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Resenha: Batman 80 anos



A Sombra do Morcego


Por Alexandre César & Carlos Vinicius Marins
#Batman80anos

A criação de Bob Kane e Bil Finger tornou-se mito



Primeira idéia de Bob Kane sobre como seria o 
visual do novo herói... Louvado seja Bill Finger!!!

 A pedido do editor Vin Sullivan, Batman foi criado em 1939 pelo escritor Bil Finger e pelo artista Bob Kane, com a missão de repetir o sucesso do Superman, que surgira nas bancas de jornais no ano anterior. O novo herói foi publicado pela primeira vez na revista Detective Comics 27, de maio de 1939, originalmente com o nome "Bat-Man", e sua primeira história foi intitulada de The Case of the Chemical Syndicate. Ela seguia os parâmetros narrativos das revistas pulps da época.  


O filme "The Bat" (1926) tinha um criminoso que se vestia de
 morcego,usava um planador e, tinha um "sinal de morcego"...
 
Ele é conhecido por diversos epítetos, como "o Cruzado de Capa" (The Caped Crusader), "o Cavaleiro das Trevas" (The Dark Knight), e "o Maior Detetive do Mundo" (The World's Greatest Detective). Para alcançar todo esse prestígio, fatos históricos e acontecimentos inusitados ao longo dos anos cultivaram o caminho que os diversos criadores traçaram, desenvolvendo o personagem.  


Bob Kane & Bill Finger: O oportunismo de um aliado ao talento do outro.

Os EUA emergiram como potência econômica após a Primeira Guerra Mundial. O american way of life se fortalecia de com o aumento do consumo de carros, rádios e geladeiras, além de ampliar o acesso aos meios de diversão, como grandes teatros e cinemas luxuosos. Isso permitiu aos trabalhadores de salários mais baixos começarem a consumir mais bens culturais - galpões improvisados exibiam filmes ao lado grandes indústrias, por exemplo. Foi quando aspectos culturais também ganhavam novas relevâncias, com a popularização do jazz e do blues. Os excessos dessa época teriam consequências graves com o a queda da Bolsa de Nova York em 1929, mas não tanto para o cinema e outras expressões culturais, como teatro burlesco e o rádio. Estes ganharam força como mídias populares de baixo custo, atendendo à demanda das massas por diversão escapista em face à dura realidade de então.  


A icônica capa de Detective Comics 27 de maio de 1939 e
 uma das muitas releituras que foram feitas ao longo dos anos.

Na década seguinte a indústria dos quadrinhos norte-americana, fruto de sua época, passou por sua primeira grande transformação com o surgimento dos Comic Books de material inédito, as populares revistas em quadrinhos. Até então os quadrinhos que importavam eram os publicados em tiras de jornais e páginas dominicais dos periódicos de notícias. Ele é influenciado em sua gênese por outros personagens já existentes na cultura pop, como o Zorro (do qual tirou a sua identidade secreta frívola), o Sombra (de onde veio os seus métodos justiceiros, sua proximidade com os representantes da polícia em sua identidade secreta) e Drácula (com seu apelo misterioso e assustador). Também tem importância filmes, como The Bat (1926, de Roland West), O Fantasma da Ópera (1925, de Rupert Julian) e O Homem que ri (1928, de Paul Leni), que influenciaram em aspectos que definem o universo ficcional do Batman, como o seu visual emulando um morcego, a atmosfera gótica da cidade em que vive e o aspecto risonho e, ao mesmo tempo, assustador do seu grande arqui-inimigo: o Coringa. 

A inspiração original de Bob Kane em Leonardo Da Vinci, que 
Bill Finger, sugeriu que tornasse as asas numa capa ponteada.


Batman é Bruce Wayne, um milionário americano que herdou uma rica herança e que, mesmo após a Crise de 1929, ainda é um dos homens mais ricos do país. Playboy, magnata de negócios, filantropo e dono da corporação Wayne Enterprises. Depois de testemunhar o assassinato dos seus pais por um ladrão quando era criança, Bruce jurou vingança contra os criminosos, um juramento moderado por um sentido de justiça. Bruce treina então a si próprio, tanto física como intelectualmente, e cria o Batman, uma persona inspirada no morcego para combater o crime.  

O visual 1939 é um mais legais do personagem,
 tendo sido várias vezes reciclado.


