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Crítica - Filmes: A Maldição do Espelho



Jumpscare requentado e pouco molho russo


por Alexandre César 


Filme russo emula (muito mal) horror americano 

 

Apesar do título, não tem nada a ver com Agatha Christie...

 
 E mais uma vez tenho o prazer questionável de ver um filme russo (mau) dublado em inglês cuja dublagem parece ter sido feita por uma equipe de fonoaudiólogos, tal é a sua preocupação em dizer claramente as palavras pouco se importando com a interpretação, fora a quantidade de clichês e lugares-comuns do próprio filme.  


Olya (Angelina Strechina) é a adolescente 
heroína revoltada da vez...

 A distribuidora Paris Filmes recebe estes filmes de uma empresa que os distribui nos EUA dublados (pois americanos têm preguiça de ler legendas, hábito que estamos copiando infelizmente) e estas cópias é que são mandadas para aqui. Em alguns casos como em Os Guardiões (2017) o recurso funciona, realçando o artificialismo da trama, mas na maioria dos casos fica apenas ruim mesmo...


Olya tem por seu Artyom (Daniil Izotov) seu perturbado
 irmão, uma ojeriza pouco explicada. Agora, 
reparem no bonequinho do garoto...


No prédio do internato. a antiga proprietária 
(Claudia Boczar) fazia rituais satânicos......

Dirigido por Aleksandr Domogarov (Morra!) A Maldição do Espelho (2019) segue a mesma linha do terror barato,bastante apoiado em jumpscares como A Noiva (2017) e A Sereia: Lago dos Mortos (2018) ambos dirigidos pelo seu compatriota Svyatoslav Podgaevskiy e estrelados por Viktoriya Agalakova (a Scream Queen russa) mas pelo menos é um pouco melhor dirigido, embora não o suficiente para salvar o filme do desastre.


Estereótipos teens: Misha (Yan Alabushev), Sonya 
(Alyona Shvidenkova), Kirill (Vladislav Konoplyov), 
Olya e Alisa (Anastasia Talyzina).


Uma boa sacada é o uso de efeitos físicos aliados à fotografia...

O roteiro da estreante Maria Ogneva se apoia na lenda urbana da “Rainha de Espadas”, entidade que atenderia desejos em trocas para lá de indigestas para os pleiteantes, mas no final das contas o que o filme mostra não é nada de realmente mirabolante comparado com o que já vimos em outros filmes, ficando a tal “Rainha” algo não muito diferente da nossa “Loura do Banheiro” e apesar das diferenças culturais, como os personagens são bem estereotipados na linha de menbros de High School fica fácil acompanhar a história dos irmãos Olya (Angelina Strechina) e Artyom (Daniil Izotov) que traumatizados pela morte da mãe (Violetta Davydovskaya) num acidente de carro, em que morreu ao salvá-los de afogarem-se, gerando revolta na adolescente e repúdio pelo irmão caçula (sentimento que não recebe maiores e necessárias explicações), que cria uma carência obsessiva pela falecida, pois o pai, ausente (do relacionamento e do filme) os matriculou num internato afastado, administrado por Valentina (Darya Belousova) diretora de ar severo, onde os outros integrantes seriam facilmente integrantes de séries como Elite, Riverdale, 13 Reasons Why e etc... tendo Kirill (Vladislav Konoplyov) o mauricinho rebelde que odeia a madastra, a sexualizada Alisa (Anastasia Talyzina) que repudia a mãe ausente e super afim de Kirill (Vladislav Konoplyov) o professor, a gordinha Sonya (Alyona Shvidenkova) viciada em comer e o nerd Misha (Yan Alabushev) bolsista que faz os trabalhos de Kirill por dinheiro.


Alisa e Micha próximos ao espelho que exibe o desenho
 (feito com sangue) da escada, alusão a "Um Portal"...


Artyom revela emseus desenhos, uma "presença" que o ronda...

Tentando se enturmar, os jovens acabam encontrando (obviamente à noite...) uma câmara oculta no prédio, onde segundo as pesquisas na internet de Misha, a antiga aristocrata, dona do imóvel (Claudia Boczar) fazia sacrifícios de crianças para reaver a alma de seu filho afogado, tornando-se após os camponeses invadirem a casa e matá-la, a “Dama de Espadas” e aí os adolescentes fazem pedidos, que obviamente levarão cada um deles a um destino cruel na melhor tradição de filmes de horror adolescente... mas como o desenvolvimento destes é bidimensional, pouco nos importamos com o que aconteça com eles, e da mesma forma, o desenvolvimento pífio da temática central da obra, impede o envolvimento do público com as transformações no relacionamento entre os irmãos, sendo mera conveniência para justificar o desenrolar da história, tornando a redenção da protagonista banal e esquecível.


A direção de arte e a fotografia são os pontos altos do
 filme que criam uma atmosfera mal aproveitada
 pelo roteiro e a direção...

Felizmente apesar de ser um filme de baixo orçamento, o diretor opta por efeitos físicos, opções de ângulos de câmera desfocados , ao invésde um CGI barato, o que faz bastante diferença, além da música de Sergei Stern (Os Canibais) ajudar competentemente a atmosfera que a fotografia de Aleksey Strelov (Phantom) e a edição de Vladimir Markov (Konvert) e a boa direção de arte da estreante Nikita Khorkov, e os figurinos de Oksana Shevchenko (Marshrut postroen) cumprem o papel de caracterizar seus estereotipados personagens como o “descolado”, a “gostozona”, o “inseguro”e etc...



Dietética: Sonya aprende a fechar a boca...

Ao final, se puder escolher, prefira ver o A Maldição do Espelho na TV quando passar (o que não deverá demorar...) ou com som original ou dublado em português, coisa que fizeram com o igualmente ruim O Manicômio (2018) mas que ainda sim, com certeza soará melhor do que com esta dublagem de Google Translator... Acredite em mim. A Rússia com certeza merece um destino melhor do que querer imitar o cinema barato americano.


"- Este beijo foi intenso..."




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