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Crítica - Séries: Perdidos no Espaço - 1ª temporada





Espaço, a aventura afinal...?


por Alexandre César


A mais amada família exploradora volta com tudo

Os Robinsons originais, tipicamente WASP (White Anglo-Saxonian 
Protestant) - Branco Anglo-Saxônico Protestante - como o padrão da época


Marco pop da cultura televisiva de massas desde a sua estreia em 1965 - e, talvez, a mais popular série produzida pelo lendário ”Mestre do Desastre” Irwin Allen -, as aventuras da Família Robinson povoaram a imaginação de gerações. Avós, pais e filhos vibravam com esta fábula familiar de união face às adversidades (Sobre o seriado original, clique aqui). 


Paralelo à série de Irwin Allen existia a série
 em quadrinhos "Space Family Robinson", 
que era uma outra abordagem do 
conceito dos "Robinsons Suíços"...

A criação de Allen deu origem a brinquedos, quadrinhos, um piloto de desenho animado pela Hanna-Barbera em 1976, além de uma versão cinematográfica em 1997 (dirigido por Stephen Hopkins) e uma tentativa de voltar a TV num piloto de série em 2004 pelas mãos do diretor de filmes de ação John Woo. Todas fracassaram, apesar de terem boas ideias (com exceção do desenho animado...) e valores de produção de ponta (Mais sobre as origens do conceito e essas outras facetas dos Robinsons na cultura pop você pode ver aqui).


A versão cinematográfica de 1998 com William Hurt e 
Mimi Rogers como John e Maureen Robinson  mostrava 
a família exploradora sob uma ótica disfuncional...

Agora coube ao gigante do streaming Netflix, tal qual fez com Star Trek: Discovery, aceitar o desafio de apresentar repaginado em forma de série para um novo público e tornar relevante um conceito ao mesmo tempo datado e instigante.

 
O novo design do Júpiter2. Parte de uma frota de naves
 colonizadoras. Meio Millennium Falcon, meio Defiant.


Perdidos no Espaço (2018) nos apresenta a saga dos Robinsons, exploradores que no ano de 2046 que tem a sua nave, a Júpiter 2 (parte de uma frota de naves exploratórias), tragada por uma fenda no espaço-tempo. Indo parar num mundo anos-luz de seu destino, ficam encalhados com outros colonos e precisam enfrentar um ambiente hostil e a si mesmos enquanto tentam reparar a nave e sair de lá. 

Direção perigosa: À frente, Maureen (Molly Parker) e
 John Robinson (Toby Stephens). Atrás Will, Penny e Smith...


Na Júpiter 2 temos John Robinson (Toby Stephens de Black Sails), comandante da missão; sua esposa Maureen Robinson (Molly Parker), uma engenheira aeroespacial. Além do casal temos os filhos Judy (Taylor Russel), a mais velha (fruto do primeiro casamento da mãe); Penny (Mina Sundwall), a competitiva filha do meio; e Will (Maxwell Jenkins), o caçula genial. Além dos Robinsons, a equipe também conta com Don West (Ignacio Serricchio), que nesta versão é um contrabandista que identifica nos Robinsons a unidade familiar a que sempre procurou; Victor (Raza Jaffrey), um jovem político e administrador; e... a Dra. Smith (Parker Posey), dando uma nova dimensão às tramoias do icônico personagem, que no passado foi vivido por Jonathan Harris. 

 
A Resolute, a Nave-Mãe que leva os colonizadores da
 Terra para Alpha Centauri, sendo a base de onde todas
 as naves Jupiter saem...


 A composição de Smith, aliás, June Harris (familiar não?), feita por Posey é de tirar o chapéu. Digna da Catherine Trammel de Sharon Stone de Instinto Selvagem (1992, de Paul Verhoeven). Ela apronta todas, inverte os fatos à sua vontade envenenando os outros e, como todo mentiroso compulsivo, acredita nas próprias mentiras que conta de que ela é uma pessoa boa, e só faz o que precisa para sobreviver.... O mais sensato seria, é claro, colocá-la na câmara de descompressão e ejetá-la longe, mas aí boa parte da série se diluiria. Prestem atenção a quem faz o verdadeiro Dr. Zachary Smith na série - é um ótimo easter egg. Alguns espectadores mais exigentes poderão reclamar sobre o quão perigoso é manter uma pessoa tão ardilosa na nave, o que na crua lógica, não é nada sensato, mas, se os Robinsons fossem realmente sensatos não seria Perdidos no Espaço, certo?

