Espaço, a aventura afinal...?
por Alexandre César
A mais amada família exploradora volta com tudo
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Os Robinsons originais, tipicamente WASP (White Anglo-Saxonian Protestant) - Branco Anglo-Saxônico Protestante - como o padrão da época |
Marco pop da cultura televisiva de massas desde a sua estreia em 1965 - e, talvez, a mais popular série produzida pelo lendário ”Mestre do Desastre” Irwin Allen -, as aventuras da Família Robinson povoaram a imaginação de gerações. Avós, pais e filhos vibravam com esta fábula familiar de união face às adversidades (Sobre o seriado original, clique aqui).
A criação de Allen deu origem a brinquedos, quadrinhos, um piloto de desenho animado pela Hanna-Barbera em 1976, além de uma versão cinematográfica em 1997 (dirigido por Stephen Hopkins) e uma tentativa de voltar a TV num piloto de série em 2004 pelas mãos do diretor de filmes de ação John Woo. Todas fracassaram, apesar de terem boas ideias (com exceção do desenho animado...) e valores de produção de ponta (Mais sobre as origens do conceito e essas outras facetas dos Robinsons na cultura pop você pode ver aqui).
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Paralelo à série de Irwin Allen existia a série em quadrinhos "Space Family Robinson", que era uma outra abordagem do conceito dos "Robinsons Suíços"... |
A criação de Allen deu origem a brinquedos, quadrinhos, um piloto de desenho animado pela Hanna-Barbera em 1976, além de uma versão cinematográfica em 1997 (dirigido por Stephen Hopkins) e uma tentativa de voltar a TV num piloto de série em 2004 pelas mãos do diretor de filmes de ação John Woo. Todas fracassaram, apesar de terem boas ideias (com exceção do desenho animado...) e valores de produção de ponta (Mais sobre as origens do conceito e essas outras facetas dos Robinsons na cultura pop você pode ver aqui).
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A versão cinematográfica de 1998 com William Hurt e Mimi Rogers como John e Maureen Robinson mostrava a família exploradora sob uma ótica disfuncional... |
Agora coube ao gigante do streaming Netflix, tal qual fez com Star Trek: Discovery, aceitar o desafio de apresentar repaginado em forma de série para um novo público e tornar relevante um conceito ao mesmo tempo datado e instigante.
Na Júpiter 2 temos John Robinson (Toby Stephens de Black Sails), comandante da missão; sua esposa Maureen Robinson (Molly Parker), uma engenheira aeroespacial. Além do casal temos os filhos Judy (Taylor Russel), a mais velha (fruto do primeiro casamento da mãe); Penny (Mina Sundwall), a competitiva filha do meio; e Will (Maxwell Jenkins), o caçula genial. Além dos Robinsons, a equipe também conta com Don West (Ignacio Serricchio), que nesta versão é um contrabandista que identifica nos Robinsons a unidade familiar a que sempre procurou; Victor (Raza Jaffrey), um jovem político e administrador; e... a Dra. Smith (Parker Posey), dando uma nova dimensão às tramoias do icônico personagem, que no passado foi vivido por Jonathan Harris.
A composição de Smith, aliás, June Harris (familiar não?), feita por Posey é de tirar o chapéu. Digna da Catherine Trammel de Sharon Stone de Instinto Selvagem (1992, de Paul Verhoeven). Ela apronta todas, inverte os fatos à sua vontade envenenando os outros e, como todo mentiroso compulsivo, acredita nas próprias mentiras que conta de que “ela é uma pessoa boa, e só faz o que precisa para sobreviver...”. O mais sensato seria, é claro, colocá-la na câmara de descompressão e ejetá-la longe, mas aí boa parte da série se diluiria. Prestem atenção a quem faz o verdadeiro Dr. Zachary Smith na série - é um ótimo easter egg. Alguns espectadores mais exigentes poderão reclamar sobre o quão perigoso é manter uma pessoa tão ardilosa na nave, o que na crua lógica, não é nada sensato, mas, se os Robinsons fossem realmente sensatos não seria Perdidos no Espaço, certo?
