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Resenha: Filmes & Séries Apocalípticas – Parte 1





Resenha: Filmes & Séries Apocalípticas – Parte 1




por Alexandre César

 Cogumelos atômicos, discos voadores, mutantes...

Nestes tempos de reclusão face a pandemia global do Novo Corona Vírus (COVID-19) comecei a refletir sobre o conceito de “Fim do Mundo” sejam quais forem os seus nomes (Apocalipse, Ragnarok, Guerra Nuclear, etc...) e mentalmente listei quantas vezes o cinema, e depois a TV e agora o streaming explorou este tema, refletindo cada qual os temores e fantasmas de sua época e momento econômico-cultural. Esta série não se propõe a esgotar o assunto, até porque obviamente no computo final muita coisa ficará de fora, mas para fins didáticos procurarei agrupar os “apocalipses” em temas, embora algumas vezes acabem mesclados, sendo que aqueles que com o sucesso iniciaram franquias, me limitarei a enumerar apenas o primeiro exemplar. Para facilitar coloco os links do verbete referente ao filme no IMDB (Internet Movie Data Base) e o do trailer no You Tube. Então, boa diversão e que superemos todos este momento de provação.


- Guerra Nuclear:

 

 
Finda a Segunda Guerra Mundial emerge a polarização do mundo em dois blocos: de um lado o Ocidente liderado pelos Estados Unidos, e a “Cortina de Ferro”, liderada pela União Soviética, surgindo a “Guerra Fria” entre os dois blocos, sendo explorado pelo cinema o medo e a paranoia da possibilidade de uma guerra “quente” entre as duas potências nucleares ocorrer. Curiosamente o termo “Cortina de Ferro” foi criado por Winston Churchill justamente o responsável pela criação desses “lados”, em um acordo secreto com Joseph Stálin combinaram a divisão da Europa a revelia dos E.U.A. ambos procurando garantir o que tinham conquistado durante a 2ª Guerra. Vamos aos filmes...

 

 

A Hora Final (1959) de Stanley Kramer com Gregory Peck, Ava Gardner, Fred Astaire. 1964, a guerra nuclear ocorre e, a tripulação de um submarino americano, encontra temporariamente na Austrália o último refúgio, pois a radiação avança engolindo a tudo e a todos, Gregory Peck no papel do capitão desse submarino, talvez a última oportunidade de romance da humanidade, já que havia perdido toda sua família, inclusive esposa e filhos, no holocausto nuclear. Elenco estelar e competente, direção de Kramer em drama sólido, embora fantástico.
 


Em 2000 Russell Mulcahy fez uma refilmagem com Armand Assante, Rachel Ward, Bryan Brown.


Pânico no Ano Zero (1962) de Ray Milland, com Milland, Jean Hagen, Frankie Avalon. Típica família saindo de Los Angeles com o trailer para um fim de semana é surpreendida por um bombardeio nuclear, tendo de lidar com o colapso da civilização. Milland dirige e atua competentemente nesta pequena produção, dosando bem os poucos recurso de que dispõe numa pequena obra-prima.  


"-YPIKIAIOOOO!!!!"

Dr. Fantástico (1964) de Stanley Kubrick com Peter Selers, George C. Scott, Sterling Hayden. “Comédia-Pesadelo” como disse o próprio Kubrick, sobre a paranoia da guerra fria. Um general yankee enlouquece e manda um B-52 bombardear a União Soviética. A tentativa de desfazer o mal-entendido e a desconfiança entre os dois lados evidencia o ridículo do militarismo. 

Sellers brilha em 3 papéis distintos: O presidente americano, o Col. Mandrake e o Dr. Fantástico, protótipo do cientista louco de HQs. A cena do cowboy montando na Bomba Atômica tornou-se icônica.