Parker Posey, a Drª Smith, substituindo o lendário 
Jonathan Harris. Upgrade em vilania

Além da mudança de etnia em Don e Judy, e de gênero em Smith, temos a redefinição do robô mais icônico da ficção científica, sempre associado a série. Agora ele é uma Inteligência Artificial alienígena naufragada no planeta em que cai a Júpiter 2 e que se une ao grupo por estar tão perdida quanto eles. Ao longo da temporada, porém, surgem revelações quanto a sua origem que não deixa de lembrar o piloto da abortada série de 2004, bem como algumas questões de conspiração governamental no melhor estilo Arquivo X

Will (Maxwell Jenkins) e o Robô, cujo design audacioso é 
propício às cenas de ação. Sua origem abre boas possibilidades
 para as temporadas seguintes...

 Reformulada pelos roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (Drácula: A História Não Contada de 2014 dirigida por Gary Shore), a série conta com 10 episódios em sua 1ª temporada, dirigidos por veteranos como Neil Marshall, Tim Southan e David Nutter. Ela dosa bem ação e momentos mais intimistas, que nos permitem conhecer melhor os personagens. Um dado interessante é que nesta primeira temporada eles não são os únicos náufragos da missão de colonização, criando entre eles e os colonos das outras naves Júpiter uma dinâmica similar a Lost, mas sem aquele excesso de penduricalhos narrativos.

Hora da bronca. De frente: Judy, Maureen John, 
Don West (Ignacio Serricchio) e Penny. De costas, Will

A música de Christopher Lennertz é uma boa atualização do tema lendário composto por John Williams para a série original e sublinha bem os momentos mais dramáticos e silenciosos. O trabalho de composição visual é espetacular mostrando onde foi gasto cada centavo na ambientação planetária e espacial - em especial nos designs da Resolute, a nave-mãe da missão, e na repaginada das naves Jupiters, que lembram um mix da Millennium Falcon de Star Wars com a Defiant de Star Trek - Deep Space 9. Parabéns para o designer de produção Ross Dempster, o diretor de arte David Clarke, o figurinista Angus Strathie, e suas respectivas equipes, que, junto com o trabalho dos diretores de fotografia Sam McCurdy e Joel Ranson souberam trabalhar bem com a equipe de efeitos visuais para criar ambientações de nível cinematográfico, nada devendo ao que poderíamos estar vendo, caso tivessem decido por uma nova versão para as telonas.

As meninas Robinson: Judy (Taylor Russel), fruto do 1° 
casamento da mãe Maureen, e Penny (Mina Sundwall), 
a filha do meio. Amor e rivalidade entre irmãs...


Ao término desta maratona, e pelo senhor gancho do final, ficamos com um gosto de “quero mais”, pois, apesar das mudanças feitas para um público mais exigente e menos ingênuo, sentimos de volta aquela aventura juvenil e descompromissada da série original que estava fazendo falta, resgatando e repaginando o valores familiares de união e solidariedade que Irwin Allen e Shimon Wincelberg nos haviam legado há mais de 53 anos. Valores que se resumem numa frase: Os Robinsons ficam juntos!

E que voltem para uma nova temporada!!! 

A "jornada" dos Robinsons está apenas começando...

Crítica - Filmes: Midway: Batalha em Alto-Mar




Os dois lados da moeda

 

por Alexandre César 


Roland Emmerich faz seu melhor filme 

 


Charlton Heston e Henry Fonda entre vários outros no filme de 1976...

 

Em 1970 a 20th Century Fox lançou a superprodução Tora! Tora! Tora! mostrando o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor de forma realista e humana ao não estereotipar os japoneses como orientais cruéis e sinistros, típicos dos seriados da matinês de cinema dos anos 30-40 muito disso vindo do fato do filme ter sido dirigido por três diretores: O americano Richard Fleischer (20.000 Léguas Submarinas) que fêz as cenas do elenco americano, e Kinji Fukasaku (A Batalha Real) e Toshio Masuda (Uchû senkan Yamato) que fizeram as cenas do elenco japonês. 


