teatral e o naturalismo.
Partindo desse fato e da ausência do amigo, eles reavaliam as suas vidas e percebemos que o modo de vida de Enzo era o que cada um deles desejaria ter tido. Na verdades eles também se dão conta disso, mas não assumem essa constatação.
 
Agora vamos ao que o filme nos apresenta. Toda a história se passa no minúsculo apartamento de Gabriel, que dá ao filme um ambiente para as confissões sem que os personagens tenham exatamente vontade de faze-las. O filme usa e abusa de tons azuis e verdes, muito contrastes e sombras, além ter belos movimentos e enquadramentos muito próximos dos atores, fazendo um quadro harmonioso (ponto para o diretor de fotografia) .
 
Mas, quanto a edição sonora, esqueceram-se da chuva, e no final esse detalhe fará diferença. A sonoplastia é daquelas que fazem questão de demonstrar nariz escorrendo, pés arrastando-se e copos sendo preenchidos por uísque, mas barulho de chuva que é bom... Mesmo procurando transmitir um ambiente de confessionário, não custava nada o filme permitir que déssemos uma olhada na janela para conferir a forte chuva que se mostra logo no início. Nem precisava mostrar a rua, já que o plano parece ser destacar o isolamento dos dois. Água escorrendo forte pelo vidro e algumas expressões de raiva ou surpresa bastavam. Afinal, o título do filme faz alusão a chuva torrencial que cai durante a história. Mas até esses sons ambientes vão sumindo aos poucos. Se ainda estão lá acabam sendo sufocados por tanto falatório. Um maior cuidado com a edição de som, intercalando esses sons ambientais - sendo destacados, por exemplo, nos momentos de pausas dos diálogos -, enfatizariam mais a sensação de alheamento dos personagens em relação ao mundo exterior, traduzindo melhor uma atmosfera de isolamento.
 
 
Dois amigos assumidamente derrotados pela vida. Um pouquinho de luz... Perceberam?
 
Portanto dureza mesmo foi aguentar frases de efeito procurando evocar qualidades e defeitos de cada um dos três amigos - principalmente de Enzo -, ora num tom intimista, ora aos gritos - esses últimos totalmente duros e à toa. A direção de atores peca por não equilibrar a interpretação dos atores - principalmente no caso de Diego que, de forma demasiadamente teatral, não consegue convencer que realmente está querendo dizer o que diz. Aliás, todas as falas, embora usem termos chulos, são muito articuladas, como se os atores estivessem no teatro e não em uma tela de cinema. Há uma 4ª pessoa também (quase) ausente no ambiente. Gabriel o cita várias vezes mas, em determinado momento, lhe é cobrado dizer o nome soletrado como se não o tivesse dito instantes antes. Nossa...
 
O roteiro mostra uma coleção de frases ditas que soam sem nenhuma conexão entre elas. Chegam a se contradizer, o que não seria problema em um texto que demonstrasse o fluxo contínuo de pensamento, mas isso pediria um roteiro mais elaborado.
 
Diego (Francisco Edo Mendes): Excesso de teatralidade na interpretação.
Algumas colocações são interessantes e legais, mas parece que todo o diálogo foi posto em pedaços de papel em um saco plástico e os personagens vão falando a medida que escolhem a esmo os papéis no saco para lerem.
- Aí... Que fracassado é você hein!?
- Somos todos... Mas o Enzo?! O Enzo? O Enzo Não! As mulheres não conseguiam resistir ao Enzo”
- Já disse isso não? (JÁ!!!) Então direi de novo de um modo que soe diferente agora tá certo? “As mulheres não conseguiam resistir ao Enzo” Porque ele é o Enzo... Entende?
- Alguns nascem assim e outros não, você não nasceu assim... Entende...? (Tá, entendi
Entendi que em toda patota tem um Alfa que, em momentos, pode ser o fator de desunião, mas que, de fato, é o agregador. (Acabou?)
A sensação é daquelas conversas que se ouve sem querer e o primeiro pensamento que lhe vem é: “-Meu Deus... ! Eu NÃO quero ouvir isso.”
 
