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Crítica - Filmes: Malévola: Dona do Mal




Flertando com Game of Thrones...

 

por Alexandre César


 Angelina Jolie e Michelle Pfeifer em duelo de divas

 


O primeiro filme de 2014 provou que uma mulher de 
chifres pode (e muito!) ser linda e cativante!!!

 
Nestes tempos de luta violenta por reafirmar as suas propriedades intelectuais em franquias lucrativas a Disney tem se deparado com as seguintes alternativas: Refilmar os seus clássicos mais populares da animação, muitas vezes sacrificando a expressividade da animação em função do uso de atores conhecidos encarnando seus personagens e de um fotorrealismo via CGI e captura de movimentos que, dependendo das forças criativas no roteiro e direção produziram resultados bem diversos fosse pelo mergulho no conceito clássico original (Cinderela de 2015 de Kenneth Branagh) fosse pela mera submissão à`tecnologia (O Rei Leão de 2019 de Jon Favreau), ou então, procurar criar uma linha narrativa distinta, como se fosse passado num universo paralelo ao dos clássicos da animação (como os elseworlds dos quadrinhos da Marvel e DC) subvertendo os cânones para olhar a trama sobre uma nova ótica, pautada em valores e problematizações mais contemporâneos, muitas vezes para horror dos mais puristas. Dentro desta linha posicionam-se Alice no País das Maravilhas (2010) de Tim Burton e Malévola (2014) de Robert Stromberg.


Passados 5 anos, a filhinha vai virando mulher,
 para o desespero da "mãe" (Angelina Jolie)...

Fruto da roteirista Linda Woolverton (que roteirizou Alice, A Bela e a Fera, e O Rei Leão original) que reinterpretou a históra da “feiticeira má, muito má, muito má” que enfeitiçou “a linda rosa juvenil” (como dizia a musiquinha de roda da nossa infância caros velhos nerds...) tirando o peso do nome da protagonista como determinante de seu caráter*, ficando este apenas por sua sonoridade, como se fosse um nome como outro qualquer e aliando de forma sutil a questão da pauta feminista às relações da cultura cristã e patriarcal que reescreve as narrativas, se apropriando de temas de origem pagã, determinando quem é bom ou mal de acordo com suas necessidades.


A bela Rainha Ingrith (Michelle Pfeifer) mãe de Felipe 
(Harris Dickinson) que ficaria mais à vontade em Westeros...

Em que pese uma série de falhas estruturais do roteiro, a sua espetacular direção de arte, figurino e ótimos valores de produção caíram no gosto popular graças sobretudo ao carisma de sua protagonista Angelina Jolie e a sua entrega ao papel que mostraram a toda uma geração de meninas que uma mulher, se for confiante de seu valor, pode seguir o seu caminho superando problemas como violência, o estupro e outros impedimentos colocados em seu caminho, sem ter de se sujeitar à vontade de um homem (a cena em que Stefan corta as suas asas, após lhe dar um boa noite cinderela” é uma ótima alegoria não só do estupro, como da mutilação genital praticada em muitos países islâmicos) e seguir em frente não tendo vergonha dos seus chifres, que aqui se tornaram um símbolo do seu orgulho e beleza. Parte da crítica e do público fundamentalista detestou, mas o sucesso, e seus U$ 758,5 milhões de bilheteria regaram a semente e era só uma questão de tempo até encontrarem uma forma de fazer a continuação de uma história que parecia fechada... ou não?


Aurora (Elle Fanning), Malévola e Diávolo 
(Sam Riley): Os representantes de Mohrs...

 Dirigido por Joachim Rønning (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar de 2017 e Expedição Kon Tiki de 2012, ambos com Espen Sandberg) Malévola: Dona do Mal (2019) traz novamente Angelina Jolie, cada vez mais diva e segura de si, ao papel que consagrou e cuja beleza para lá de exótica a toda uma legião conquistou, colocando a anti-heroína face a questões pontuais como a imposição da submissão da mulher à sociedade, o avanço do reacionarismo, a intolerância a até, as fake news que espalham o medo entre os povos, dividindo-os para depois, conquistá-los. É claro que como é um blockbuster da Disney não devemos esperar algo demasiadamente profundo e impactante, mas que a alegoria está lá, olha com atenção espectador, que está...