Prólogo: O ataque à Pearl Harbor é mostrado no início de
 forma mais sucinta e eficaz do que o filme inteiro de Michael Bay...


Confesso que quando vi o filme pela primeira vez, não era difícil torcer pela turma do sol nascente, uma vez que a retratação daquele grupo de aviadores e marinheiros que se irmanavam com um espírito quase juvenil naquele objetivo comum de vencer o inimigo,com quem demonstravam uma atitude até respeitosa contrastando com a atitude severa e circunspecta de seus comandantes que sabiam estar diante de um desafio monstruoso, gerava mais simpatia do que ver do outro lado, os ianques naquela tranquilidade de se sentirem senhores de tudo.


Morte anunciada: Edwin Lawton (Patrick Wilson) havia 
previsto a possibilidade do ataque, mas seus superiores
 não lhe deram ouvidos...



Bem mais tarde Michael Bay, com seu estilo “todo próprio” em Pearl Harbor (2001) reduziu o conflito a um grandioso pano de fundo da disputa de dois rapazes pelo coração de uma garota, superficializando os fatos históricos em função de um ritmo narrativo de videogame à lá Star Wars.



Pearl Harbor pegou a frota americana com "as calças na mão".
 Se os porta-aviões estivessem lá na ocasião, a guerra
 no Pacífico teria sido vencida ali...


Agora, Roland Emmerich (Independence Day, a versão de Godzilla de 1998, 2012) vem com um filme de guerra que mescla a fórmula narrativa do primeiro e ilustra de forma sucinta e eficaz os elementos principais do segundo, apenas para ilustrar o contexto de sua última obra, um evento crucial na guerra do pacífico, entre tantos outros.


O bombardeio de Tóquio por Jimmy Doolittle (Aaron Eckhart)
 também é mostrado, e melhor do que no filme de Michael Bay...




Midway - Batalha em Alto Mar (2019) se revela, não o melhor filme de guerra, mas com certeza o melhor filme de Roland Emmerich, que aqui equilibra bem a narrativa e a direção de atores num bom espetáculo de ritmo ágil e que dá um bom espaço para os dois lados mostrarem as suas motivações, embora como todo filme hollywoodiano, ele não teria sido feito se os americanos não tivessem ganhado a batalha.

O uso do CGI é apurado, equilibrando o realismo e 
a boa visualização dos elementos da imagem...



O conflito já havia rendido um documentário de John Ford (A Batalha de Midway de 1942), que estava na ocasião na base e filmou cenas do ataque japonês (coisa que o filme mostra de forma genial) que foi narrado por Henry Fonda, que estrelou junto com Charlton Heston a superprodução Midway (1976) de Jack Smight, filme morno que tinha em seu elenco, Glenn Ford, Robert Mitchum, Toshiro Mifune, James Coburn, Robert Wagner, Edward Albert entre outros, apostando no sistema Sensurround, que na época a Universal usava como chamariz para atrair o público, com uma suposta imersão do espectador, mas que aqui, pela péssima qualidade de audio de nossas salas, virava apenas uma barulheira que não permitia definir os sons do que se passava na tela.

O Almirante Chester W. Nimitz (Wood Harrelson): Boa atuação
 no tipo de papel que não costumamos associar ao ator...

As semelhanças com "Star Wars" não é casual já que 
George Lucas se baseou em filmagens de combates 
aeronavais como guia para as suas batalhas espaciais...


O filme em seus minutos iniciais mostra na embaixada americana em Tóquio, um breve diálogo de despedida entre o adido militar Edwin Lawton (Patrick Wilson de Watchmen, Invocação do Mal e Aquaman) e o Almirante Isoroku Yamamoto (Etsushi Toyokawa) deixando claro as razões que colocaram os dois países em guerra entre si, para logo depois de maneira rápida, dramática e resumida mostrar o ataque da Marinha Imperial Japonesa à Pearl Harbor (coisa que poderia ter sido evitada se os superiores de Lawton lhe tivessem dado ouvidos....). 