Além da mudança de etnia em Don e Judy, e de gênero em Smith, temos a redefinição do robô mais icônico da ficção científica, sempre associado a série. Agora ele é uma Inteligência Artificial alienígena naufragada no planeta em que cai a Júpiter 2 e que se une ao grupo por estar tão perdida quanto eles. Ao longo da temporada, porém, surgem revelações quanto a sua origem que não deixa de lembrar o piloto da abortada série de 2004, bem como algumas questões de conspiração governamental no melhor estilo Arquivo X.
Reformulada pelos roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (Drácula: A História Não Contada de 2014 dirigida por Gary Shore), a série conta com 10 episódios em sua 1ª temporada, dirigidos por veteranos como Neil Marshall, Tim Southan e David Nutter. Ela dosa bem ação e momentos mais intimistas, que nos permitem conhecer melhor os personagens. Um dado interessante é que nesta primeira temporada eles não são os únicos náufragos da missão de colonização, criando entre eles e os colonos das outras naves Júpiter uma dinâmica similar a Lost, mas sem aquele excesso de penduricalhos narrativos.
A música de Christopher Lennertz é uma boa atualização do tema lendário composto por John Williams para a série original e sublinha bem os momentos mais dramáticos e silenciosos. O trabalho de composição visual é espetacular mostrando onde foi gasto cada centavo na ambientação planetária e espacial - em especial nos designs da Resolute, a nave-mãe da missão, e na repaginada das naves Jupiters, que lembram um mix da Millennium Falcon de Star Wars com a Defiant de Star Trek - Deep Space 9. Parabéns para o designer de produção Ross Dempster, o diretor de arte David Clarke, o figurinista Angus Strathie, e suas respectivas equipes, que, junto com o trabalho dos diretores de fotografia Sam McCurdy e Joel Ranson souberam trabalhar bem com a equipe de efeitos visuais para criar ambientações de nível cinematográfico, nada devendo ao que poderíamos estar vendo, caso tivessem decido por uma nova versão para as telonas.
Ao término desta maratona, e pelo senhor gancho do final, ficamos com um gosto de “quero mais”, pois, apesar das mudanças feitas para um público mais exigente e menos ingênuo, sentimos de volta aquela aventura juvenil e descompromissada da série original que estava fazendo falta, resgatando e repaginando o valores familiares de união e solidariedade que Irwin Allen e Shimon Wincelberg nos haviam legado há mais de 53 anos. Valores que se resumem numa frase: “Os Robinsons ficam juntos!”
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O novo design do Júpiter2. Parte de uma frota de naves colonizadoras. Meio Millennium Falcon, meio Defiant. |
Perdidos no Espaço (2018) nos apresenta a saga dos Robinsons, exploradores que no ano de 2046 que tem a sua nave, a Júpiter 2 (parte de uma frota de naves exploratórias), tragada por uma fenda no espaço-tempo. Indo parar num mundo anos-luz de seu destino, ficam encalhados com outros colonos e precisam enfrentar um ambiente hostil e a si mesmos enquanto tentam reparar a nave e sair de lá.
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Direção perigosa: À frente, Maureen (Molly Parker) e John Robinson (Toby Stephens). Atrás Will, Penny e Smith... |
Na Júpiter 2 temos John Robinson (Toby Stephens de Black Sails), comandante da missão; sua esposa Maureen Robinson (Molly Parker), uma engenheira aeroespacial. Além do casal temos os filhos Judy (Taylor Russel), a mais velha (fruto do primeiro casamento da mãe); Penny (Mina Sundwall), a competitiva filha do meio; e Will (Maxwell Jenkins), o caçula genial. Além dos Robinsons, a equipe também conta com Don West (Ignacio Serricchio), que nesta versão é um contrabandista que identifica nos Robinsons a unidade familiar a que sempre procurou; Victor (Raza Jaffrey), um jovem político e administrador; e... a Dra. Smith (Parker Posey), dando uma nova dimensão às tramoias do icônico personagem, que no passado foi vivido por Jonathan Harris.