Como diz o título de um filme clássico:
"Adivinhe quem vem para jantar?"

No roteiro de Woolverton (reescrito por Jez Butterworth em colaboração com Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster) já se passaram cindo anos, e a lenda da Bela Adormecida se espalhou por todos os reinos e para surpresa de Malévola, apesar de sua redenção pessoal, ela continua a ser retratada como uma bruxa maligna, indigna de simpatia. Neste contexto, a Princesa Aurora (Elle Fanning, fofa e cativante) regente do reino mágico de Mohrs é pedida em casamento pelo Príncipe Felipe (Harris Dickinson, substituindo Brenton Thwaites) e... finalmente ela aceita, para preocupação da super-protetora madrinha, por ainda não confiar plenamente nos humanos. Os regentes do reino vizinho, pais do noivo são o bonachão gente boa Rei John (Robert Lindsay) e a bela e ambiciosa Rainha Ingrith (Michelle Pfeifer, ótima no “modo Cersei Lannister de Game of Thrones) que rancorosa por confrontos passados de sua dinastia com Malévola, não vê a hora de por as mãos nas terras e recursos de Mohrs, depois é claro, de se livrar de todos as fadas e aqueles outros seres elementais incômodos, os “povos da floresta”... Familiar não???


O "tempo fecha" paraa a Senhora de Mohrs,
 graças às maquinações da Rainha...

Auxiliada pelo fiel escudeiro Diávolo (Sam Riley) Malévola tenta polir seu trato social para causar um boa impressão na corte do noivo. Durante o jantar de apresentação, fica evidente o conflito iminente entre as duas casas, refletidos nos impecáveis trajes, atestando aqui a competência da figurinista Ellen Mirojnick (O Rei do Show, Minha Vida com Liberace, Tropas Estelares) que captam o luxo e ostentação com um toque demodê da nobreza, em contraste com a elegância sóbria e despojada dos povos mágicos. Apesar de seu esforço “diplomático” (de não “cair matando”...) tudo dá errado, colocando Malévola contra Aurora, e incriminando-a em um atentado para logo em seguida ser ferida em fuga, e depois ser resgatada inconsciente e levada a descobrir o santuário do seu povo, que há muito ela julgava perdido.


As aparências enganam: Conall (Chiwetel Ejiofor) o 
pacífico líder do povo alado, de onde Malévola se origina...

Surge aqui uma interessantíssima adição à mitologia da personagem, que esperamos ser futuramente mais expandida: Os auto intitulados “Filhos das Trevas”, liderados pelo pacífico Conall (Chiwetel Ejiofor de O Rei Leão e Doutor Estranho) se constituem uma união de seres alados de várias partes do mundo, com grande diversidade racial nos traços, cor de pele, olhos, cabelos e formatos de chifres, que foram se afastando à medida que os reinos dos homens cresciam e se expandiam, sendo descendentes de um ser mítico chamado “Ave Fênix” (Bom, agora a Marvel é Disney não?!) da qual, por seus poderes de transmutação, Malévola é a descendente direta. Aqui devemos ressaltar a incrível trabalho do Design de Produção de Patrick Tatopoulos (Liga da Justiça, Eu, Robô, Cidade das Sombras) e da equipe de direção de arte e de caracterização dos personagens, bastante similares em termos de estrutura social aos Navihs de Avatar (2009) de James Cameron, e também tendo um quê”de O Paraíso Perdido de John Milton, pois estes seres alados tem o seu refúgio numa grande caverna subterrânea, parecendo uma reinterpretação do conceito de “anjos caídos” (os neopentecostais vão “adorar”...) temperados com um toque de ”United Colors of Bennethon”. Inclusão é pauta de ordem.


O guarda-roupas real é uma boa analogia aos 
"bons modos" que escondem atos e interesses escusos....

 Aurora é acolhida pela futura sogra, e vai se submetendo às imposições dela para se tornar uma “bela e recatada do lar” até chegar o ponto de descobrir as maquinações da Rainha, cuja corrida armamentista e a campanha de caluniar a reputação de Malévola tem como objetivo a expansão territorial e dominar do reino de Mohrs, com direito inclusive a uma paródia (mais branda é claro...) do ”casamento vermelho” de Game of Thrones.


feminilidade tóxica: em contraste com a relação 
Malévola-Aurora, a Rainha Ingrith e Gerda (Jenn Murray)
 representam o lado negro das alianças femininas...