Tensão: Almirante Tamon Yamaguchi (Tadanobu Asano)
 e o viver sobre o fio da navalha...
Mais adiante mostra a resposta americana do bombardeio à Tóquio comandada por Jimmy Doolittle (Aaron Eckhart de Batman: O Cavaleiro das Trevas) que liderou um esquadrão de bombardeiros do exército americano que decolou do porta aviões Enterprise tendo apenas as bombas e o combustível suficiente para bombardear a capital japonesa e voar até acabar o combustível, quando os tripulantes saltaram de para-quedas sobre a China ocupada. Emmerich consegue de forma eficiente no bojo de seu filme contar o essencial da história do filme de Bay, e de forma melhor, mostrando que um bom roteiro acima de tudo conta uma história ou mais de uma!

Por uma questão de narrativa visual, os navios aparecem
 mais próximos uns dos outros para ficar mais ilustrativo
 do que seria uma batalha...

Aviadores: James Murray (Keean Johnson) e o seu 
superior Dick Best (Ed Skrein)...


Outros personagens de destaque são, do lado dos combatentes, o talentoso mas marrento piloto Dick Best (Ed Skrein de Malévola: Dona do Mal), que tem uma certa birra com o tenente Wade McClusky (Luke Evans) líder de esquadrão, que mais adiante lhe ensina sobre as responsabilidades de ter que levar pilotos e tentar trazer o máximo deles de volta numa missão (e ter de viver com o fato de que nem todos voltarão...) além de Clarence Dickinson (Luke Kleintank de O Homem do Castelo Alto), Bruno Gaido (Nick Jonas), Eugene Lindsey (Darren Criss) e James Murray (Keean Johnson), e do lado do oficiais temos o lendário Almirante Chester W. Nimitz (Wood Harrelson super contido num papel inesperado), o Alm. William “Bull” Halsey (Dennis Quaid) que contra a sua vontade é mandado para o hospital durante os preparativos (ele pensava estar com urticária, mas na verdade estava com herpes) e para mostrar o lado das famílias dos indivíduos envolvidos no conflito temos Ann Best (Mandy Moore) a esposa de Dick e Dagne Layton (Rachel Perrell Fosket) a esposa de Edwin e Marie Pearce (Sarah Halford) a viúva de Roy, um amigo dos Best morto em Pearl Harbor, embora elas tenham pouco tempo em cena para não desacelerar a narrativa.

Um momento genial (e real) é que durante a operação, o 
lendário John Ford, estava rodando um documentário na 
ilha, e registrou o ataque (e ganhou um Oscar)...

O Alm. William "Bull" Halsey (Dennis Quaid) foi afastado
 durante os preparativos por questões de saúde...

Ainda que de forma econômica, o roteiro de Wes Tooke (Colony, Jean-Claude Van Johnson) mostra do lado japonês a tensão constante a que Yamamoto estava submetido, por estar sempre batendo de frente com o Primeiro-Ministro, o General Tojo (Hiromoto Ida) do Exército Imperial, além de suas discordâncias na marinha com o Almirante Nagumo (Jun Kunimura) cuja inflexibilidade impedia seus oficiais de ajudarem-no melhor na batalha. 


Dick & Ann Best (Mandy Moore): Amor nos tempos
 de tiro, porrada e bomba...

É particularmente muito boa a cena que mostra o afundamento do porta-avões Hiryū, quando o Almirante Tamon Yamaguchi (Tadanobu Asano) assume a responsabilidade pela derrota (e por isso afundará com o navio) e exorta os seus oficiais a continuarem defendendo o Japão apesar disso, levando os marujos e jovens oficiais às lágrimas. mas em contraste, o filme também mostra o outro lado da moeda na forma como o Exercito Imperial massacrou os chineses durante a sua ocupação, ou na cena em que um piloto americano capturado pela Marinha Imperial é lançado ao mar amarrado com uma âncora.



Comparando com o filme de 1976, vemos a vantagem 
do uso do CGI para recriar os modelos dos aviões e navios
 envolvidos, coisa que antes dependia do material
 de arquivo disponível...

O pota-aviões Enterprise: Uma perfeita reconstituição de
 como era o navio, e não uma filmagem feita anos depois,
 com as alterações recebeu ao longo do tempo...