Herança Nuclear (1977) de Jack Smith com George Peppard, Jean-Michael Vincent, Dominique Sanda. Lançado no mesmo ano pela Fox, como potencial sucesso, junto a outro filme que o estúdio não levava fé (Star Wars) este road movie sci-fi se passa pouco após a troca de cogumelos nucleares entre as superpotências, e vemos o impacto no deserto americano, com insetos gigantes, mutações, alterações climáticas. Temos ainda no elenco um ainda garoto Jack Earle Haley, o Rorschach de Watchmen (2009) de Zack Snyder.



O Dia Seguinte (1983) de Nicholas Meyer com Jason Robards. Filme feito para a TV que ganhou a tela grande, ao mostrar a crua realidade pós-guerra nuclear, onde não haveria esperança alguma para os sobreviventes, pelo envenenamento radioativo do ambiente.




O Exterminador do Futuro (1984) de James Cameron,, com Arnold Schwarzenneger, Linda Hamilton, Michael Biehn. Soldado volta no tempo para deter androide que pretende matar a mãe do futuro líder da resistência da humanidade às máquinas que provocaram um holocausto nuclear (O Julgamento Final). Filmaço B de BOM, que gerou 4 sequências e um reboot até agora, tentando resgatar o sucesso dos dois primeiros filmes.


- Ataques Alienígenas:

 

 
No auge da “Guerra Fria” entre Estados Unidos e União Soviética, muitos filmes exploraram o clima de paranoia vigente, sempre usando os seres extraterrestres, que vinham geralmente destruir a terra (e particularmente o American Way of Life em especial) como alegorias do “Perigo Vermelho Comunista”. No mundo pós 11 de setembro, o foco passou a ser o terrorismo e o temor do ocidente quanto ao mundo islâmico. O norte americano cria e gosta de manter uma paranoia...

A Guerra dos Mundos (1953) de Byron Haskin com Gene Barry, Ann Robinson. Primeira adaptação do clássico de H.G.Wells, produzida pelo mago George Pal (A Máquina do Tempo de 1960) com ótimos efeitos especiais e um senhor design para as naves marcianas.

Em 1988 foi feita uma série (2 temporadas) baseada no filme, crida por Greg Strangis, com Jared Martin, Lynda Mason Green, Philip Akin. 35 anos após os eventos do filme; os marcianos voltam, e quase ninguém lembra da invasão (os governos abafaram e confiscaram as naves destruídas).



Houve uma refilmagem em 2005 por Steven Spielberg, com Tom Cruise, Dakota Fanning, Tim Robbins. Ambientada nos tempos atuais, reflete o mundo pós 11 de setembro.



Em 2019 houve duas séries: Uma reimaginação anglo-francesa em 8 capítulos no estilo The Walking Dead, com Gabriel Byrne, Léa Drucker, Adel Bencherif.

A outra série, pela BBC, em três capítulos dirigidos por Craig Viveiros com Eleanor Tomlinson, Rafe Spall, Robert Carlyle, cujo roteiro de Peter Harness resgata a ambientação vitoriana, carregando em temas como feminismo, a hipocrisia social e o embate ciência X religião. Vale a pena.

A Invasão dos Discos Voadores (1956) de Fred F.Sears com Hugh Marlowe, Joan Taylor. Com o mago dos efeitos visuais de stop-motion Ray Harryhausen no comando não tinha como dar errado neste clássico escapista das matinês, que inspirou gerações e futuros cineastas.


Independence Day (1996) de Roland Emmerich, com Will Smith, Jeff Goldblum, Bill Pullman. Divertido e bobo, Emmerich e o roteirista Dean Devlin colocaram no liquidificador Star Wars, Alien, o cinema-catástrofe dos anos 70 e os filmes de invasões alienígenas dos 50, gerando um modelo que até hoje influi em produções posteriores como Battleship: A Batalha dos Mares (2012), tendo Emmerich feito uma continuação em 2016.