Obviamente Malévola recupera sua força e há uma grande batalha entre os homens e sua tecnologia bélica e os “Seres das Trevas” alados e, tendo ao final a vitória das forças da justiça e do entendimento, culminando no casamento do príncipe e da princesa e, na fusão dos reinos estabelecendo a convivência pacífica dos povos (e você duvidava de que isso não fosse acontecer, não?).


Tal quel Felipe, O seu pai Rei John (Robert Lindsay)
 mostra um modelo de masculinidade mais acolhedora, amorosa...

Os personagens falam e fazem o que o roteiro pede de forma básica, sendo assim, Felipe é o príncipe galante de boa índole numa mostra de masculinidade gentil, Diávolo, que agora tem menos espaço em cena do que no filme anterior continua sendo o equivalente ao amigo gay da heroína, caso estivéssemos diante de uma comédia de Julia Roberts ou Sandra Bullock, da mesma forma que o trio das fadas atrapalhadas Flittle (Lesley Manville), Thistlewit (Juno Temple) e Knotgrass (Imelda Stauton) são meros alívios cômicos, o Rei John é um regente amoroso que contrasta com a sua ambiciosa esposa (o que nos leva a questionar a sua competência por não notar as intrigas da Rainha correndo enbaixo de seu nariz...), embora outros deixem interrogações no ar como Gerda (Jenn Murray) a fiel escudeira da rainha, cujo visual um tanto andrógino remete à jovem Tilda Swinton em Orlando, A Mulher Imortal(1992) de Sally Potter ou Borra (Ed Skrein de Alita: Anjo de Combate e Deadpool) o impetuoso guerreiro alado com toques de William Wallace de Coração Valente (1995) de Mel Gibson cujas trocadas rápidas de olhar sugerem que futuramente, caso haja um terceiro filme, poderá haver match para Malévola, a solitária Senhora de Morhs.

Os "Seres das Trevas" são uma ótima adição à mitologia
 da história, pedindo um maior desenvolvimento futuro...

 A música de Geoff Zanelli (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) embala a trama eficientemente, e a fotografia de Henry Brahan (Guardiões da Galáxia Vol. 2, A Lenda de Tarzan) valoriza em belos closes a beleza de suas atrizes e os seus incríveis ambientes, aliada à edição de Laura Jennings (No Limite do Amanhã, 007 – Operação Skyfall) e Craig Wood (Homem-Formiga e a Vespa, A Grande Muralha) acertam o ritmo das cenas de ação eficientemente, aliados aos efeitos visuais da Moving Picture Conpany e da Mill Film que mostram bem a diferença de combate entre um povo avançado em tecnologia bélica e estratégia e de um que guerreia de forma instintiva, ainda que com maior força física e capacidade de vôo.

A Rainha vai a guerra com tudo!!!

Ao final, entre erros e acertos podemos afirmar sem sombra de dúvida, nestes tempos de personagens femininas fortes e de universos de super-heróis a seguinte frase:

Malévola, no auge da luta mostra porque é descendente da "Ave Fênix"...

- A Marvel têm a Viúva negra, a Vespa, a Capitã Marvel e a Feiticeira Escarlate (entre muitas outras...), A DC têm a Mulher-Maravilha, a Supergirl, a Batgirl, a Zatanna e a Mulher-Gato (entre muitas outras também...) e a Disney

- Ah! A Disney tem a Malévola, e está de bom tamanho!!!”

Ao final, só amor entre mãe e filha é o que conta...


"- Nos vemos em breve na sequência meus súditos!!!"




*: Malévola: Feminino de malévolo (Que possui uma péssima índole; que é mau; malvado. Que causa o mal a alguém; que tende a ser pernicioso;...) . O mesmo que: maia, perversa, malvada, maldosa, maléfica, malfazeja, maliciosa. Que possui... adj. (do dicionário online de Português)


Clássicos do Passado: Os Primeiros Homens na Lua (1964)



A luta de classes selenita

 

por Alexandre César


 H. G. Wells e Ray Harryhausen em grande estilo

 

Um dos clássicos do "Dynamation", o método

 de filmagem de Harryhausen...