Batman opera na cidade fictícia de Gotham City - um reflexo distorcido e mais sombrio de Nova York, que tinha o apelido de Gotham City muito antes do Homem Morcego surgir no quadrinhos. Ele é ajudado em sua missão de justiça por outros personagens, incluindo o seu mordomo Alfred Pennyworth, o comissário da policia James Gordon e Dick Grayson, o Robin, seu parceiro-mirim surgido em Detective Comics 38 (abril de 1940). As vendas da revista dobraram com a jovem novidade, atenuando o seu ar sombrio.

Graças a Bill Finger, Batman virou um "Homem-Morcego".


Ao contrário de boa parte dos super-heróis, Batman não tem superpoderes. Na sua guerra contínua contra o crime, faz uso do seu intelecto de gênio, da sua perícia em artes marciais, da sua destreza física, das habilidades de detetive, do seu conhecimento em ciência e tecnologia, da sua riqueza, da sua provocação ao medo e intimidação e de uma vontade indomável de fazer justiça. Uma grande variedade de vilões compõem a galeria de inimigos do Batman, incluindo seu arqui-inimigo Coringa, surgido no primeiro número da revista solo do herói em abril de 1940, juntamente com a Mulher-Gato. Até então suas aventuras eram publicadas na Detective Comics, a partir da edição 27. Inicialmente era uma revista de antologia, reunindo HQs de diversos personagens por edição, até a chegada do Homem-Morcego. Aos poucos ele toma conta do título, que continua a ser publicado com suas aventuras mesmo depois dele ganhar sua própria revista.
  


A "Bat-família", que teve personagens para lá de insólitos...


As histórias em quadrinhos do personagem eram, a princípio, mais sombrias, apresentando um Homem-Morcego diferente do que conhecemos hoje - inclusive ele não tinha objeção em matar seus inimigos ou portar armas de fogo. Contudo, elas foram reformuladas para que ficassem mais leves, já que, aos poucos, ficou claro para os editores que seu público na época era majoritariamente infanto-juvenil. Logo, surge o personagem Robin, primeiro sidekick ou parceiro mirim de um super-herói nos quadrinhos. Robin era uma criança alegre e multicolorida, que quebrava o clima muito sombrio das primeiras histórias. Ainda na década de 1940, definiu-se que a cidade e que o herói atuava era a fictícia Gotham City, para ambientar as histórias do personagem e se permitir uma maior liberdade criativa, além de refletir sem limites o clima sombrio/noir de suas histórias. 


Embora vários artistas tenham colaborado, a maioria 
ficou anônima, oculta pelo selo "Criado por Bob Kane"...

Pouco tempo após a sua primeira publicação, o morcegão tornou-se um dos pilares da National Periodical Publications, a futura DC Comics. Firmou-se como um dos vértices da Santíssima Trindade” da editora, junto com o Homem de Aço e a Princesa Amazona, entre outros “super deuses” da chamada Era de Ouro dos quadrinhos. No inicio de 1941, Batman e Robin juntam-se ao Superman e Zatara na nova HQ World's Best Comics, com histórias de vários personagens. Artistas como Jerry Robinson e Dick Sprang trabalham com os heróis na época.  


A primeira aventura de Batman e Superman atuando 
como uma dupla. Arte de Win Mortimer
  
Em 1943, apenas quatro anos após ter surgido nas HQs, o Homem-Morcego debutava também nas telas em um seriado de 15 capítulos, batizado como O Morcego, dirigido por Lambert Hillyer e produzido pela Columbia Pictures com Lewis Wilson como Batman/ Bruce Wayne e Douglas Croft como Robin/ Dick Grayson. A segunda cinesérie do Batman feita pelo mesmo estúdio é lançada em maio de 1949. No mesmo estilo de 1943, ela se denomina Batman and Robin e tem 15 capítulos em preto e branco, só que apresenta mudanças na direção, produção e até no elenco. Desta vez Batman foi interpretado por Robert Lowery e Robin por John Duncan. Nos quadrinhos, somente na história "The Mightiest Team in the World", publicada em Superman 76 (junho de 1952), Batman trabalha pela primeira vez ao lado do Homem de Aço como uma dupla. Os heróis descobrem suas identidades secretas e iniciam uma parceria de décadas, tornando-se conhecidos como "Os Melhores do Mundo". Já existia desde 1941 uma revista com este nome (“Word’s Finest” no original) apresentando aventuras da dupla, mas sempre em historias separadas. Somente a partir de 1954 as histórias da revista retratavam aventuras deles atando em conjunto.