Marte Ataca! (1996) de Tim Burton com Jack Nicholson, Glen Close, Pierce Brosnam. Tim Burton, fã de Ray Harryhausen, aqui faz um deliciosa sátira-homenagem ao cinema dos anos 50, com direito a participações de grandes astros e personalidades cults. Pam Grier, Jim Brown e de... Tom Jones, como Tom Jones! Imperdível.
Skyline- A Invasão (2010) de Colin e Greg Strause com Eric Baulfour, Donald Faison. Filme B (U$ 10 milhões) que gerou duas continuações, rodado no condomínio onde um dos diretores morava. Uso competente dos poucos recursos, com um bom visual apesar de tudo.

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles (2011) de Jonathan Liebesman com Aaron Eckart, Michelle Rodriguez, Bridget Moynhan. Mega produção, com visual de documentário que acompanha um dia de trabalho de um pelotão de soldados durante uma invasão global de alienígenas (mas só vemos Los Angeles). Filho de Independence Day que se leva a sério, e se planejava ser o primeiro de uma série, que não seguiu por causa do fracasso nas bilheterias.
Rua Cloverfield 10 (2016) de Dan Trachtenberg com Mary Elizabeth Winstead, John Goodman. Ambientado no mesmo universo narrativo de Cloverfield: Monstro (2008) este claustrofóbico thriller indica sutilmente, para só mostrar, o que é de fato os últimos 15 minutos. Um bom filme B.
A 5ª Onda (2016) de J Blakeson com Chloë Grace Moretz, Matthew Zuk, Gabriela Lopez. Após sucessivas ondas de ataque, cada vez mais intensos, grupo de jovens soldados descobrem que na verdade a sua percepção de aliados/ inimigos é manipulada pelos alienígenas.
 
TV:

V (1983) Série em 2 capítulos criada e dirigida por Kenneth Johnson com Marc Singer, Jane Badler, Michael Durrell. Raça reptliana, disfarçada de humanos invade a Terra, gerando resistência similar ao combate contra o nazismo.


Teve uma continuação em 1984, V: A Batalha Final (3 capítulos) com o mesmo elenco principal, dando prosseguimento aos embates entre humanos e alienígenas.
Houve ainda um remake em 2009, V: Visitantes (2 temporadas) com Elizabeth Mitchell, Morena Baccarin, Laura Vandervoort, atualizando o conceito num resultado superior ao original, apesar do sucesso mediano.

Falling Skies (2011 – 2015) 5 temporadas. Série criada por Robert Rodat e Steven Spielberg com Noah Wyle, Will Patton, Moon Bloodgood. Após um ataque fulminante, os humanos sobreviventes se unem em forças de resistência para sobreviver e dar o troco. Produzida pela Amblin de Steven Spielberg.


Gostou da resenha? Aguarde o próximo capítulo quando abordaremos outras formas de Fins do Mundo. Quem viver, verá...

"-Faça como eu: Sorria."

 

Resenha: Krypton – 1ª & 2ª Temporada



Raízes alienígenas

 

por Alexandre César


Série do Sci-Fi Channel tinha potencial não atingido

 


O desenho de produção e a direção de arte eram um 

dos trunfos da série, com soluções criativas...

 

Produzida pelo SyFy Channel e seguindo a linha de Gotham que acompanhou a juventude de Bruce Wayne antes de tornar-se o Batman, Krypton veio com a proposta de ser mais um prelúdio para a história de um herói que já conhecido - como ocorre, por exemplo, em Han Solo: Uma História Star Wars (2018, de Ron Howard). A série conta a jornada de Seg-El , avô do nosso conhecido Superman, em sua tentativa de salvar Krypton do ameaçador vilão chamado Brainiac. Em seus dez episódios a série provou ter força narrativa, não se preocupando apenas em contar a história dos antepassados do Superman. Ela mostra bons personagens vivendo em uma sociedade rachada e frágil por conta de um governo fraco e dominado pelos fundamentalistas religiosos. Estamos em período após uma guerra civil, na qual se proibiu a exploração do espaço - algo do que a Casa de El sempre foi partidária.