 
O mundo deliciava-se enquanto uma missão conjunta das Nações Unidas chegava pela primeira vez à Lua, pelo menos é o que todos pensavam. Logo o entusiasmo dá lugar ao espanto quando os astronautas descobrem sobre uma pedra uma antiga bandeira da Inglaterra Vitoriana e um documento reclamando o satélite como possessão de sua majestade a Rainha Victoria provando que os astronautas não eram os primeiros homens na Lua.
O prólogo, quando uma missão das Nações 

Unidas pousa na Lua...
 Tem início uma investigação procurando encontrar o último remanescente da tripulação vitoriana – encontrando num asilo, um agora envelhecido Arnold Bedford (Edward Judd) e ele lhes conta a história de como ele e a sua namorada, Katherine Callender (Martha Hyer), juntamante com o inventor, o Professor Joseph Cavor (Lionel Jeffries), realizaram a expedição em 1899. Cavor havia inventado a Cavorita, uma pasta que aplicada a qualquer superfície, quando exposta, possibilitava anular a ação da gravidade sobre esta.
Na Lua, os astronautas fazem uma incrível descoberta...
 Cavoro estava terminando a construção de uma esfera metálica com painéis retráteis embebidos por esta substância, que através de trilhos expunha-os e retraía-os podendo assim dirigir a trajetória da esfera em sua viagem da Terra ao seu satélite natural. Tendo Arnold e acidentalmente Katherine, eles vão aos trancos e barrancos ajustando a sua trajetória para o seu destino onde, para o seu total assombro, eles descobrem abrigos subterrâneos, onde uma população de aspecto insectóide, (os Selenitas) com uma avançada civilização que logo se interessa pelos inesperados visitantes da Terra, bem como pelas suas intenções...
A americana romântica Katherine Callender (Martha Hyer)

 e seu amado picareta Arnold Bedford (Edward Judd) 
na bucólica paisagem rural inglesa.


 Dirigido por Nathan Juran (Simbad e a Princesa de 1958, Jack, O Matador de Gigantes de 1962) , baseado na novela de H.G. Wells, Os Primeiros Homens na Lua (1964) é um clássico incontestável das matinês e das sessões da tarde dos canais de TV aberta nos anos de 1968 a final dos anos 1990, sendo a única incursão no universo de Wells do mestre dos efeitos especiais Ray Harryhausen, com a sua expertise na técnica do stop-motion nos presenteou com clássicos da fantasia como O Monstro do Mar (1953), que inspirou Godzilla, A Invasão dos Discos Voadores (1956), A Nova Viagem de Simbad (1973) entre vários clássicos da fantasia e ficção-cientifica escapista.
Bedford descobre que o seu vizinho, o Prof. Joseph Cavor
 (Lionel Jeffries) criou uma potencial "mina de ouro"...



 O roteiro de Nigel Kneale (Uma Sepultura na Eternidade de 1967) e Jan Read (Jasão e o Velo de Ouro de 1963) adaptam as idéias básicas da obra de Wells, inserindo algumas atualizações, como o uso de escafandros (no livro de Wells a Lua tinha atmosfera) e deixando de lado as suas analogias políticas (no livro, a civilização selenita tinha uma extrema especialização de seus habitantes ao seu trabalho e função, até no aspecto físico, sendo uma crítica à estratificação da força de trabalho das populações inglesas) pois o objetivo era fazer um filme família com uma aventura colorida e fantástica, coisa que Harryhausen (com o produtor Charles H. Schneer), George Pall e Walt Disney faziam como ninguém.
Bedford convence Katherine a testemunhar a venda da
 propriedade (que ele dizia ser sua) para Cavor,
 sendo intimada na justiça...



 Filmado em locações de New Haw e Chertsey na província de Surrey e nos estúdios Shepperton, na Inglaterra, foi o único filme em que ele usou lentes anamórficas, o que o obrigou a fazer alguns dos modelos usados em cena com as dimensões distorcidas (mais achatados) para que ficassem com o aspecto correto em cena. 
Ela vai tomar satisfação na hora do lançamento da esfera, 
obrigando Bedford a puxá-la para dentro para salvá-la da explosão...



 Harryhausem e Schneer tinham a sua base de operações na Inglaterra desde o final da década de 1950, pois os custos de filmagem e produção inglesas eram bem menores do que as americanas, o que lhes permitia fazerem filmes de relativamente baixo orçamento e bons valores de produção (coisa similar acontecia aos clássicos de terror da Hammer Films).
"-Tally-hooo! Para a Lua!!!"- diria um inglês 
vitoriano e imperialista...