O logo do personagem na capa da primeira edição de 
sua revista. Com os anos sofreu várias mudanças,
 mas sempre derivadas do original

Com a década de 1950 e a Guerra Fria, onde Estados Unidos e a União Soviética se digladiavam por áreas de influência política e econômica, surgiu um período de paranoia denominado Macartismo (seu expoente foi o senador Joseph McCarthy, que liderou uma “caça às bruxas” nos EUA) que via complôs comunistas para minar o capitalismo e os bons costumes em todo lugar. Com este clima é publicado o livro A Sedução dos Inocentes, de Frederick Wertham, que combate as HQs e sua influência sobre as crianças. O mercado de quadrinhos foi um dos setores pressionado e influenciado pelo Macartismo, que impôs que as HQs passassem a ser mais infantilizadas, simples, evitando qualquer assunto mais sério, polêmico ou de cunho social. 


"Batman e Robin" de 1949, o segundo seriado das matinês da Columbia
 Pictures com Robert Lowery como Batman e John Duncan como Robin

Foi nesse momento que surgiram personagens como Ace (o Bat-cão), o Bat-mirim e, por causa das alegações de homossexualidade entre o herói e Robin, é criada a primeira versão da Batwoman em Detective Comics 233 (1956) - curiosamente, a personagem seria reformulada na primeira década do século XXI como uma lésbica assumida numa etapa de procura por uma maior inclusão social e étnica nos quadrinhos. Suas aventuras passaram a ser mais orientadas para a ficção científica, em parte também pela pressão criada pelo livro Wertham, pois nelas não víamos as mazelas do mundo real. Batman aparece como membro da Liga da Justiça na estreia da equipe, em The Brave and the Bold 28 (fevereiro de 1960), na já estabelecida Era de Prata dos quadrinhos.  


Ao contrário de Bil Finger, Bob Kane se deu muito bem 
 com o personagem, fazendo um belo pé-de-meia com ele

Com histórias em quadrinhos publicadas ininterruptamente desde maio de 1939, passando por várias revistas diferentes, Batman já teve aventuras criadas e desenhadas por muitos artistas. No entanto, alguns deles ganharam maior destaque e são sempre lembrados pelos fãs/leitores, ou mesmo pela crítica especializada. Seja devido à importância de determinada história clássica, pela contribuição que tiveram enriquecendo o universo do personagem, ou até mesmo, simplesmente, pela grande quantidade de anos e histórias em que trabalharam com ele. Como é o caso de seus criadores Bob Kane e Bill Finger, além de Dick Sprang, Jerry Robinson e Sheldon Moldoff. Sofrendo com baixas vendas, Batman sofre uma reformulação em maio de 1964, quando o artista Carmine Infantino e o editor Julius Schwartz dão novo visual ao personagem - é quando surge a elipse amarela no peito - e retornam com as histórias de detetive.  

Batman arco-irís na arte de Sheldon Mordoff: a fase pós "Sedução
 dos Inocentes" gerou histórias que eram "QUALQUER-COISA"...

Enquanto as décadas progrediam, o personagem foi passando pelas mãos de tantos artistas, e foram surgindo divergências sobre a interpretação do mesmo. Além disso, a popular série de televisão baseada no personagem (1966-69), estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin), usando uma estética camp, influenciou bastante suas HQs naquela época - sua vendagem voltou a aumentar no período. Por exigência dos produtores do seriado, foi criada nos quadrinhos a segunda (e mais conhecida) versão da Batgirl - a primeira surgiu como companheira da já citada primeira versão da Batwoman. A série também ressuscitou o personagem Alfred Pennyworth, que estava morto nos quadrinhos há algum tempo, e continuou a ser associada ao personagem durante muitos anos, mesmo após o seu encerramento e as profundas mudanças que o personagem passou desde então.

Batgirl (Ivone Craig), Robin (Burt Ward) e Batman (Adam West) 
no divertido seriado mais "QUALQUER-COISA" da história da TV...

