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Crítica - Séries: Raio Negro – 2ª Temporada




A lágrima clara sobre a pele escura



por Alexandre César

Série leva adiante seus questionamentos

 


Os educadores Jefferson Pierce (Cress Williams) e o seu 
chapa Napier Frank (Robert Towswend): Política X Bem Comum...

 

“- O Conselho tentou assumir Garfield simplesmente porque não trato esses jovens como criminosos! Eles têm dinheiro certo? Têm dinheiro para colocar detectores de metal na entrada da escola? Têm! Têm dinheiro guardas armados? Têm! Mas nunca parecem ter dinheiro para livros, para melhores salários para os professores ou para computadores!”  diz Jefferson Pierce (Cress Williams mais do que à vontade no papel) para o Dr. Napier Frank (Robert Townsend) em certa altura da 2ª Temporada de Raio Negro, mostrando que Freeland continua sendo um barril de pólvora prestes a estourar numa crise racial e social. Aqui, independente dos super-poderes, se discutem temas atuais e de difícil solução, que talvez deixassem o Homem de Aço de cabelos brancos e o bem-nascido Batman com crise existencial. A criação de Salim Akil e Mara Brock Akil é, de longe, a mais madura, com conteúdo mais voltado para o público adulto da DCTV e chega mostrando com bastante tiro, porrada e bomba (e muitos diálogos para refletir) continuando interessante e importante, dando continuidade a uma história de mistério e aventura como poucas.



Ação e questionamentos não faltam como sempre...



O retorno de uma série de TV costuma vir num ritmo mais lento, reapresentando o universo criado e seus personagens, as consequências do que aconteceu na temporada anterior e os aspectos que virão a ser explorados nesta nova etapa, desde que a primeira temporada tenha sido vista. Quem cair de para-quedas logo na segunda temporada vai se sentir meio perdido, pois como ela praticamente emenda com os últimos minutos do último capítulo da primeira, vai faltar uma conexão.




Peter Gambi (James Remar): Pondo à prova suas
 habilidades de técnico e agente e campo...



Para que o Conselho não feche a escola Garfield High Jefferson tem de se demitir e apoiar o diretor que o substitui, Mike Lowry (P.J.Byrne), um burocrata branco numa escola que é predominantemente negra adepto de “tolerância zero”, e que não se importa com os jovens. E numa boa sacada descobrimos em um diálogo que apesar de tudo o burocrata não é tão escroto como nos é apresentado, sendo produto do construto social vigente. Se a série já era boa antes, agora surpreenderá o público com um retorno Incisivo e sem medo de colocar o dedo na ferida, com diálogos a respeito de preconceitos, em especial, o racismo, exibindo amadurecimento e ainda mais camadas naqueles que já são conhecidos, subindo mais ainda o nível. É preciso, evidentemente, prestar atenção aos detalhes, como por exemplo, o da igreja que tem uma imagem de um Cristo negro, para ir compreendendo esse universo narrativo e o seu desenrolar. Assim como foi na temporada anterior, não há pressa de trabalhar seu enredo, fazendo com que o espectador se sinta cada vez mais dependente para entender o que está se passando.




discutindo a relação: Jefferson e sua espoa Lynn 
(Christine Adams) um casal, com problemas reais...




Apesar de todos os conflitos que pipocam ao longo da temporada, é agradável ver como os Pierce não deixam de se unir, funcionando como uma família real, isto se refletindo na ineração entre as irmãs Anissa (Nafessa Williams) a mais velha, e Jennifer (China Anne McClain) quando falam sobre a relação de ter poderes e a ausência de cólicas menstruais ou quando Jefferson e a esposa Lynn (Christine Adams) falam sobre stress e disfunção erétil, como um casal normal. São coisas simples mas que introduzem doses cavalares de realidade cotidiana a uma trama que poderia se resumir a apenas “as aventuras de um negão vestindo uma roupa de neon”. Tecnicamente, a série cresceu o nível de coreografia de suas lutas, passando uma maior veracidade nas mesmas, com uma direção qualificada e uma trilha sonora (sendo difícil não nos lembrarmos de Luke Cage neste quesito) para empolgar o espectador a assistir.




Representatividade LGBTQI+: Zoe B (Andy Allo) e Anissa Pierce 
(Nafesa Williams) a filha-heroína mais velha engatam um breve 
romance, mas Anissa gosta mesmo é de outra bela...

Dentro deste contexto de crítica social, destaca-se o emocionante discurso de Pierce, quando se retira e os alunos invertem a posição e lhe fazem as mesmas perguntas que ele sempre os incitou a responder:
- “Onde está o futuro?” 
-Aqui!” 
- De quem é essa vida?” 
- É minha!” 
- E como vou vivê-la?” 
- Da melhor maneira possível!!!” e se retira com a certeza da missão cumprida enquanto educador.

 

Tobias Whale (Marvin "Krondon" Jones III): Perigo real, 
imediato e palpável, numa performance que 
torna qualquer vilania real.