 Como prova dos valores de produção temos a bela fotografia de Wikie Cooper (Pavor nos Bastidores de 1950) que embeleza as poucas cenas das paisagens campestres inglesas e os coloridos cenários das paisagens lunares, valorizando a Direção de Arte de Johhn Blezard (Quando os Dinossauros Dominavam a Terra de 1970) com cristais gigantes e um tom expressionista e os Figurinos de Olga Lehmann (Os Canhões de Navarone de 1961), em especial os trajes vitorianos dos personagens principais e em contraste, os trajes coloridos dos astronautas (Cada nação com uma cor, sendo que a dos russos, por incrível que pareça, não é vermelha...).
O peso adicional de Katherine obriga Cavor
 a recalcular a trajetória da esfera...



 A direção de Juran é competente, aproveitando ao máximo o que o orçamento modesto lhe permitia, ajudado pela montagem de Maurice Rootes (Jasão e o Velo de Ouro) que dá um tom veloz a narrativa, mas permitindo algumas pausas no tom para respirarmos e podermos entender a história. O ritmo hoje em dia seria considerado lento... 
O trio admira as belezas do espaço em sua viagem...
 A atmosfera é fornecida pela música de Laurie Johnson (Dr. Fantástico de 1964 substituindo Bernard Herrmann que exigiu um cachê proibitivo) com acordes iniciais bem dramáticos, uma suite romântica bem da época para os momentos do herói com a sua namorada e tons de fanfarra que valorizam graça e o pique da aventura escapista.




O "Mooncalf", uma das criaturas fantásticas do filme, sendo
 caçado pelos selenitas como fonte de alimento...

 Quanto ao elenco, Judd é o herói improvável, um autor de teatro falido que vê na invenção do vizinho Cavor uma possibilidade de fazer fortuna, mas que na hora do aperto até que sabe se virar bem; Jeffries é o cientista idealista e capaz de coisas extraordinárias mas, ingênuo quanto às malícias do mundo, e Hyer é a noiva apaixonada e donzela em perigo (a personagem não existia no original de Wells, sendo criada como uma americana natural de Boston, talvez como alusão ao livro de Jules Verne Da Terra à Lua, cuja sede do Clube do Canhão se localizava nessa cidade).

 
Enquanto os homens exploram o território, os 
selenitas capturam e estudam a esfera...

 Como curiosidade temos Peter Finch (Oscar por Rede de Intrigas de 1976) numa participação não creditada como um oficial de justiça, pois estava filmando no estúdio ao lado Crescei e Multiplicai-vos de Jack Clayton, substituindo William Rushton, que debandou do filme em cima da hora.

A direção de arte é rica para um filme de baixo orçamento.

Os selenitas são um show à parte , como 
todo ser animado de Harryhausen...

O filme teve mate paintings de Bob Cuff (que faria clássicos como A Princesa Prometida de 1987 e As Aventuras do Barão de Munchausen de 1988) e feitos especiais adicionais de Les Bowie (dos clássicos de horror da Hammer) e Kit West (que futuramente faria Os Caçadores da Arca Perdida de 1981, Duna de 1984 entre muitos outros) mas o espetáculo é sem sombra de dúvida de Ray Harryhausen e seus seres fantásticos como o mooncalf, espécie de lagarta gigante, os selenitas da casta dominante (os soldados eram crianças em roupas de borracha) e as animações da esfera em sua viagem ao espaço e do módulo da nações unidas, que até tem algumas similaridades visuais com o Eagle do projeto Apolo.


O casal consegue voltar, mas a esfera se perde no mar. 
Cavoro fica mas o vírus da gripe que carregava destrói 
os selenitas, cuja civlização em ruínas é encontrada 
pelos astronautas, desabando em seguida...


Visto hoje o filme se mostra um clássico ingênuo e descompromissado da época das matinês, e de uma era em que a Sessão da Tarde tinha uma grade de programação realmente boa, em contraste com a pálida amostra de agora, fruto do surgimento dos canais à cabo, que começaram a gradualmente ir segmentando a programação, eliminando filmes de perfil mais antigo para obrigar os interessados a fazer assinaturas, mas mesmo assim muita coisa atualmente está ausente das telas. Uma lástima.
A nova versão de 2010 dos realizadores 
das séries "Shelock" e "Doctor Who"...