Após a queda da popularidade e o consequente encerramento da série de TV, diversos artistas que produziam suas HQs começaram a mudar o teor das histórias do Batman, procurando distanciá-lo daquele estilo pueril e até cômico. A ideia era uma volta das características sombrias dos velhos tempos, trazendo de volta os vilões assustadores e as ruas escuras e tenebrosas de Gotham à noite. Os primeiros a seguirem este caminho foram o roteirista Dennis O’Neil e o notável ilustrador Neal Adams - com a arte final de Dick Giordano -, na HQ "The Secret of the Waiting Graves" em Detective Comics 395 (Janeiro de 1970). A carreira de ambos ficou definitivamente marcada por essa passagem da dupla pelo título do morcego - Dennis inclusive se tornou na metade da década seguinte o editor de todos os títulos do personagem na DC. Nessa passagem pelo título eles criaram personagens emblemáticos, como um de seus maiores inimigos, o terrorista virtualmente imortal R’as Al Ghul, e sua filha e uma das grandes paixões do morcego, Talia Al Ghul (que, mais tarde, se tornaria mãe de seu filho). Outros artistas que muito contribuíram nesta época para esta sua versão mais séria e adulta do Batman foram Steve Engehart , Bob Haney, Marshall Rogers, Jim Aparo, Frank Robbins, Gene Colan e Ernie Chua.  

Neal Adams e seu traço realista aliado aos roteiros de 
Dennis Ò Neal resgataram a aura sombria do 
personagem, voltando às suas origens

Com o crescimento e amadurecimento dos personagens, Dick Grayson, o Robin original, se tornou adolescente e se distanciou de Batman, passando a se envolver mais em aventuras do seu próprio grupo, a Turma Titã (posteriormente conhecidos apenas como Titãs). Depois, ao tornar-se adulto, separou-se em definitivo da Dupla Dinâmica, assumindo a identidade de Asa Noturna. A decisão da separação também tem caráter editorial. Com Robin tornando-se adulto, ele vai cursar universidade em outra cidade e isso justifica sua ausência nas histórias do Morcego, deixando ambiente propício para torná-las mais sombrias e reduzindo as insinuações sobre uma possível relação homossexual entre eles.

Marshal Rogers foi outro importante artista 
para o Vingador de Gotham

A década de 1980 nos trás um novo Robin: Jason Todd, criado em 1983 por Gerry Conway e Don Newton, tem uma boa acolhida inicial, mas acaba tendo grande rejeição por parte dos fãs. Com isso ele se torna alvo de uma estratégia de marketing inusitada da DC em 1988: um número de telefone é criado para que os leitores decidam se ele deve ou não morrer. No arco de histórias “Morte na Família"(Batman 426 a 429), com roteiro de Jim Starlin e ilustrações de Jim Aparo, Jason perece pelas mãos do Coringa. Não tardou porém que um novo Robin surgisse: criado por Marv Wolfman e Pat Broderick, o jovem Tim Drake surgiu em 1989, na revista Batman 436, e teve um recepção mais acolhedora dos fãs.  

Arte promocional de Jim Aparo para "Batman: Morte em Família"


 Mas o grande marco do personagem nos anos 80 foi, sem dúvida as obras que Frank Miller elaborou para ele. O artista chegou após seu elogiado trabalho na concorrente Marvel, quando, escrevendo e desenhando, tirou a revista do Demolidor de um anunciado encerramento, transformando-o em um dos personagem mais populares da editora. 
 A primeira delas foi Batman: O Cavaleiro das Trevas
(Dark Knight Returns), mini-série que se passa em um futuro possível do Universo DC, publicada entre fevereiro e junho de 1986. Todas as mudanças no personagem traçadas por diversos autores desde a década anterior - deixando o personagem mais sombrio e realista, com suas histórias refletindo a crueza das ruas e problemas sociais da atualidade - atingem aqui o seu auge. A repercussão da obra vai além do nicho dos fãs de quadrinhos, sendo comentada e analisada em jornais e grandes veículos de comunicação por todo o mundo. Com a reformulação que as HQs da DC passavam na época - depois do lançamento da maxi-série “Crise nas Infinitas Terras”, de Marv Wolfman e George Pérez - as origens dos principais personagens da editora foram atualizadas a partir do zero e coube a Miller trazer suas ideias para as revistas de linha do personagem, dando o tom que, para muitos, ainda é a base na qual as histórias do morcego devem ser desenvolvidas. Assim surgiu o arco Batman: Ano Um, publicado entre nas edições da revista Batman” entre fevereiro e maio de 1987. Desta vez Miller cuidou só dos roteiros e deixou a arte a cargo de David Mazzuchelli, que também cuidara das ilustrações de sua última e marcante passagem pela revista do Demolidor. A década ainda teve outros clássicos revisionistas imbatíveis do personagem, criados por autores britânicos: Batman: A Piada Mortal(1988), dos britânicos Alan Moore e Brian Bolland, e Batman: Asilo Arkham(1989), de Grant Morrison e Dave McKean. Estes trabalhos estão entre os marcos da década nos quadrinhos, num período que foi chamado de Era das Trevas.  