A produção é impecável, destacando-se a fotografia de , o desenho de produção de Kirk M. Petruccelli (Tempestade: Planeta em Fúria) e a direção de arte de Page Buckner (Django Livre), Carolyne de Bellefeuille (Pays) e Isabelle Guay (O Regresso) que recriam os espaços funcionais das bases, bares e dos navios de guerra com seus dormitórios, hospitais galpões, escritórios e salas de instrução e estratégia, em contraste com os ambientes residenciais de suas casas, onde tentam viver, nas poucas horas de que dispoem para o convívio familiar, coisa que o figurino de Mario Davignon (A Chegada) reflete bem nas fardas de uso cotidiano, que tanto as de oficiais quanto as de subalternos, têm sutilmente um aspecto gasto e amarrotado, em contraste com os uniformes de gala, usados nos bailes da USO*, onde a música de Harald Kloser (2012) e Thomas Wanker (O Ataque) resgata em breves momentos o glamour lírico das canções românticas do período.

Almirantes Yamamoto e Tamon Yamaguchi 
(Tadanobu Asano): As pressões do comando...

Nas cenas de ataque vemos o quanto se gastava
 de munição para cada projétil que acertava o alvo...

A fotografia de Robby Baumgartner (Ponto Cego) e a edição de Adam Wolfe (Independence Day: O Retorno) auxiliados pelo trabalho das equipes de efeitos visuais das companhias MELS, Scanline VFX, Zero VFX reconstroem elementos chaves da narrativa como os navios de ambas as frotas e as batalhas aéreas, com uma fidelidade ao design de navios, aviões, aliada a uma qualidade de imagem do CGI que equilibra bem o realismo e a necessidade de ter imagens nítidas definidas e, ilustrativas para que a audiência possa acompanhar a narrativa sem se perder, ficando equilibradamente na linha divisória entre um Videogame de alta resolução e um filme realista.

O tenente Wade McClusky (Luke Evans) e Dick Best:
 O experiente ponderado e o "marrento" talentoso...

Ao final, esta produção independente de grande porte (U$100 milhões de dólares), dos estúdios Centropolis Entertainment (de Emmerich), AGC Studios, Entertainment One, Street Enterteinment e da Starlight Culture Entertainment Group e RuYi Media (China) acerta ao procurar mostrar a guerra como algo dramático e grandioso, em que todos dão o melhor de si, superando as suas próprias limitações, mas acima de tudo como algo que se deve procurar evitar, pois todas as promoções e medalhas ganhas em combate não substituem as sequelas, e as vidas que se perdem neste processo.

E tolo é aquele que pensa o contrário...


"- No peito um coração não há, mas duas medalhas sim..."

*United Service Organizations: Organizações de suporte do corpo militar americano, que promovem toda a área de entretenimento das tropas em serviço, promovendo shows, bailes e espetáculos para manter elevado o moral dos soldados em missão longe de seus lares.

Crítica - Séries: Raio Negro – 2ª Temporada




A lágrima clara sobre a pele escura



por Alexandre César

Série leva adiante seus questionamentos

 


Os educadores Jefferson Pierce (Cress Williams) e o seu 
chapa Napier Frank (Robert Towswend): Política X Bem Comum...

 

“- O Conselho tentou assumir Garfield simplesmente porque não trato esses jovens como criminosos! Eles têm dinheiro certo? Têm dinheiro para colocar detectores de metal na entrada da escola? Têm! Têm dinheiro guardas armados? Têm! Mas nunca parecem ter dinheiro para livros, para melhores salários para os professores ou para computadores!”  diz Jefferson Pierce (Cress Williams mais do que à vontade no papel) para o Dr. Napier Frank (Robert Townsend) em certa altura da 2ª Temporada de Raio Negro, mostrando que Freeland continua sendo um barril de pólvora prestes a estourar numa crise racial e social. Aqui, independente dos super-poderes, se discutem temas atuais e de difícil solução, que talvez deixassem o Homem de Aço de cabelos brancos e o bem-nascido Batman com crise existencial. A criação de Salim Akil e Mara Brock Akil é, de longe, a mais madura, com conteúdo mais voltado para o público adulto da DCTV e chega mostrando com bastante tiro, porrada e bomba (e muitos diálogos para refletir) continuando interessante e importante, dando continuidade a uma história de mistério e aventura como poucas.



Ação e questionamentos não faltam como sempre...