Val-El (Ian McElhinney, de capa) bate de frente com 
Daron-Vex (Elliot Cowan) a "iminência parda" do governo...


A série foi descontinuada após duas temporadas. Apesar dos esforços do produtor Cameron Welsh de prosseguir com a série em outros canais, até agora nenhum canal se interessou em dar continuidade à trama.

Primeira temporada (2018) :


Val-El apesar de seu aspecto indefeso, é cheio de recursos...

Logo no primeiro episódio vemos o confronto “religião dogmática x ciência” com a condenação à morte de Val-El (Ian McElhinney, o Obi-Wan-Kenobi” da série), avô do verdadeiro protagonista da série, que desafiou o governo da cidade de Kandor e os sacerdotes da Voz de Rao. Ao adicionar para nós novas informações sobre a organização social e política de Krypton, vemos que o mundo que será destruído no futuro já se encontrava numa situação-limite. 


Muitos espaços arquitetônicos, apesar da tecnologia, tem 
aspecto antigo, remontando à arenas, templos e castelos
 medievais e elementos conhecidos como as superfícies
 inclinadas dos filmes de Christopher Reeve...

Dez anos mais tarde, o neto daquele condenado, Seg-El (Cameron Cuffe, razoável no início, mas melhora com o tempo) salva Daron-Vex (Elliot Cowan), o magistrado chefe de Kandor e defensor da oligarquia Kryptoniada, de um atentado do Zero Negro, uma organização dissidente. Como recompensa, Seg é “adotado” pela casa de Vex (a casa El havia caído em desgraça com a condenação de Val-El, impedindo seus membros de usar o seu brasão) e ganha a filha do magistrado Nyssa Vex (Wallis Day, ótima) como futura esposa numa cerimônia arranjada. Nyssa tem muito mais presença em tela do que o protagonista, sendo astuta, ardilosa, maquiavélica e interessante pela sua dualidade. Ela sempre joga a seu favor, com atitudes imprevisíveis e intrigantes dignas de Game of Thrones.


Casal improvável: Seg-El (Cameron Cuffe), o rebelde
 neto de um dissidente e Lyta Zod (Georgina Campbel),
 a filha da chefe da guarda...

Seg mantém o arranjo com o objetivo de futuramente reabilitar a sua própria casa e vingar-se de Daron, que havia condenado o seu avô à morte. Em segredo ele mantém um romance clandestino com a cadete Lyta Zod (Georgina Campbell), membro da Casa de Zod. Por causa desse relacionamento, Lyta tem sérios atritos com sua mãe Alura (Ann Ogbomo), Primus do Grêmio Militar Kryptoniano e fiel ao legado de suas tradições. 


Nyssa Vex (Wallis Day): Se existe um personagem que faz 
valer a pena assistir a série, é ela, roubando a cena
 do casal principal muitas vezes!

 Embora tenham desenvolvido um bom arco no início, Lyta rapidamente se torna uma personagem cansativa e desinteressante nos últimos episódios desta temporada. Neste período surgem personagens pouco aproveitados , como Adam Strange (Shaun Sipos), Kem (Rasmus Hardiker) - amigo de Seg das ruas de Kandor - e Dev-Em (Aaron Pierre), cadete do Grêmio Militar e amigo de longa data de Lyta (por quem é secretamente apaixonado). Quem tem destaque é Rhom (Alexis Raben), uma mãe solteira kandoriana, e sua filhinha Ona (Tiper Seifert-Cleveland). Ambas são bem desenvolvidas por serem personagens simples e apenas necessárias para guiar a narrativa e produzir o impacto na conclusão de seus arcos.


Arranjo: Seg cai nas graças de Daron-Vex, e é "adotado" 
na casa deste, virando consorte de Nyssa, sua filha...
O relacionamento pai-e-filha não impedem a ambos
 de saberem lutar entre si quando necesssário...