 
Há uma tentativa em criar empatia em relação a Gabriel e Diego e tudo fica entre um tédio e alguns lampejos. Os dois transmitem uma sensação de fastio o tempo todo, principalmente Gabriel. Diego instiga mais o amigo, mas o espectador absorve muito mais o fastio e o tédio do que uma profunda relação de amor e ódio. Alguns minutos a menos na edição aliviariam com certeza o conjunto.
 
 
E assim vão os dois tecendo seus fracassos e arrependimentos sem se mostrarem arrependidos. Puro remorso, misantropia total. Ao final, querendo evocar a brevidade e os acasos da vida, Gabriel se surpreende com o término da forte e curta chuva, e nos dá um aviso bem insosso, mas procurando causar impacto: a tal chuva foi breve, uma borrasca apenas, mas que devemos estar prontos e alertas para quando vier uma tempestade. Que tempestade? Que chuva? Que borrasca? A do começo? Ah... Essa verborragia toda, a franqueza explícita de um sobre o outro, além do Enzo, não lhes foi tempestade suficiente? Então somente se o céu cair sob vossas cabeças, puxa vida... Vamos a um Big Mac? Não pode ser o Big Bob? Verdade, prefiro o Bobs.
 
É nessa penumbra assim mesmo com poucas variações  que o 
filme vai do princípio até quase ao fim...
 
 
 
 
 
 

Clássicos do Passado - O Manto Sagrado




O que aconteceria se...
 
por Ronald Lima (3 Velhos Nerds) 
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Um clássico das matinês de cinema da Semana Santa 
 
Bonito cartaz... Servirá de inspiração para 
uma série de artistas de "sword and sorcery"...
-"O que houve com o soldado romano que ficou com o manto de Cristo?"
Essa foi a pergunta que passou pela mente de Lloyd Cassel Douglas, ministro luterano e escritor, a iniciar seu romance épico bíblico, O Manto Sagrado. Lloyd conseguiu combinar com boa desenvoltura, ficção, pesquisa histórica e eventos bíblicos (obviamente), o Manto Sagrado foi publicado em 1942 e logo tornou-se o Best Sellers de sua carreira como escritor, a ponto de que no ano seguinte os direitos para uma roteirização foram comprados pela RKO Pictures que os vendeu em seguida para a poderosa 
20th Century Fox. E aí começa. A 20th Century Fox o lançou como 1º filme em CinemaScope, tela Widescreen e som Estereofônico. Essa tecnologia foi desenvolvida por um dos presidentes da 20th Century Fox, Darryl Zanuck (Zanuck era proprietário da Fox Film.. entendeu o porquê dos dois nomes no título da empresa?). O filme 
Como agarrar um Milionário com Marylin Monroe também seria exibido em CinemaScope e até foi editado primeiro, mas o conteúdo épico/dramático do Manto Sagrado pareceu melhor ao estúdio para lançamento dessa inovadora técnica. O filme da Marylin tornou-se o 2º a ser exibido com essa nova tecnologia.
 
Esse drama histórico era certo de passar nessa época do
Certo candidato a galã, o iniciante ator inglês Richard Burton.
ano. E assim foi por anos... Anos.
 
Início de carreira para muitos e consagração para diversos atores e atrizes já famosos, clima épico suficiente até com lutas e combates, um bom novelão. Foi um marco para o início da carreira de um ainda desconhecido Richard Burton que ficou com o papel principal do filme, o Tribuno Militar Romano Marcellus Gallio, papel antes oferecido ao queridão da 20th Century Fox Tyrone Power, que fez por recusar. Richard Burton recebeu uma indicação ao Oscar por esse filme.
 
Um quadro barroco. Victor Mature - Demetrius 
- Procura confortar Richard Burton - Marcellus...
O elenco conta com um ator figurinha fácil em filmes épicos, históricos ou mitológicos desse período anos 50 e 60, o ator Victor Mature, o Eterno Sansão de Cecil B. DeMille esse possui o carisma dentre poucos em ser conhecido por sua atuação limitada porém sempre muito querido e bom puxador de público, o popular canastrão gente boa, como hoje temos Silvester Stalonne e uns outros tantos que conseguiram seguir essa trilha difícil, curiosamente Victor Mature também é um italo-americano, tal qual outro célebre de nome Nicolas Cage. Mature interpreta um ousado escravo grego chamado Demetrius que sem querer torna-se pivô de uma disputa de poder entre Marcellus Gallio e Calígula, o ator Jay Robinson.... Calígula?? Curta o filme... Fidelidade histórica não é o forte de Hollywood. Lloyd Cassel deve ter reclamado muito...
 