Superman vs Batman: este confronto, depois de tantos anos
 de amizade, é o ponto alto de "Batman: O Cavaleiro das Trevas"

Em 1989, surge mais um surto de popularidade para o Cavaleiro das Trevas: Tim Burton dirige o longa-metragem Batman, com Michael Keaton no papel do herói e Jack Nicholson interpretando o Coringa. Sucesso, o filme ganharia três continuações (Batman: O Retorno de 1992, novamente com Burton, Batman Eternamente de 1995 e Batman & Robin de 1997 dirigidos por Joel Schumacher), que não obtiveram o mesmo retorno. Com o interesse pelo filme, uma nova HQ do herói - primeiro título inédito em quase 50 anos - “Legends of the Dark Knight”, por Dennis O'Neil e Ed Hannigan, vende perto de 1 milhão de exemplares.
 
"Batman: Ano Um": Uma nova e ainda atual origem. 
Arte de David Mazzuchelli

 Em 1992, Batman - A Série Animada estreia com enorme sucesso. A qualidade da animação, capitaneada por Bruce Timm com roteiros de Paul Dini, empolga os fãs, apresentando um Batman analítico e inserido em uma Gotham City noir. Na série surge uma personagem pela qual os fãs do morcego se apaixonam: a Arlequina, que estabelece uma relação doentia com o Coringa. Seu sucesso é tanto que não demora para ela ser incorporada aos quadrinhos e se transformar em um dos personagens mais populares da DC. O seriado estabelece o seu próprio universo ficcional, dentro do qual também se situam as outras séries de animação que a mesma equipe elaborou com personagens do Universo DC: Superman, Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites e Batman do Futuro. Seguiram-se outras séries do morcego de outras produtoras - The Brave and the Bold, The Batman, Beware the Batman -, além de longas animados, demonstrando os sucesso do personagem no gênero.  

Batman (Michael Keaton) e Vick Vale(Kim Basinger) no
 filme de Tim Burton de 1989

A década de 1990, a Era Image dos quadrinhos, também é marcada por grandes sagas do Batman, envolvendo diversos autores e várias revistas mensais interligadas - não apenas as protagonizadas pelo Batman mas também a outros personagens associados a ele, como Robin e Mulher-Gato, que tinham títulos próprios na ocasião. A primeira delas foi "A Queda do Morcego" (1993), em que o herói é derrotado por um novo vilão, Bane, fica paraplégico e substituído durante um tempo por Jean-Paul Valley, o Azrael. Em 1998, os longos arcos seguidos "Terremoto" e "Terra de Ninguém" marcam o fim de uma era, com a saída de Dennis O'Neil do cargo de editor das publicações do Batman.

A série "Batman Animated" e seus derivados ajudaram a 
manter o legado do personagem em alta com 
histórias empolgantes e um estilo dinâmico

Outros grandes destaques dos anos 1990 foram os trabalhos com o personagem elaborados pelo roteirista Jeph Loeb e seu colaborador frequente, o ilustrador Tim Sale , criam no final da década de 1990 duas minisséries: Batman: o longo Dia das Bruxas” e Batman: Vitória Sombria”. As HQs mostram o herói em seus primeiros dias como combatente do crime contra seus grande oponentes. Loeb voltaria em 2008 a trabalhar com o personagem, ao lado de Jim Lee,no arco de histórias Silêncio”. Um fato histórico do período foi o crossover DC vs Marvel / Marvel vs DC (1996), o sonhado e aguardado confronto entre os maiores super-heróis das duas editoras, onde Batman enfrentou e, graças a uma votação dos fãs, derrotou o Capitão América.  

No crossover das duas editoras o morcego levou
 vantagem sobre o herói patriota...