Paralelo a isso, Anissa, a filha mais velha e militante poderosa se torna uma espécie de Robin Hood de Freeland, engata romance com Zoe B (Andy Allo) uma cantora “livre e solta” fazendo ciúme a Grace Choi (Chantal Thuy) que descobrimos ser meta-humana, mas inibe a manifestação de sua condição com medicação suspeita. Seu arco é apenas sugerido, devendo ser melhor detalhado na próxima temporada.



Perenna (Erika Alexander) treina a 
caçula Jennifer (China Anne McClain)
 a usar os seus poderes...




Peter Gambi (James Remar) após um atentado simula a própria morte, firma o seu papel de “Alfred do Raio Negro”, demonstrando suas habilidades de forma plena. Sem ele, a família Pierce estava limada!!!.

O agente Percy Odell (Bill Duke) paira como uma sombra
 sobre Lynn com a intenção do governo em usar os 
meta-humanos como armas...



O detetive Bill Henderson (Damon Gupton) se mostra mais tolerante com o Raio Negro, protagonizando os dois uma cena de muita importância na série, capaz de abalar relações futuras, com Henderson ajudando o herói na medida em que tal prática não comprometa o seu papel de policial. A semelhança deste relacionamento com a relação BatmanComissário Gordon vai se fazendo cada vez mais evidente.



Tobias se une a inescrupulosa Dra. Jace (Jennifer Riker)
 para criar o seu exército particular de meta-humanos...


Destaca-se como um dos melhores arcos para se acompanhar, o de Jennifer Pierce, cujos poderes estão se manifestando cada vez mais fortes, exibindo ela, habilidades que parecem maiores que a da irmã, talvez se igualando as do pai. Jennifer começa a se consultar com Perenna (Erika Alexander) uma especialista para aprender a controlar seus poderes, sendo interessante essa jornada de uma pessoa que não aceita bem o “dom” que possui e precisa lidar com toda esta força ainda incontrolável, mas por se sentir presa, volta a se relacionar com Khalil Payne (Jordan Calloway), o agora bad boy, fugindo os dois de Tobias Whale (Marvin “Krondon” Jones III sinistro e real como sempre). Ao longo deste arco temos momentos tristes e belos, como o “momento fofo” quando o “paizão” Jefferson lembra da sua menininha ainda criança enquanto o “tio Gambie” testa o novo uniforme da “pimpolha”.

Tecnicamente a série deu um salto, sem perder o foco
 nos personagens, mantendo seu conteúdo.


Whale, que agora conseguiu limpar o nome na justiça, se apresentando como “Cidadão de Bem” e menbro da sociedade, mas continuando a por em prática os seus planos de dominação sobre Freeland. Ele se utilizará dos conhecimentos da Dra. Jace (que descobrimos ter sido quem o usou no passado para testar as fórmulas que lhe deram força e longevidade, que ela usou em si...) e juntos soltam das câmaras de hibernação os cobaias da “green lightpara montar um exército de meta-humanos. Sendo alguns deles conhecido por integrarem um grupo conhecido como Mestres do Desastre (das HQs). Ele caminha para cada vez mais ser um vilão maníaco típico, mas a performance do ator não faz disso um erro tal é a palpabilidade que impõe ao papel.

O policial Bill Henderson (Damon Gupton) dá 
um passo decisivo em sua relação com o herói...


Ao longo da temporada, enfatizando o pano de fundo deste contexto social, vemos diversos jovens negros sendo mortos pela polícia por causa do uso da droga “green light” e também a revelação de que nos anos 70/ 80 foram feitos testes governamentais nos jovens nas câmaras de hibernação. Lynn tem de aprender a lidar com o casca-grossa agente Percy Odell (Bill Duke, perfeito) e faz um acordo com a Dra. Helga Jace (Jennifer Riker) uma médica “a lá Mengelle, presa por experiências não-éticas com humanos para tentar salvar os jovens vítimas da “green light que estão nas câmaras, e cujos envolvimentos com os experimentos feitos na República da Markóvia levam a embates que ainda deverão render desdobramentos futuros.



Gisele Cutter (Kearran Giovanni) a "Cupido" nos quadrinhos
 e Marcus Bishop, o "Tremor" (Hosea Chanchez), um dos 
meta-humanos (do grupo "Mestres do Desastre").


Ao final temos um encerramento com o clássico final família” quando Pierce se permite relaxar e chorar ao se dar conta do quão afortunado é por conseguir passar por tantas atribulações, no meio da tormenta, e conseguir manter os seus em segurança junto a si, coisa que muitos não o conseguiram, o que não é fácil, principalmente ao vermos o gancho mencionado para a temporada seguinte, que promete muitas dores de cabeça (além das atuais) para a família Pierce, e para Freeland, a família maior.



Os Pierce, aconteça o que acontecer, sempre se unem 
para enfrentar os desafios, como uma família deve ser...
 

Uma família sempre é colocada à prova, não importa o tipo de provação...


A família Pierce e Tobias Whale: Conflito longe de acabar...



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