Também no elenco um iniciante Michael Ansara, ator de origem indígena norte-americana, Ansara sempre será chamado para papéis com necessidade de um biotipo étnico exótico, para quem não sacou a menção de seu nome, ele será o líder Klingon Kang em vários episódios da clássica Star Trek e interpretará o mesmo personagem em  Star Trek: Deep Space Nine e Star Trek: Voyager 
. No Manto Sagrado lhe caberia o papel de .... Judas! Entre as tantas histórias que rolam nos bastidores, uma delas é que o ator Cameron Mitchel, que ganharia popularidade no seriado Chaparral como o cowboy Buck fêz a voz de Jesus Cristo, e teria conseguido esse papel após ajudar Marilyn Monroe a arrumar um bom partido no filme  Como Agarrar um Milionário interpretando um “milionário que todo mundo acha que é pobre”
 
Nesta época era comum personagens icônicos como Jesus Cristo, o Presidente dos Estados Unidos, o Papa, etc... ao serem citados na trama de algum filme, não terem o seu rosto enquadrado, sendo visto no máximo o dublê ao longe ou o víamos de costas, encarando o protagonista cujo olhar sim encarava a câmera, dando assim uma dimensão misteriosa, “maior do que a vida” que o personagem teria.
 
Frustrado pela perda da aposta, Calígula consegue entre várias intrigas, transferir Marcellus para a distante e impopular Palestina, impopular entre os Romanos isso porque os Judeus nunca aceitaram o controle de Roma; Marcellus chega justamente na semana que precede a crucificação. Demetrius impulsivamente ajuda Cristo e após receber a aprovação pelo seu ato justo e espontâneo, inicia sua redenção (sem ele notar-se tanto assim desse fato). Marcellus fica encarregado de comandar a guarda responsável pela condução de Jesus ao seu destino e fica com o Manto após um típico jogo de dados romano. O filme, dirigido por Henry Koster com sua colorida fotografia em Technicolor ainda trazia estrelas como Michael Rennie (o eterno Klaatu de O Dia em que A Terra Parou de 1951) como o apóstolo Pedro, Torin Tatcher, que fêz clássicos da fantasia como  Sinbad e a Princesa (1958), Jack,o Matador de Gigantes (1962), Dean Jagger, Richard Boone e a bela Jean Simmons, como Diana, o interesse romântico do herói, anos mais tarde faria Varínia, a companheira de Kirk Douglas em Spartacus (1960) de Stanley Kubrick.
 
 
 Haveria uma continuação meio caça-níqueis Demétrius e Os Gladiadores (1954) dirigido por Delmer Daves com Victor Mature retomando o papel do escravo grego, Jay Robinson novamente como Calígula e Michael Rennie outra vez como Pedro, com Susan Hayward como Messalina, Debra Paget e Anne Bancroft.
 
 
Irmãos, o tricolor Nelson Rodrigues e o rubro negro Mário Filho. Fla-Flu
De tão marcante devido a sucessivas exibições nos cinemas nacionais e depois na infame telinha, dominou a imaginação nacional a ponto do C.R.Flamengo denominar seu uniforme justamente devido a esse filme . Mas essa alcunha criada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues seria em referência ao time de coração de Nelson, o Fluminense F.C. ?
 
 
“Diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.” 
 
Marcellus Gallios (Richard Burton ) e Pedro (Michael Rennie) que 
retornaria junto com Victor Mature em "Demétrius e os Gladiadores" 
(1954) de Delmer Daves...
 