O reconhecimento de Bill Finger

Após décadas de ter seu nome no ostracismo, a DC reconheceu o legado de Bill Finger, que escreveu e fez HQs do Batman por 25 anos, lhe deu origem verossímil, motivações, cenário, galeria de vilões (em parceria com outros autores) e simbologia. Foi apenas em 1965 que alguém se deu conta que tudo aquilo não deveria ter saído da mente de uma só pessoa - sobretudo porque o Batman já colecionava revistas mensais desde os anos de 1940, fazia-se presente em várias títulos diferentes e outras mídias, como o cinema. Até que um fã, Jerry Bails, escreveu para editora para saber mais sobre quem ajudava a compor o Batman. Na resposta informaram-lhe que um dos nomes era o de Bill Finger. Kane só veio assumir a importância de Bill na criação e desenvolvimento do personagem na década de 1990, na sua autobiografia “Batman & Me”, mas já era meio tarde pra isso: ele falecera em 1974.

Justiça feita: Fianalmente se reconhece a importância de
 Bill Finger na criação do icônico personagem
A única vez até que Bill Finger viu-se atrelado diretamente ao nome Batman foi quando um dos seus roteiros, em co-autoria com Charles Sinclair, foi rodado na série de TV de 1966-1969. Finger só passou a ser creditado como co-criador do personagem após um longo tempo de trâmites processuais e os esforços de sua neta Athena, ajudada por figuras como Travis Langley ( autor do livro Batman and Psychology”). Finalmente, em 18 de setembro de 2015 , é publicada a notícia de que a DC/Warner iria reconhecer a ligação de Bill Finger à sua obra a partir do filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça e da série de TV Gotham.

O conceito de Batman de Finger (Esq.) e o conceito original
 de Kane (Dir.). Qual realmente é um "Homem-Morcego"?


 
O Morcego no Século XXI

Vários artistas deram a sua contribuição para fazer de
 Batman o que ele é hoje. qual é o seu preferido?

Em 2005, franquia Batman ganha um reboot nos cinemas pelas mãos de Christopher Nolan. É lançado em 2005 Batman Beguins, seguido por Batman O Cavaleiro das Trevas (2008) e Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), criando uma trilogia focada no realismo e nos dilemas do herói. Entre as inspirações para a trama há ideias das HQs Batman: Ano Um”, “O Longo Dia das Bruxas”, “Cavaleiro das Trevas” e “A Morte do Morcego”, mas tornando-as algo novo e independente dos quadrinhos. O destaque da trilogia é a atuação surpreendente e visceral de Heath Ledger no papel do Coringa, mas maníaco que nunca na tela grande. Sua interpretação ganhou o Oscar e o Globo de Ouro póstumo de Melhor Ator Coadjuvante em 2009 - o ator morreu alguns dias antes das premiações em decorrência de uso excessivo dos remédios que tomava.

Na trilogia de Nolan Christian Bale levou o herói a novos patamares.


 No mesmo periodo, Jogos com o personagem com roteiros originais para SuperNintendo e posteriormente Playstation, são lançados e mexem com o mercado - Batman: Arkhan Asylum (2009), Batman: Arkhan City (2011) e Batman: Arkham Knight (2015), provando que jogos baseados em grandes propriedades intelectuais podem ser excelentes se desvinculados dos lançamentos cinematográficos. Posteriormente o game Injustice: Gods among Us, e seus derivados mantém o apelo do personagem, e dos heróis da DC no geral, para o público gamer

Na série de games "Arkhan" o herói enfrentou inúmeros desafios.

O roteirista Grant Morrison voltou ao personagem assumindo seu principal título mensal em 2006, trazendo de volta temas abandonados dos anos 1950, como a ficção científica, e personagens esquecidos que, até então, não faziam parte da atual cronologia do herói, como a Batwoman original. A grande surpresa porém está no fato de que tem um filho com Talia Al Ghul: Damian Wayne. Criado para ser o sucessor de seu avô, R’as Al Ghul, apesar de ser ainda criança, Damian é uma verdadeira arma viva, apesar de ainda ser uma criança. Deixado pela mãe aos cuidados de Batman, o garoto precisa mudar seu modo de pensar e encarar o mundo com outros olhos. Morrison chegou até a anunciar a morte do Homem-Morcego com um arco intitulado "Batman: R.I.P." , mas, passando a perna no público leitor, mata o herói em “Crise Final”, a megasaga com todos os heróis da DC que escrevia em paralelo. Com a morte de Bruce, Dick Grayson tornou-se o novo Batman, e o jovem Demian virou o novo Robin, criando uma nova Dupla Dinâmica que, ao contrário do que a maioria acreditava, caiu no agrado dos fãs. Não demorou para Bruce voltar da morte e ocupar seu lugar, mas Damian, a partir de então, continua a usar o manto de Robin, mesmo após a saída de Morrison do título.  