Mais adiante, Seg descobre por meio de seus pais Ter-El (Rupert Graves) e Charys-El (Paula Malcomson) que seu avô lhe deixou uma chave que dá acesso ao seu laboratório secreto: a Fortaleza da Solidão. Ela contém todo o legado científico e um holograma com as memórias de seu avô que ajuda Seg a acessar um portal para a Zona Fantasma, para onde secretamente Val-El havia se transportado no momento da sua execução, simulando a própria morte. Adepto da exploração espacial, Val-El descobriu uma grande ameaça a Krypton: Brainiac (Blake Ritson, em boa performance que, sem a maquiagem, faz o papel do sumo sacerdote da Voz de Rao).  


Obscurantismo religioso: A "Voz de Rao" (Blake Ritson) o 
teocrata que domina o governo e a população de Kandor...

O vilão aparece pouco e quase não entra em ação, mas, quando age, não deixa dúvidas do perigo que significa - embora não tenha dado 100% do seu potencial (até porque, se isso acontecesse nenhum personagem seria capaz de detê-lo...). Um grande mérito para esta performance está na fotografia de Christopher Baffa, James Mather e Simon Dennis, que retratam Brainiac como um vilão ameaçador, destacando sua imponência em meio ao caos reinante. Doomsday (Apocalypse nos quadrinhos e animações) fez uma participação interessante, desenvolvendo sua pro´ria mitologia. Destaca-se a fidelidade do visual dos dois personagens, atestando a competência da equipe de maquiagem de Clare Ramsey e Charlie Bluette e da computação gráfica e animação da Industrial Light and Magic, Ghost VFX, Rodeo FX e Important Looking Pirates (ILPvfx).

Dupla dinâmica: Adam Stange (Shaun Sipos) e 
Seg-El na Fortaleza da Solidão secreta de seu avô...

A série conseguiu desenvolver a mitologia da Casa de Zod e explorou as principais características do que é ser um membro quela casa. O roteiro tomou uma liberdade poética interessante que proporcionou momentos tensos, emocionantes e repletos de ação, potencializados com o surgimento do próprio General Zod (Colin Salmon, ótimo). O personagem, aliás, faz jus a tudo que os fãs conhecem e sabem sobre ele. Este certamente vibraram ao ver os dois antagonistas unirem forças contra um inimigo maior.  

Amigo de Fé e Irmão Camarada: Kem (Rasmus Hardiker)
 e Seg são "parças" de longa data nas ruelas de Kandor...

Como nada é perfeito, devemos observar algumas decisões que a série toma para que eventos seguintes já bem estabelecidos no universo DC aconteçam. Isso prejudica a trama, fazendo-a tomar caminhos mais complexos do que o necessário - às vezes acelerando, às vezes pisando no freio do desenrolar dos acontecimentos -, prejudicando o foco do roteiro, principalmente no que se refere a viagem no tempo.  

 
Heráldica Kryptoniana: Brasão híbrido da união
 das casas de El (de Seg) e de Zod (de Lyta)...
A ótima fotografia usa de várias influências,
 indo do expressionismo alemão...

... ao naturalismo, usando filtros de cor ou, controlando o 
contraste para realçar as texturas e detalhes dos cenários,
 fazendo o barato parecer caro...





Os figurinos de Bojana Nikitovic e Varvara Avdyushko são eficientes. O desenho de produção de Ondrej Nekvasil e a direção de arte conseguiram criar ambientes interessantíssimos, mesclando brutalismo, expressionismo e o high-tech de forma sutil e econômica. A fotografia se sai bem em caracterizar seus núcleos pelo uso de cores em certos episódios, resultando em um visual cuidadoso que destaca o vermelho e o amarelo, além de conseguir uma atmosfera soturna quando mostra a cidade de Kandor. Isso dá à série uma bela identidade visual de acordo com os limites do orçamento, coisa que a música de Pinar Toprak (Capitã Marvel) sublinha, apesar de não ser uma trilha marcante.

Inocência ultrajada: a meiga Ona (Tiper Seifert-Cleveland)
 é adotada pelo clero da "Voz de Rao" com objetivos
 políticos e até, criminosos...