 
 
 


 
 

Crítica - Filmes: Réplicas - De Volta à Vida



Os cuidados que a Xerox pede...

por
Alexandre César (3 Velhos Nerds)
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Keanu Reeves e Alice Eve fazem o possível em Sci-Fi "B"

 
Contando com uma filmografia que inclui hitscomo VelocidadeMáxima, as trilogiasMatrixeJohn Wick, Keanu Reeves, que além de driblar bem a passagem do tempo (tal qual Tom Cruise)tem o dom de fazer filmes ruins se tornarem bons, somente com seu carisma,entrando num seleto grupo: O das estrelas que levam uma produtora a construir um filme centralizando toda história em cima de um grande nome de Hollywood: Pacino e De Niro, por exemplo, encheram os bolsos com este tipo de projeto na década passada – o chamado “B refinado”– que muitas vezes resultam em filmes de qualidade questionável, além do baixo orçamento e do consequente lançamento limitado (quase sempre voltado para home video ou streaming). Aqui ele revisita a história arquetípica do cientista que desafia os limites da ciência, e que nesse processo vai enlouquecendo progressivamente no meio das suas obsessões, coisa que já rendeu bons exemplos da ficção científica seja no cinema e na TV (em especial no streaming, com séries como BlackMirrore no clássico TwilightZone), sendo Réplicas(2018) de Jeffrey Nachmanoff soa como um filme “B”reciclado dos anos 90 que apesar de seus pesares, é funcional, mas não o impediu de amargar nas bilheterias, sendo possível que no futuro, via TV ou streamingvenha transformar-se num guilty pleasuredos futuros espectadores.

 
robô "XBox": Os efeitos visuais refletem 
o baixo orçamento do filme.
Ambientado em Porto Rico, nesse longa Keanu Reeves (que também é um dos produtores) é o cientista Will Foster, e seus estudos e experiências implicam a transferência da consciência de um indivíduos falecidos para um corpo artificial, seja ele cibernético ou clonado, tema já explorado em filmes como
Robocop, OSextoDiae Chappie- exemplos cinematográficos derivados do subgénero MindUploading). 


A perda repentina da família o empurra numa direção arriscada.
Ele mapeia o cérebro humano e coloca via realidade virtual um modelo “impresso” deste cérebro em um robô. Mas o cérebro e o robô não se conectam, e o robô arranca partes do próprio corpo, se destruindo (ainda não há compatibilidade entre um modelo biológico e um cibernético...) fazendo o o infame chefe Jones (John Ortiz) brigar com ele, ameaçando fechar o projeto. Ele percebe que está atrasado para a viagem de fim de semana e corre para casa. Chegando em casa, logo ele parte com sua família: A esposa Mona (Alice Eve), os adolescentes Matt (Emjay Anthony), Sophie(Emily Alyn Lind) e a caçulinha Zoe (Aria Lyric Leabu)para uma típica viagem de férias, mas na noite estava chuvosa eles acabaram batendo o carro e capotando, até que caíram em um lago e o único sobrevivente do acidente é William que, vendo a morte de sua família o que faz? Obviamente pede a ajuda de seu amigo, Ed (Thomas Middleditch, que tem uma ótima química com Reeves) ele logo transforma sua família em réplicas clonadas. 


Jones (John Ortiz) e William: O patrão implacável X o gênio rebelde.
 O filme entrega a experiência de uma interatividade futurista, ainda não alcançada (que pode ou não vir a ser o nosso futuro)com uma ideia promissora, embora tratada de forma um pouco superficial, sendo um filme escapista que recicla material para abordar de forma ligeira temas como a Inteligência Artificial, clonagem e a ética e moral que as envolve, isto enquanto simultaneamente se tenta entregar um thrillerde ação onde amor pela ciência e família se cruzam numa avenida de lugares comuns, provavelmente por culpa dos investidores que queriam um produto mais comercial.


 
Zoe (Aria Lyric Leabu) a caçulinha e a grande perda da família.
Num certo momento Mona, a esposa de William começa a sentir um vazio, isso por conta que ele retirou as memórias não só dela mas de toda a família, sobre a filha mais nova Zoe, (pois não haviam cápsulas de clonagem suficientes...) para eles ela nunca existiu, entretanto todos eles sentem falta de algo, questionando a sua existência e o seu "renascimento". No filme as réplicas são muito inteligentes, e rápidas quase melhores que os originais. O filme a partir desse momento segue, Reeves tentando se adaptar a nova família, enquanto ele concilia o trabalho. Aqui se encontra a melhor parte do filme, com William tentando burlar a verdade invasiva com uma mentira cobrindo outra e sempre tentando encontrar uma saída.