 Em 2010 foi feita uma nova versão, para a televisão pela BBC Four dirigido por Damon Thomas (Penny Dreadfull) com roteiro de Mark Gatiss (das séries Sherlock e Doctor Who) mais fiel ao original de Wells apesar do espírito meio irônico e de mesclar dados históricos como o projeto Apolo à trama, tendo como protagonistas Rory Kinnear (o Monstro de Frankenstein de Penny Dreadfull) como Bedford e Gatiss como Cavor.


Por melhor que seja o CGI, ele perde feio para os 
bonecos animados de Harryhausen...

Em tempos de comemoração dos 50 anos da conquista da Lua (que muita gente "informada" diz ter sido feita num estúdio...) é uma boa pedida lembrarmos dessa época em que nas fantasias mais ingênuas os heróis eram homens de ciência que não acreditavam em besteiras e teorias conspiratória que servem apenas para travar o caminho da humanidade rumo a um patamar maior de uma realidade ampla e complexa que nos força a evoluir, e não à acomodação de uma visão de mundo simples, manipulada e plana...


"- E neste ano do nosso senhor, eu invoco este território
 como possessão de sua Alteza a Rainha Victoria, 
em nome de Deus e de São Jorge!!!"

Pilares da Imaginação: Júlio Verne



De Nantes para o infinito!!!

por Ronald Lima

O mais popular autor francês e um dos pais da FC
 
Foto tirada por seu amigo fotógrafo, 
balonista e pesquisador Félix Nadar

 Não dá para falar em cultura pop, aventura e ficção científica sem falar no escritor francês Júlio Verne (✰ 1828 ✛1905). Quando ele tinha 11 anos, fugiu de casa e conseguiu uma vaga de aprendiz de marinheiro em um navio com destino a Índia. Seu pai o interceptou em sua primeira parada no meio caminho. Ele confessou que queria se encontrar com sua prima, por quem se apaixonara e que estava vivendo na então colônia inglesa. Impossível ser mais romântico ou aventureiro.

Dois volumes de suas "Histórias Extraórdinárias": "Capitão 
Hateras" e "20.000 Léguas Submarinas". Até hoje Verne
 é o mais conhecido escritor da França.


Verne se tornou advogado e trabalhou como corretor da bolsa de valores, mas após conhecer o escritor de livros infantis e também editor Pierre-Jules Hetzel acabou canalizando na Literatura sua ânsia para aventura, extrapolação científica e viagens a lugares extravagantes. Escreveu mais de 100 livros, a maioria deles lançadas através de uma série criada especialmente para ele chamada "Viagens Extraordinárias".
 
Acima e abaixo, duas concepções do "Albatroz",
 veículo de de "Robur, O Conquistador"
 
 
Seu primeiro romance é um dos mais populares de sua obra: "Cinco Semanas Num Balão" (Cinq semaines en ballon), em que o britânico Dr. Samuel Fergusson tenta atravessar o continente africano em um balão.
 
Incrível ilustração de Émile-Antoine Bayard
 
 
Como estão sendo comemorados os 50 anos do Homem na Lua será sobre essa obra de Verne "Da Terra à Lua" (De la Terre à la Lune) o motivo dessa singela nota. Afinal Júlio Verne “previu” muita coisa... Previu mesmo? Acredito ter sido muito mais que previsão e sim inspiração a todo o evento em todas as gerações seguintes. Verne em sua paixão por ciência descreve todo o processo de uma ida a Lua baseado em intensa pesquisa. Influenciado pelas conquistas científicas e técnicas da época, decide criar uma literatura adaptada à idade científica, vertendo todos estes conhecimentos em relatos épicos, enaltecendo o gênio e a fortaleza do homem em sua luta por dominar e transformar a natureza, a 1ª Guerra Mundial iria enterrar todo esse idealismo. Hetzel apresentou Verne a Félix Nadar, um fotógrafo interessado em navegação aérea e balonismo, de quem se tornou grande amigo e que introduziu Verne ao seu círculo de amigos cientistas, de cujas conversações o autor provavelmente tirou muitas de suas idéias. Toda narrativa da Viagem a Lua por Verne estão na verdade em dois contos, o segundo conto narra o retorno a Terra de Barbicane, Nicholl e Michel Ardan (Até o nome dos 3 cosmonautas são parecidos com esses 3 personagens do Verne, aí sim uma grande coincidência). A narrativa do retorno foi publicada 5 anos depois!!
 