No cômputo final da temporada fica interessante ver toda essa questão política sendo desenvolvida e como as reviravoltas aproximam a série da história que conhecemos e da qual nos importamos apenas devido ao seu resultado (o nascimento de Kal-El e sua vinda para a Terra). O gancho final da temporada, afastando o protagonista e dando a Zod a liderança, funciona satisfatoriamente no estabelecimento de um Elseworld paralelo à mitologia oficial.

Dois inimigos em um: Infectado por Brainiac, a "Voz de Rao"
 começa a por seus planos em andamento...


Segunda temporada (2019):


Família: O General Zod (Colin Salmon) vem do futuro e
 revela um grau inesperado de parentesco com Seg-El...

 Nesta temporada, a relação entre protagonistas e vilões fica mais aprofundada neste universo ampliado. A principal atração da série passa a ser os clássicos vilões do Homem de Aço apresentados na primeira temporada: Zod, Brainiac e Doomsday. Após o desaparecimento de Brainiac, Zod ganhou mais espaço como principal antagonista da série, apesar do roteiro não dar a devida valorização que o personagem e seu intérprete mereciam. Por outro lado, Brainiac mostrou que, mesmo agindo através de Seg-El é um antagonista de peso, dano bastante trabalho e sendo o responsável pelo gancho principal para aquela que deveria ser a terceira e derradeira temporada...

Terceiro Estado: Os "Rankless", setor da base da
 pirâmide social, onde Seg-El passou a maior parte de sua
 juventude, vive sob intervenção policial...

 Doomsday ganha uma história de origem kryptoniana. No episódio 7 vemos, séculos atrás, o seu surgimento como um voluntário para experimentos de guerra. Nos é apresentado seu passado e histórico familiar e observamos a sua transformação naquele que, no futuro, será um dos maiores antagonistas do Superman.

Alura Zod (Ann Ogbomo) resgata a sua difícil
 relação com sua filha Lyta...
Brainiac, quando mostra a que veio, não deixa 
dúvidas sobre quem é o perigo...

Há varias tentativas de agregar valor ao seriado adicionando mais elementos e rostos conhecidos dos fãs dos quadrinhos. O mais estranho deles é a presença de Lobo (Emmert J Scanlan). Ele participa do segundo episódio perseguindo Seg-Ele Adam Strange em uma trama à parte, gerando poucas repercussões no futuro, e com com pouca utilidade para o arco narrativo em desenvolvimento. Ficou a impressão de que o SyFy Chanel não quis incluir o insano personagem efetivamente na história, fazendo apenas um teste, inclusive para uma alardeada possível produção solo - que, pela péssima repercussão, não foi adiante...

Jax-Ur (Hannah Waddingham) é um personagem ativa
 nas tramas políticas da série, conhecendo detalhes
 da origen de Nyssa...
Brainiac, apesarde não estar pleno, tem uma 
presença marcante e intimidadora...

As personagens femininas da série também tiveram bom espaço nessa temporada. A aparente morte de Lyta-Zod (Georgina Campbell) foi uma grande reviravolta no meio da temporada e poderia ter sido um bom final para uma personagem que em pouco tempo se tornou desgastada, algo que não ocorreu com Alura, sua mãe e agora ex- Primus do Grêmio Militar Kryptoniano. Ela abre mão de sua visão militarista, aprendendo a ver o mundo à sua volta em termos menos maniqueístas e compartilhando sua vida de renegada com Dev-Em. Já Nyssa-Vex - talvez a personagem mais forte e promissora da série - continuou a roubar a cena, sendo muito boa a sua química da atriz com Seg-El. É ela que tem um dos melhores ganchos finais na temporada. Teria sido muito interessante acompanhar a jornada pela qual Nyssa ainda teria pela frente.

"Doomsday" tem a sua origem reformulada, dentro do 
contexto da história kryptoniana...
 