Ed Ed (Thomas Middleditch), o amgo que o alerta dos riscos. 
Ele e Reeves realmente parecem ser amigos de longa data.
O
roteiro de Chad St. John e Stephen Hamel (história) em algumas passagens fica com a suspensão da descrença ameaçada, como a simplicidade com que em 17 dias William e Ed (que constantemente o alerta sobre os riscos da experiência) fazem os clones desde o momento que ele pensa em transformar a família em réplicas, até o momento do roubo dos itens para isso, ficando no ar a pergunta, Como uma empresa que replica pessoas não tem uma segurança reforçada? Mas, na metade final existe uma explicação calcada nos ardis corporativos da empresa que salvam por um triz a credibilidade da trama, mas infelizmente introduzem o clima genérico de perseguição que compromete o potencial do filme, A direção de Jeffrey Nachmanoff dribla até que razoavelmente algumas das lacunas, evitando o desastre, graças ao bom elenco.


"É só colocar umas células na incubadeira por 17 dias e... 
voilá, um clone completo e autosuficiente!!!"
O desenho de produção de Johnny Breeedt e os figurinos de Julia Michelle Santiago funcionam de forma básica, sem nenhum atrativo a mais. A fotografia de Checco Varese também é funcional, valorizando as belezas de Porto Rico, nos raros momentos de externas, e a música de música de Mark Kilian & Jose Ojeda também embala a ação como um típico telefilme, e os efeitos visuais, vão pelo mesmo caminho, não acrescentando nada demais, parecendo saídos de um
game.

 
Mona (Alice Eve) a amada esposa. Única, ou quase...
Produzido pela RiverstonePictureso filme teve um agressivo marketing que vendeu o longa como “uma grande experiência de ficção científica”, tendo seus gastos superarado os trinta milhões de dólares (a maior parte gasto com certeza nos cachês de Reeves e Eve), um valor impossível de cobrir apenas vendendo DVD’s e Blu Rays ou mesmo assinando um contrato com a Netflix.


 
O infame chefe Jones: "- É hora de 
discutir as questões trabalhistas William!"
Réplicas – De Volta à Vida mescla gêneros, como SyFy, ação, drama, comédia e suspense, e faz uma mistura agradável. O filme não tem um vilão implícito, e quando vemos o grande vilão da trama percebemos que ele não tem nada de grande e serve só parar dar uma desfecho com ação, descartando a questão ética em torno da transferência de memórias de um humano para um robô, terminando num tom “sarcástico” que até abre possibilidades para uma “continuação” ambientada neste universo narrativo, sem necessariamente se focar na família de William. Coisa que face a péssima recepção da bilheteria nos EUA não deve ocorrer, embora os produtores tenham encontroado compradores em mercados como Brasil, Japão e Índia – talvez quem sabe se faça uma continuação genérica, com custo menor, diretamente para o vídeo ou Streaming– ou seja, uma cópia da cópia...
 
"- Deixe-me ver: Copio uma sinapse aqui, apago outra ali, e 
imprimo o resto, cruzo os dedos e vejo no que vai dar..."



Resenha - Easter Eggs




Easter Eggs
Das tradições a elemento da cultura pop
 
por 
Ronald Lima (3 Velhos Nerds)
 
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 Da Idade Média aos nossos dias interconectados, sempre uma fonte de alegria...
 
"Sagrada Família e Três Lebres" gravura
 de Albrecht Düerer em 1498.
A tradição da lebre associada a Páscoa na religião católica vem da Europa Medieval onde acreditavam que as fêmeas permaneciam imaculadas após conceberem. A lebre se tornou símbolo da pureza e da concepção única da Virgem Maria.
 
 
Durante o período da Quaresma, que abrange 40 dias depois do Carnaval até os dias da Semana Santa, a carne de bovinos e aves era proibida nas refeições. Mas era permitido o sustento por meio de ovos, além de peixe. 
 
Para evitar que se estragassem, os ovos eram fervidos e a mudança de sua coloração estimulou o hábito de serem pintados. Com este novo visual , eles passaram a servir de presente durante as celebrações no período. A Páscoa já era uma data festiva na Idade Média.
 