Outra bela ilustração de Émile-Antoine Bayard
 - O resgate após o incrível retorno para casa. 
Episódio narrado 5 anos depois no conto
 "Viagem ao Redor da Lua"
 
 
Neil Armstrong, comandante da Apollo 11 chegou a declarar: "- Cem anos atrás, Júlio Verne escreveu um livro sobre uma viagem à Lua. Sua nave, Columbia, partiu da Flórida e pousou no Oceano Pacífico após completar uma viagem à Lua. Parece apropriado para nós dividir com vocês algumas das reflexões da tripulação conforme a Columbia dos dias de hoje (1969) completa seu reencontro com o Planeta Terra no mesmo Oceano Pacífico amanhã".
 
Os veículos de Verne inspiraram várias concepções, das
 mais fiéis como o "O Terror" (acima) de "O Senhor Mundo" 
ao "Nautilus" (abaixo) do filme "20.000 Léguas Submarinas"
 que reconfigurou o conceito de forma criativa.
 
As citações de Júlio Verne passam, a meu ver, de previsões para coincidências instigantes. Ele estimava que a missão custaria o equivalente a $12.1 bilhões de dólares em valores atuais, valor que estava incrivelmente próximo dos 14.4 bilhões que custou a Apollo 8, o primeiro veículo tripulado a circunavegar a Lua. O lançamento ocorreu de onde o autor havia indicado, no Estado norte-americano da Flórida na cidade de Tampa, pela proximidade desse Estado e cidade com a Linha do Equador, o que facilitaria no impulso. Verne calculou o trajeto em 83 horas e 20 minutos o que dá quase 4 dias, a Apolo 11 chegou a Lua em... 4 dias. A falta de gravidade também é narrada no livro. Os amigos cientistas do Verne e o próprio eram muito bons mesmo!! No conto “Viagem ao Redor da Lua” os 3 tripulantes observam (e deduzem) haver água no lado escuro da Lua.... Há um pouco de vegetação ali, o que demonstra que todo o livro é resultado de muita pesquisa e também imaginação portanto sujeito a alguns equívocos. Água no lado escuro de fato tem. Quanto a vegetação.... Errar é humano
 
 
Uma ilustração de "Viagem ao Centro daTerra". Do pólo,
 ao fundo do mar, ou às profundezas, a imaginação de
 Verne tudo ousava, fiel à ciência da época...
 
Homens da ciência também foram estimulados pelas obras de Verne, como o russo Konstantin Edwardovitch Tsiolkovski (1857-1935), primeiro cientista a estudar a importância dos foguetes para a Astronáutica; o engenheiro norte-americano Robert Hutchings Goddard (1882-1945), pai da moderna tecnologia dos foguetes; o engenheiro alemão Hermann Oberth (1894-1989) um dos precursores da ciência espacial; e o engenheiro alemão Wernher Von Braun (1912-1977), que dirigiu os primeiros lançamentos de satélites e foguetes norte-americanos, Von Braum é conhecido também por criar o Míssil Intercontinental V2.
 
Hermann Oberth e Wernher Von Braum: Dois pioneiros  da astronáutica e, desde a infância, ávidos fãs de "Viagem ao Redor da Lua" e de outras obras de Verne...
 
 Júlio Verne inspirou gerações e gerações com seus fatos científicos orquestrados sob sua maestria narrativa de pura aventura. O poeta francês Guillaume Apollinaire (1880-1918) costumava dizer que a grande virtude do estilo de Verne era a ausência de adjetivo. Seu editor e depois amigo, Hetzel o aconselhou após ler seu esboço para um 1º conto a ser publicado: “- Como narração histórica está bom. Mas quem quer História? Volte para casa e escreva de novo. Escreva aventuras emocionantes.”  
E assim ele o fez.
 
 
Embora não reconhecido na maior parte do tempo pela elite cultural,
 sempre se dizia que alguém era muito criativo tinha
 "Imaginação de Júlio Verne!"
 
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