"Que qui é isso"? Lobo (Emmert J, Scanlan) tem
 participação sem sentido para a trama...

Para os fãs do Superman, há momentos interessantes e referências que dão um gostinho a mais, como por exemplo, quando Jor-El aparece em um dos episódios, ainda bebê, e recebe o nome da família; quando Adam Strange fala do futuro com o Homem de Aço, ou até mesmo Zod, com sua famosa frase “ - ajoelhe-se perante Zod!”. São acenos para aqueles que acompanham a longo tempo a história do Homem de Aço e gostam da mitologia de seu planeta natal.

Trocas: Ao longo da série, Nyssa, Seg, Kem, Gen.Zod, 
Alura e Lyta formam alianças uns com os outros que pouco
 depois se refazem de outra forma e vice-versa...

Outra referência adicional ao universo do Superman foi a planta parasita Clemência Negra, que surpreendeu a todos ao ser revelada. A planta fez parte de uma arco muito conhecido dos quadrinhos e foi também uma grata surpresa para esta temporada, tendo um papel importante no final de um dos arcos narrativos principais.

Vemos as câmaras de gestação, mostrando a opção
 kryptoniana pela manipulação genética de sua elite...

Além das referências, Krypton também é interessante quando acena para questões políticas, envolvendo tanto lideranças totalitárias, como a de Zod, quanto a união daqueles que se intitulam “a resistência” e tentam abrir os olhos da população para quem realmente é a pessoa que está no comando. Na batalha em Wegtor (uma das luas de Krypton, que ao ser destruída inicia o processo que futuramente levará à reação em cadeia que condenará o planeta...), Jax-Ur (Hannah Waddingham) uma das aliadas da Casa de El toma uma decisão difícil e assume o seu ato. Val-El a destitui por empregar de violência, enquanto as forças de Zod não têm nenhum escrúpulo e não hesita em testar os limites do adversário. Rogue One: Uma História Star Wars (2016, de Gareth Edwards) provou ser válido contar uma boa história de guerra, ainda que fantasiosa, mostrando que guerra é uma coisa naturalmente suja e que cedo ou tarde borra os limites de certo e errado. Isso faz soar hipócrita personagens que declaram que só o inimigo joga sujo, pois eles não sujam as mãos - mas parceiros deles vão lá para fazer o que precisa ser feito. Ora, se fosse aprofundada a questão das decisões difíceis, a temporada poderia agregar muito valor narrativo ao seriado. Mas isso não é aprofundado, surgindo apenas em alguns momentos aqui e ali que são rapidamente ofuscados por uma piada fora de hora ou um efeito especial desnecessário e artificial, na intenção de não “pesar demais o clima” ...

A perda de Wegtor, uma das luas de Krypton, é mostrada
 num momento-chave para a história desse mundo...
 
O CGI de Doomsday é satisfatório para criar um monstro
 intimidatório, cuja presença é marcante, ainda que breve...
 
Krypton se tornou uma grata surpresa, o que nos leva a lamentar a notícia de seu cancelamento antes da sua conclusão. Da forma como ficou, a série termina sua jornada na TV sem seguir o já citado caminho de sucesso de outras produções televisivas da DC Comics, deixando em aberto grandes ganchos para o que viria a ser sua terceira e derradeira temporada: a jornada de Brainiac e do bebê Jor-El na Terra, o surgimento de Darkseid e seus parademônios. A produção não teve o tempo necessário para encerrar a história de forma digna. Resta agora aos fãs torcer para que a DC Universe resgate a série e construa uma terceira e última temporada para este prequel da história do Superman.

O ótimo CGI das paisagens compensa outros 
mais toscos, criando ótimas ambientações...


Esperemos que Rao conceda uma segunda chance ao seriado e Krypton acerte o seu tom, talvez em filmes para o streaming ou até animação, seguindo um caminho mais humano que o jovem Kal-El, o último da Casa de El, aprendeu na Terra, tornando-se assim, o mais humano dos alienígenas.


"E la nave va..."

 


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