A primeira menção com esses dois elementos juntos - coelho/lebre e ovos coloridos - foi no ano de 1682 em um livro que relata todas essas antigas tradições, citando especificamente as festividades nas regiões de fronteira da Vestfália Alemã e Alsácia Francesa. Foi escrito pelo professor Georg Franck von Franckenau e chamado: De Ovis Paschalibus. O Coelho da Páscoa, além dos ovos, entregava outros presentes, tudo como recompensa a crianças bem comportadas.
 
A conhecida brincadeira de procurar ovos escondidos é de origem francesa. Doceiros passaram a recheá-los com chocolate e doces e esconde-los para crianças procurarem. Em 1870, Ovos de Páscoa foram escondidos no terreno em torno da Casa Branca, residência dos presidentes norte-americanos, e crianças foram convidadas a procurá-los e a participar dos festejos, esse ato se tornou programa oficial até hoje realizado. 
 
E assim na linha histórica da festa, a mídia recheia e esconde em seus filmes, músicas/clipes quadrinhos e games, todo tipo de informação ligados a cultura pop. São os famosos Easter Eggs (Ovos de Páscoa).
 
 
Warren Robinett na Conferência de Desenvolvedores de Jogos
 - GDC - em 2015, na cidade de São Francisco (EUA)
O uso do termo na cultura pop para descrever algo secreto, algo que só os entendidos vão perceber, tem origem no vídeo game Adventure (Adventure for the Atari 2600), programado por Warren Robinett em 1979. A ATARI não incluía nesse período o devido crédito aos seus funcionários na criação de seus produtos, então Robinett inseriu secretamente uma mensagem.


Se um jogador movesse o protagonista do jogo sobre um pixel específico localizado dentro das catacumbas do Castelo Negro - o ponto cinza (Grey Dot), um pixel incorporado a parede sul da câmara selada - e o empurrasse até o extremo direito da tela de um corredor abaixo de um outro castelo, o Castelo Dourado, ele ganhava vários itens. Quando isso acontecia, a parede de fundo do cenário se tornará invisível, permitindo que o jogador entrasse em um quarto secreto onde se pode ler: "Created by Warren Robinett" (Criado por Warren Robinett).
 
 
Após alguns usuários comunicarem a ATARI desse fato, o diretor de desenvolvimento de softwares, Steve Wright, avaliou que era muito alto o custo da remoção deste quarto oculto do jogo e decidiu manter a mensagem e até estimular a procura daquela área escondida, criando para isso (ou adaptando, se preferir) o termo Easter Egg para associa-lo com objetos escondidos em games e a buscá-los.
 
 
 
Jogo "Adventure" da ATARI - O Castelo Dourado e 
o jogador perto de descobrir o primeiro Easter Egg.
Em 2017 Ed Fries, o Pai do Xbox, descobriu um Easter Egg no game Starship 1, também da ATARI. O jogador precisa segurar os botões Start e Disparo (Phaser) enquanto coloca uma ficha na máquina, para fazer surgir a mensagem “Hi Ron!”, Saudação a Ron Milner, outro programador da ATARI. Além da mensagem, o game garantiria mais 10 partidas ao jogador. O jogo Starship 1 é de 1977 foi instalado na época em máquinas de Fliperama.
 
George Lucas gosta de brincar com sua obsessão pelo nome de seu primeiro filme: THX1138, de 1971, criado enquanto cursava a Universidade do Sul da Califórnia em 1967. Em todos os filmes da franquia Star Wars dirigidos por Lucas esse nome é mencionado ou estampado em alguma parte do cenário (procurem). Em Star Wars: Uma Nova Esperança, de 1977, é o código da cela da Estrela da Morte onde se encontra retida a Princesa Leia.
 
 
THX1138: Um futuro em que toda emoção é proibida
Mas é em American Grafitti (1973, também dirigido por George Lucas) onde o primeiro Easter Egg do cinema deve ter surgido, Com produção de Francis Ford Coppola, foi sucesso de bilheteria e adivinhem o número da chapa do Ford Coupé 1932 de John Milner (Paul Le Mat), transformado em um Hot Road?
 
 
Ford Deuce Coupé 1932 de John Milner com 
placa THX 1138 - "American Grafitti" de 1973.
 
 
 
 
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