O retorno de uma série de TV costuma vir num ritmo mais lento, reapresentando o universo criado e seus personagens, as consequências do que aconteceu na temporada anterior e os aspectos que virão a ser explorados nesta nova etapa, desde que a primeira temporada tenha sido vista. Quem cair de para-quedas logo na segunda temporada vai se sentir meio perdido, pois como ela praticamente emenda com os últimos minutos do último capítulo da primeira, vai faltar uma conexão.




Peter Gambi (James Remar): Pondo à prova suas
 habilidades de técnico e agente e campo...



Para que o Conselho não feche a escola Garfield High Jefferson tem de se demitir e apoiar o diretor que o substitui, Mike Lowry (P.J.Byrne), um burocrata branco numa escola que é predominantemente negra adepto de “tolerância zero”, e que não se importa com os jovens. E numa boa sacada descobrimos em um diálogo que apesar de tudo o burocrata não é tão escroto como nos é apresentado, sendo produto do construto social vigente. Se a série já era boa antes, agora surpreenderá o público com um retorno Incisivo e sem medo de colocar o dedo na ferida, com diálogos a respeito de preconceitos, em especial, o racismo, exibindo amadurecimento e ainda mais camadas naqueles que já são conhecidos, subindo mais ainda o nível. É preciso, evidentemente, prestar atenção aos detalhes, como por exemplo, o da igreja que tem uma imagem de um Cristo negro, para ir compreendendo esse universo narrativo e o seu desenrolar. Assim como foi na temporada anterior, não há pressa de trabalhar seu enredo, fazendo com que o espectador se sinta cada vez mais dependente para entender o que está se passando.




discutindo a relação: Jefferson e sua espoa Lynn 
(Christine Adams) um casal, com problemas reais...




Apesar de todos os conflitos que pipocam ao longo da temporada, é agradável ver como os Pierce não deixam de se unir, funcionando como uma família real, isto se refletindo na ineração entre as irmãs Anissa (Nafessa Williams) a mais velha, e Jennifer (China Anne McClain) quando falam sobre a relação de ter poderes e a ausência de cólicas menstruais ou quando Jefferson e a esposa Lynn (Christine Adams) falam sobre stress e disfunção erétil, como um casal normal. São coisas simples mas que introduzem doses cavalares de realidade cotidiana a uma trama que poderia se resumir a apenas “as aventuras de um negão vestindo uma roupa de neon”. Tecnicamente, a série cresceu o nível de coreografia de suas lutas, passando uma maior veracidade nas mesmas, com uma direção qualificada e uma trilha sonora (sendo difícil não nos lembrarmos de Luke Cage neste quesito) para empolgar o espectador a assistir.




Representatividade LGBTQI+: Zoe B (Andy Allo) e Anissa Pierce 
(Nafesa Williams) a filha-heroína mais velha engatam um breve 
romance, mas Anissa gosta mesmo é de outra bela...

Dentro deste contexto de crítica social, destaca-se o emocionante discurso de Pierce, quando se retira e os alunos invertem a posição e lhe fazem as mesmas perguntas que ele sempre os incitou a responder:
- “Onde está o futuro?” 
-Aqui!” 
- De quem é essa vida?” 
- É minha!” 
- E como vou vivê-la?” 
- Da melhor maneira possível!!!” e se retira com a certeza da missão cumprida enquanto educador.

 

Tobias Whale (Marvin "Krondon" Jones III): Perigo real, 
imediato e palpável, numa performance que 
torna qualquer vilania real.



Paralelo a isso, Anissa, a filha mais velha e militante poderosa se torna uma espécie de Robin Hood de Freeland, engata romance com Zoe B (Andy Allo) uma cantora “livre e solta” fazendo ciúme a Grace Choi (Chantal Thuy) que descobrimos ser meta-humana, mas inibe a manifestação de sua condição com medicação suspeita. Seu arco é apenas sugerido, devendo ser melhor detalhado na próxima temporada.



Perenna (Erika Alexander) treina a 
caçula Jennifer (China Anne McClain)
 a usar os seus poderes...




Peter Gambi (James Remar) após um atentado simula a própria morte, firma o seu papel de “Alfred do Raio Negro”, demonstrando suas habilidades de forma plena. Sem ele, a família Pierce estava limada!!!.