Sinal dos tempos: Batman e... Sinal?

 O último autor a passar um longo período no principal título do Batman, deixando sua marca com drásticas alterações e criando novos e instigantes conceitos e personagens, é Scott Snyder. Ele assume o título principal do Homem-Morcego em janeiro de 2011, com início da fase da DC chamada de Novos 52, quando, mais uma vez, os personagens tem a chance de ter suas histórias recontadas do zero. Entre suas criações para a mitologia do Batman está James Jr. - o filho psicopata do Comissário Gordon -, a Corte das Corujas e o fato de revelar que o Coringa na realidade são três indivíduos diferentes. Atualmente quem cuida do Batman é o premiado Tom King e já podemos afirmar que também não será uma passagem discreta. King transforma Bane novamente em um vilão de primeira grandeza. Batman está mais humano e propenso a erros, além de abandonar o conceito de Robin como parceiro, substituindo por um outro tipo de ajudante, com nome e propósito diferente: trata-se de Duke Thomas, um jovem negro que assume o codinome de Sinal. Ele tem superpoderes e atua durante o dia, durante o período em que, no geral, Batman não está na área. 

 
Criada por Bruno Heller (Roma) Gothan lança 
um outro olhar sobre a mitologia do herói...

Em 2014 o canal FOX começa a exibir um novo seriado baseado no Homem-Morcego e em sua mitologia: Gotham. O foco do seriado, porém, não está em Batman e suas aventuras para defender sua cidade, mas no passado, tendo James Gordon, então apenas um detetive da polícia, como protagonista - interpretado por Ben McKenzie. Bruce Wayne está lá (com David Mazouz assumindo o papel), mas ainda é o garoto que perdeu os pais e se encontra em sua trajetória para lidar com seu trauma e descobrir o que fazer para compensar a sua perda. Inicialmente a série focaria nos crimes da cidade antes do surgimento de seu maior defensor, mas cada vez mais foi-se dando espaço para a aparição de tradicionais vilões do Batman, que agiriam ainda sem que usassem seus uniformes, mostrando também a sua formação. O desenrolar das temporadas torna a série cada vez mais distante das HQs em que se baseia, com supervilões do Batman surgindo, agindo e até morrendo, antes mesmo de Bruce assumir seu papel de vigilante noturno. O seriado se encerrou este ano, 2019, com sua quinta temporada. 

Bruce Wayne (David Mazouz) e James Gordon 
(Ben McKenzie): o início da lenda


Em 2015, o diretor Zack Snyder, que estava procurando estabelecer um Universo Cinematográfico da DC, deu a sua visão para o Homem-Morcego em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, com Ben Affleck interpretando um herói obsessivo e cansado, inspirado no Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, que repetiu a dose em Liga da Justiça (2017). O personagem interpretado por Affleck ainda faz uma ponta em Esquadrão Suicida (2016, de David Ayer).

Ben Afleck, Gal Gadot e Henry Cavil. Peitando
 o Universo Cinematográfico Marvel

Inicialmente um ícone cultural americano, Batman já foi licenciado e adaptado para uma grande variedade de mídias - desde o rádio, à televisão e aos filmes - e aparece em vários artigos de consumo por todo o mundo, como brinquedos e video games. O personagem tem intrigado os psiquiatras, com muitos tentando entender a sua psiquê. Em Maio de 2011, o IGN colocou Batman em #2, atrás apenas do Superman, no Top dos "100 Melhores Heróis dos Quadrinhos". É a mesma posição que ocupa na revista Empire em sua lista dos "50 Melhores Personagens dos Quadrinhos", mostrando o quão arquetípico o personagem tornou-se, rompendo barreiras culturais e idiomáticas, lançando a sombra de seu manto sobre todo o globo. 


As várias encarnações nas telas do paladino de Gothan 
ao longo dos anos. Escolha o seu Batman...

P.S: Aproveitem para fazer parte de nosso grupo aqui no Facebook ( 3 Velhos Nerds ) e participe de nossa enquete dos 80 Anos de Batman: “Quem é o seu desenhista preferido do Homem-Morcego”?


 

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