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A Resolute, a Nave-Mãe que leva os colonizadores da Terra para Alpha Centauri, sendo a base de onde todas as naves Jupiter saem... |
A composição de Smith, aliás, June Harris (familiar não?), feita por Posey é de tirar o chapéu. Digna da Catherine Trammel de Sharon Stone de Instinto Selvagem (1992, de Paul Verhoeven). Ela apronta todas, inverte os fatos à sua vontade envenenando os outros e, como todo mentiroso compulsivo, acredita nas próprias mentiras que conta de que “ela é uma pessoa boa, e só faz o que precisa para sobreviver...”. O mais sensato seria, é claro, colocá-la na câmara de descompressão e ejetá-la longe, mas aí boa parte da série se diluiria. Prestem atenção a quem faz o verdadeiro Dr. Zachary Smith na série - é um ótimo easter egg. Alguns espectadores mais exigentes poderão reclamar sobre o quão perigoso é manter uma pessoa tão ardilosa na nave, o que na crua lógica, não é nada sensato, mas, se os Robinsons fossem realmente sensatos não seria Perdidos no Espaço, certo?
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Parker Posey, a Drª Smith, substituindo o lendário Jonathan Harris. Upgrade em vilania |
Além da mudança de etnia em Don e Judy, e de gênero em Smith, temos a redefinição do robô mais icônico da ficção científica, sempre associado a série. Agora ele é uma Inteligência Artificial alienígena naufragada no planeta em que cai a Júpiter 2 e que se une ao grupo por estar tão perdida quanto eles. Ao longo da temporada, porém, surgem revelações quanto a sua origem que não deixa de lembrar o piloto da abortada série de 2004, bem como algumas questões de conspiração governamental no melhor estilo Arquivo X.
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Will (Maxwell Jenkins) e o Robô, cujo design audacioso é propício às cenas de ação. Sua origem abre boas possibilidades para as temporadas seguintes... |
Reformulada pelos roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (Drácula: A História Não Contada de 2014 dirigida por Gary Shore), a série conta com 10 episódios em sua 1ª temporada, dirigidos por veteranos como Neil Marshall, Tim Southan e David Nutter. Ela dosa bem ação e momentos mais intimistas, que nos permitem conhecer melhor os personagens. Um dado interessante é que nesta primeira temporada eles não são os únicos náufragos da missão de colonização, criando entre eles e os colonos das outras naves Júpiter uma dinâmica similar a Lost, mas sem aquele excesso de penduricalhos narrativos.
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Hora da bronca. De frente: Judy, Maureen John, Don West (Ignacio Serricchio) e Penny. De costas, Will |
A música de Christopher Lennertz é uma boa atualização do tema lendário composto por John Williams para a série original e sublinha bem os momentos mais dramáticos e silenciosos. O trabalho de composição visual é espetacular mostrando onde foi gasto cada centavo na ambientação planetária e espacial - em especial nos designs da Resolute, a nave-mãe da missão, e na repaginada das naves Jupiters, que lembram um mix da Millennium Falcon de Star Wars com a Defiant de Star Trek - Deep Space 9. Parabéns para o designer de produção Ross Dempster, o diretor de arte David Clarke, o figurinista Angus Strathie, e suas respectivas equipes, que, junto com o trabalho dos diretores de fotografia Sam McCurdy e Joel Ranson souberam trabalhar bem com a equipe de efeitos visuais para criar ambientações de nível cinematográfico, nada devendo ao que poderíamos estar vendo, caso tivessem decido por uma nova versão para as telonas.
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As meninas Robinson: Judy (Taylor Russel), fruto do 1° casamento da mãe Maureen, e Penny (Mina Sundwall), a filha do meio. Amor e rivalidade entre irmãs... |
Ao término desta maratona, e pelo senhor gancho do final, ficamos com um gosto de “quero mais”, pois, apesar das mudanças feitas para um público mais exigente e menos ingênuo, sentimos de volta aquela aventura juvenil e descompromissada da série original que estava fazendo falta, resgatando e repaginando o valores familiares de união e solidariedade que Irwin Allen e Shimon Wincelberg nos haviam legado há mais de 53 anos. Valores que se resumem numa frase: “Os Robinsons ficam juntos!”
E que voltem para uma nova temporada!!!
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A "jornada" dos Robinsons está apenas começando... |