O agente Percy Odell (Bill Duke) paira como uma sombra
 sobre Lynn com a intenção do governo em usar os 
meta-humanos como armas...



O detetive Bill Henderson (Damon Gupton) se mostra mais tolerante com o Raio Negro, protagonizando os dois uma cena de muita importância na série, capaz de abalar relações futuras, com Henderson ajudando o herói na medida em que tal prática não comprometa o seu papel de policial. A semelhança deste relacionamento com a relação BatmanComissário Gordon vai se fazendo cada vez mais evidente.



Tobias se une a inescrupulosa Dra. Jace (Jennifer Riker)
 para criar o seu exército particular de meta-humanos...


Destaca-se como um dos melhores arcos para se acompanhar, o de Jennifer Pierce, cujos poderes estão se manifestando cada vez mais fortes, exibindo ela, habilidades que parecem maiores que a da irmã, talvez se igualando as do pai. Jennifer começa a se consultar com Perenna (Erika Alexander) uma especialista para aprender a controlar seus poderes, sendo interessante essa jornada de uma pessoa que não aceita bem o “dom” que possui e precisa lidar com toda esta força ainda incontrolável, mas por se sentir presa, volta a se relacionar com Khalil Payne (Jordan Calloway), o agora bad boy, fugindo os dois de Tobias Whale (Marvin “Krondon” Jones III sinistro e real como sempre). Ao longo deste arco temos momentos tristes e belos, como o “momento fofo” quando o “paizão” Jefferson lembra da sua menininha ainda criança enquanto o “tio Gambie” testa o novo uniforme da “pimpolha”.

Tecnicamente a série deu um salto, sem perder o foco
 nos personagens, mantendo seu conteúdo.


Whale, que agora conseguiu limpar o nome na justiça, se apresentando como “Cidadão de Bem” e menbro da sociedade, mas continuando a por em prática os seus planos de dominação sobre Freeland. Ele se utilizará dos conhecimentos da Dra. Jace (que descobrimos ter sido quem o usou no passado para testar as fórmulas que lhe deram força e longevidade, que ela usou em si...) e juntos soltam das câmaras de hibernação os cobaias da “green lightpara montar um exército de meta-humanos. Sendo alguns deles conhecido por integrarem um grupo conhecido como Mestres do Desastre (das HQs). Ele caminha para cada vez mais ser um vilão maníaco típico, mas a performance do ator não faz disso um erro tal é a palpabilidade que impõe ao papel.

O policial Bill Henderson (Damon Gupton) dá 
um passo decisivo em sua relação com o herói...


Ao longo da temporada, enfatizando o pano de fundo deste contexto social, vemos diversos jovens negros sendo mortos pela polícia por causa do uso da droga “green light” e também a revelação de que nos anos 70/ 80 foram feitos testes governamentais nos jovens nas câmaras de hibernação. Lynn tem de aprender a lidar com o casca-grossa agente Percy Odell (Bill Duke, perfeito) e faz um acordo com a Dra. Helga Jace (Jennifer Riker) uma médica “a lá Mengelle, presa por experiências não-éticas com humanos para tentar salvar os jovens vítimas da “green light que estão nas câmaras, e cujos envolvimentos com os experimentos feitos na República da Markóvia levam a embates que ainda deverão render desdobramentos futuros.



Gisele Cutter (Kearran Giovanni) a "Cupido" nos quadrinhos
 e Marcus Bishop, o "Tremor" (Hosea Chanchez), um dos 
meta-humanos (do grupo "Mestres do Desastre").


Ao final temos um encerramento com o clássico final família” quando Pierce se permite relaxar e chorar ao se dar conta do quão afortunado é por conseguir passar por tantas atribulações, no meio da tormenta, e conseguir manter os seus em segurança junto a si, coisa que muitos não o conseguiram, o que não é fácil, principalmente ao vermos o gancho mencionado para a temporada seguinte, que promete muitas dores de cabeça (além das atuais) para a família Pierce, e para Freeland, a família maior.



Os Pierce, aconteça o que acontecer, sempre se unem 
para enfrentar os desafios, como uma família deve ser...
 

Uma família sempre é colocada à prova, não importa o tipo de provação...


A família Pierce e Tobias Whale: Conflito longe de acabar...



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